Inside Home

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   A manhã nasceu cinzenta.
   O Sol se contendo em se manter escondido. As nuvens se acumulavam, formando uma grande massa cinzenta, ameaçadora e feia. Era a chuva prometida, ensaiando para cair sobre a cabeça dos ingleses.
   Dentro de seu poço, não via a agitação  do lado de cima, com Ruth correndo e reunindo os inseto-ovelha em um lugar seguro e a banshee juntando as roupas do varal, além do vento que soprava e fazia a grama e os arbustos floridos balançarem, então, apenas se encolhe ainda mais debaixo do grosso cobertor branco e o puxa em direção a seu rosto.
    Ele não sonhava.
    Fazia tempo desde que teve um, e possívelmente, tinha sido um pesadelo. Então ele simplesmente dormia como uma pedra, porque parecia que ele havia juntado todas as noites sem dormir, e agora, Cartaphilus acordava e adormecia de novo segundos depois.
     Dentro da casa, ninguém havia se lembrado do alquimista platinado, no poço, porque todos se preparavam para a chuva que chegava.
   Elias não permitiria que Chise saísse. Ele tinha medo de que no momento em que colocasse os pés do lado de fora, o céu inteiro caísse em sua cabeça. Além dela nunca parecer agasalhada o suficiente para ele.
    Então ele decidiu a deixaria ocupada o máximo possível com seus estudos de magia e os treinos, mas a garota parecia tão cansada quando acordou, que ele simplesmente a deixou na cama.
    Onde ela está até agora.
    Seria um longo dia dentro de casa. Entediante, em alguns momentos, mas seria bom porque eles teriam a chance de ficarem juntos e conversarem, sem que um probleminha mirabolante aparece batendo na porta.
     A chuva caí no meio da manhã.
    Forte como um soco. De uma vez só. Ela molhava a terra fazendo poças, animais do bosque se escondiam em suas tocas e não havia mais pássaro no céu. Dentro de casa, o som dos pingos no teto de telhas e nas janelas, fazia um eco alto.
    Joseph não acordou de imediato.
   Era chocante para quem visse, ele dormindo, com a chuva açoitando seu rosto e molhando sua fina calça e camisola, além do colchão antes macio, agora encharcado.  O copo e o jarro antes vazio, agora estavam cheios novamente.
    O barulho das gotas nos degraus de madeira, ecoavam nos ouvidos de Joseph, os fazendo tinir. Uma careta rude aparece  quando a água começava a fazer uma poça em volta de seu rosto.
    Até que ele abre os olhos. Não!!
   Apenas um deles via o branco murcho do colchão, enquanto o outro permanecia na escuridão, onde ficaria por muito tempo.
    Ele se senta assustado e olha ao seu redor para as pedras que construíam seu poço, os degraus que surgiam das pedras, a mesa de madeira escura com o jarro transbordando. A visão caolha o faz levar a mão até o espaço onde seu globo ocular deveria estar. Mas não havia nada.
    O braço esquerdo não estava lá também.
     Ele se sente a beira do desespero.
    -Mas que... Mas que maldição de lugar e esse ?!! -ele se pergunta levantando com dificuldade fazendo um som incômodo. Sentindo as pernas moles ele se deixa cair novamente.
    As lembranças então começam a piscar em sua mente,  como vagalumes ao cair da noite. A luta contra Elias, a derrota de Olho Cinzento, seu plano falho e sua união com Chise.
   União.
   Ao pensar na palavra ele sente suas bochechas aquecerem levemente. Incomodado, ele afasta os fios molhados dos rosto e o esfrega  com força. Então suspira.
     Olha para o céu. A chuva bate em seu rosto, e escorre por seu pescoço, fazendo um tremor subir por suas costas.
   Preguiçoso Cartaphilus se levanta, devagar dessa vez, e cambaleia até o primeiro degrau. Solta um palavrão por estar tão desajeitado.
    -Quanto tempo eu dormi ?! -diz se apoiando na parede de pedra do poço e forçando os joelhos a se dobrarem e ele subir mais um. Com raiva passa os dedos pelo cabelo encharcado que teimosamente se jogava frente a sua vista limitada.  No topo da escada ele escorrega na madeira, quando se esticava para se firmar na grama e cai.
     -Ai...Mais que inferno!! -cair na  grama pontuda pinicava suas braços e costas. A sensação era de uma lembrança distante, de um passado distante onde as coisas eram menos ruins e essas lembranças eram poucas. Ele se levanta do chão com um sorrisinho- Já senti dores maiores que essa....
   Levantando os olhos, ele vê a casa de dois andares. A casa deles não seria o primeiro lugar que Joseph escolheria, mas ficar nesse não parecia um opção tão melhor.
   -Mas talvez...
   Ele considera a opção, enquanto um trovão estala no céu. Mas balança a cabeça, fazendo o cabelo encharcado grudrar em seu rosto, revira os olhos e caminha em direção a porta de madeira.

It Doesn't Hurt Anymore (One-Shot)Onde histórias criam vida. Descubra agora