Capítulo 2- Legado

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Mesmo rodeada de pessoas, Lia se sentia sozinha. Ela nunca foi uma pessoa que tinha muitos amigos, na verdade, ela mal se lembra quando teve bons amigos. Pensando bem, quem gostaria de ser amigo dela? Lia andava a "contra mão" das pessoas, festas eram algo banal pra ela, adorava estudar, não conseguia "forçar" simpatia com todo mundo, enfim, características que as pessoas normais não gostam e não querem alguém desse tipo por perto.
Assim que entrou na sala, percebeu que todos já estavam familiarizados e conversando, e ela ali, perdida em meio a 32 pessoas.
Quando visualizou aquela sala cheia, algo de estranho começou a agitar em seu estômago, e tinha certeza que não era o café da manhã que tinha tomado; era ansiedade, ansiedade de precisar refazer todo um ciclo que já tinha feito por pelo menos 3 vezes em sua vida, aquele pensamento a matava por dentro, era difícil não se sentir frustrada em relembrar de tudo o que deixou pra trás.
A aula ia começar e o professor deu um bom dia animado para os alunos.

-Bom dia classe!
Praticamente em coro, a sala retribuiu o bom dia.
- Hoje começaremos a estudar novamente, mas antes, gostaria de perguntar se há algum aluno novo presente.
Nesse momento Lia mordeu os lábios de nervosismo, essa era a frase que ela menos queria ouvir, já estava deslocada, agora mesmo que ela ficaria sem graça por completo. De qualquer modo, Lia se encheu de coragem e levantou sua mão.

- Olá senhorita, qual é o seu nome?
- É Lia. Lia Bernoit
- Muito prazer em conhecê-la, se apresente um pouco pra turma, por favor.
O dia mal tinha começado e estava sendo totalmente desconfortável em diversas formas pra ela.
- Bem, meu nome é Lia, moro aqui na cidade, e tenho 16 anos.
- Ótimo, pode se sentar - Disse o professor com uma cara meio sem graça.
Ela estava envergonhada, mas sabia que uma hora ou outra teria que passar por isso.
-Bom turma, ano novo, série nova, e eu gostaria de perguntar algo a vocês pra iniciar esse ano de maneira reflexiva. O que vocês tem feito pra marcar sua existência no mundo?
Apesar de não esboçar nenhuma reação, aquilo foi um tapa na cara de Lia.

- Eu não sou o melhor professor do mundo, na realidade nem quero. Gostaria de ser, acima de tudo, um professor que o aluno nunca se esqueça, porquê por mais que eu possa ser legal, ou chato para alguns, eu vou ser lembrado, de um jeito ou outro. E você? terá algo pra não ser esquecido? terá pessoas que não te esquecerão?
De repente, a aleatoriedade de como o professor puxou esse assunto não foi tão ruim, pensou Lia. Nessa hora, a sala ficou em silêncio, mas sua mente gritava, era como se aquelas frases dessem um tiro certeiro nela, e a angústia tomava conta de seus pensamentos.

- Qual o meu legado?

Era apenas a primeira aula, e já tinha acontecido tanta coisa que poderia escrever um livro só com esses infortúnios matinais, e pra melhorar toda situação, sua cabeça estava a mil por hora, era o ex lhe infernizando, lata de lixo se mechendo sem uma explicação lógica, se sentindo envergonhada na classe e o seu legado inexistente, definitivamente aquele seria um ano difícil.
A aula de biologia finalmente acabou, era um alívio pra Lia. Ela até que gostava, mas não ao ponto de querer passar 1 hora assistindo sobre. Assim, que bateu o sinal ela se levantou e foi sair da sala com seu material, porém, todos ficaram nos seus lugares, encarando ela, que por fim, percebeu que aquela escola não havia troca de sala, então todos continuavam ali. Assim que viu aquela cena, sentiu suas bochechas corarem e sentou rapidamente na cadeira; Lia ouviu algumas risadas, mas nada que fosse algo super alto ou com um tom depreciativo em relação à ela.
Que situação! um dia, ou melhor, algumas horas, pareciam uma eternidade. Quando estava de cabeça baixa, Lia sentiu alguém chegando perto dela, e logo levantou a cabeça, e viu que era um garoto que estava sentado no fundo da sala.

- Oi
- Olá - disse Lia com a mão nas bochechas pra ver se estava corada.
- Percebi que você está meio perdida hoje.
- Nossa, que grande percepção a sua.
O garoto deu uma risada baixa, como se gostasse da ousadia dela.
- Olha, se precisar de ajuda, é só me chamar, meu nome é Welington, mas pode me chamar de Wel.
- Muito obrigada pelo convite, mas recuso por agora.
- Tudo bem.

Wel saiu e foi em direção à sua cadeira, quando ele estava quase chegando perto, Lia lembrou da lata de lixo amarela, e rapidamente chamou ele pra ver se ele sabia algo.

-Errr…
-Pode falar
-Assim, você sabe de alguma história estranha na escola? - Lia queria perguntar, mas estava com medo de que ele pudesse pensar que ela era maluca.
-De que tipo?
-Não sei, uma história estranha como assombração, morte, perseguição, etc...
-Bem, essa escola aqui é uma das mais normais que eu conheço. O mais estranho que aconteceu foi um garoto da primeira série ter escorregado e ter quebrado o braço no corredor 3.
-A… entendi, era só isso mesmo, obrigada.
-De nada senhorita Bernoit.
-Pra mim foi uma honra senhor.

Os dois olharam um pro outro e riram, com toda certeza, sarcasmo era especialidade deles.
Com o passar do tempo, finalmente chegou a hora do intervalo, e Lia estava determinada a investigar aquela lixeira de uma vez por todas.

Change your life (título provisório)Onde histórias criam vida. Descubra agora