Chapter Three

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Naquele final de tarde eu não pensei em outra coisa, coloquei roupas em minha mochila, comprei algumas botas, jaquetas, blusas grandes, tudo que indicasse que eu era uma mulher experiente em trabalhos de fazenda, apesar da grande mentira.

Fiz várias pesquisas sobre como trabalhar com animais, não virei uma expert, mas com certeza saberia passar por uma possível entrevista. Aquela foi a melhor forma de conseguir entrar naquele lugar. Talvez Amanda sentisse vergonha de mim nesse momento, assim como sinto as vezes, não por trabalhar na fazenda de forma tão braçal, não, longe disso, mas pelos verdadeiros motivos de eu estar fazendo isso.

Quando estaciono meu carro em frente à fazenda com o letreiro grande "Fazenda Lago Azul", meu coração acelera. Não entendi o nome, mas não importa, ao lado tinha "Proibida entrada, terreno particular". Posso ver a imensidão do lugar, com certeza eles têm muito dinheiro.

Um homem vem em minha direção. O grande portão de madeira se abre apenas para que ele saia, bate no vidro do meu carro e eu o abro, sorrindo para ele, que permanece sério.

- Quem é você?

- Vim pelo anúncio de emprego.

- Deixa eu ver teu documento. – Pego minha identidade e mostro a ele. O homem olha para mim, para a foto e então me devolve. – Segue direto até a casinha ao lado da principal. Lá a senhora Francisca vai estar te esperando.

Assinto e ele vai abrir o portão para mim. Sorrio, pelas minhas pesquisas essa senhora é a tal avó. Se eu achava o lugar grande por fora, assim que entro fico surpresa. Não apenas pela beleza e grandeza, mas pela diversidade. Acho que nunca vi tantas árvores frutíferas juntas, tantos animais, homens lidam com cavalos, bois, bodes, porcos, galinhas, não parecia uma fazenda de venda, eram poucos animais, mas com tanta pluralidade de raças que me deixou encantada.

Sem contar a diferença do ar, muito melhor do que a poluição da cidade grande, e olha que nem era tão longe. Cerca de uma hora e meia de distância a eu estava lá. Não foi difícil de encontrar aquele lugar, como eu disse antes, essa família é rica, envolvida com política, o sobrenome deles vive nos noticiários, não é de se estranhar que Beatrice tenha saído impune do acidente.

Quando estaciono onde fui indicada, vejo duas motos paradas em frente. Então desço do carro e entro, lá posso ver um homem sentado em uma cadeira e atrás de uma mesa um senhor.

- Quem é você? – O homem negro pergunta, seu olhar é sério, duro, será que todos aqui são assim?

- Olá, sou Michele.

- Veio pela vaga de emprego?

- Sim. – Quando respondo, escuto a risada do outro homem sentado.

- Moça, não quero parecer mal educado, mas a nossa prioridade são homens. - Franzo o cenho, aquilo não estava descrito no anúncio, o primeiro obstáculo.

- Por quê?

- O serviço que queremos é para cuidar dos bodes, eles sabem ser bem doidos quando querem.

Penso por um instante, não tinha descrito o que seria os cuidados, mas não posso negar nada, o objetivo é estar lá dentro, seja como for, não posso deixar essa chance passar, não agora depois de ter chegado até ali.

- Eu posso cuidar de bodes.

- Claro que pode. – O outro homem diz, desdenhando da minha capacidade, ou não, sei bem o que é aquilo, machismo escroto. Ignoro-o.

- Não posso impedi-la de falar com dona Francisca, mas não posso garantir nada, ela vai pedir minha opinião, não sei se uma mulher daria conta, apesar de parecer disposta e forte.

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