Seja Minha

Capítulo Um

Ajeito lentamente a manga do meu uniforme, esse não é um dos meus dias favoritos, mas é o que tenho pra hoje, resta-me trabalhar e trabalhar. Cruzo os braços rapidamente e espero o meu chefe chegar à sala e como sempre ele vai vistoriar nossos uniformes. Eu fico ereta. É impossível não ficar ereta nessas situações. Odeio desapontar pessoas. E nossos uniformes devem estar impecáveis. Eu visualizo rapidamente a minha saia de empregada domestica. Ela está perfeitamente passada. Isso me conforta.

Quando volto para a minha posição original, acabo pegando parte da conversa de algumas garotas ao meu lado. Uma delas está opondo-se a trabalhar fora da cidade. Algumas vezes somos enviadas para longe da cidade. Eu não gosto muito também de trabalhar fora das redondezas, mas somos obrigadas. Sem trabalho, sem dinheiro. E eu preciso sustentar-me.

- Cabeças erguidas. Não quero ninguém com mau humor. - diz Senhor Collins. Meu chefe e inevitavelmente autoritário e gordo. Ele passa por mim e para por alguns segundos. - Sua saia está mau passada.

Eu prendo a mandíbula de raiva.

Ele termina de observar as outras garotas e entoca-se na sua sala, mas todas tem que ficar paradas em fila indiana para entrarmos na sala e recebermos o endereço da casa que iremos limpar.

A fila começa diminuir até chegar a minha vez. Eu entro acuadamente na sala e posiciono-me diante da mesa. E ele tosse. Não uma tosse qualquer, uma tosse de cachorro horrível.

Eu dou alguns passos para trás e endireito-me. Droga! Mais uma tosse dessa, e você vai perder um dos pulmões.

Ele limpa rapidamente a boca com um lenço de tecido e estica um papel cartão com o endereço. Eu pego o papel com a ponta dos dedos e analiso o endereço.

Droga! É doutro lado da cidade... Nem é na cidade!

Eu abaixo a cabeça, mesmo estando uma fera por dentro. Mantenho minha compostura por fora. Caminho calmante pelo corredor e dirijo-me para a garagem, aonde Zack vai leva-nos em uma Kombi. Entro e sento-me bem no fundo. Sei que todas vão descer primeiro.
Vejo todas descer e eu fico sozinha com o Zack na van!

- Então, Liza, para aonde? - diz Zack. Eu retiro o papel do meu bolso e entrego para ele que gorjeia um som estranho. - Sério? Isso fica na parte rural pelo menos?

Eu dou de ombros. Eu olho fixamente para o retrovisor interno, na esperança de ver o seu sorriso, mas vejo muito mais. Ele morde lentamente o lábio inferior e eu desvio o olhar.

Oh! Droga! Não faça isso de novo, Zack. Não sabe o quanto isso me deixa desconfortável.

Ele coloca o carro em movimento e eu posso finalmente concentrar-me em algo mais confortável.

Atendo-me a paisagem. Vejo a cidade dissipar-se e a zona verde aparecer. Eu franzo o cenho. É bem mais distante do que eu pensava.

Zack para a Kombi e abre um sorriso. Eu abaixo a cabeça. Por que isso sempre acontece comigo? Despeço-me dele, mas Zack continua humilhando-me com seu olhar carinhoso demais. Será que ele sabe? Não. Ele não sabe. Parte de mim queria que ele soubesse que eu tenho uma quedinha por ele.

- É bem ali, Liza! - diz ele apontando um casarão branco e bem convencional, na verdade parece ser bem antigo. Tem dois andares e inúmeras janelas. - Até mais, Liz. - continua ele e eu derreto-me toda por dentro, mas não exibo isso.

Ele entra na Kombi e distancia-se consideravelmente de mim. Eu deslizo os meus dedos até um ponto confortável na minha mochila que contém os produtos de limpeza, que geralmente a empresa onde eu trabalho. Tendo ajustar o balde em minha mão, mas não consigo, então tombo minha mochila bem pesada e caminho em direção a casa. Passo por uma ponte de madeira caindo aos pedaços e tento não visualizar ela partindo-se no meio e eu caindo nesse rio de profundeza incalculáveis. Caminho por mais uns vinte ou trinta metros e chego à entrada da casa. Passo no caminho que divide o jardim em dois belos gramados. E chego finalmente à porta.