boa leitura mozamores 🌸
{0.1 | atrás do muro}🌸 🌸 🌸
– Você é estranha
Lili estava acostumada a ouvir isso. Mesmo vindo de tua melhor (na verdade, única) amiga.
Mads não tem papas na língua e era a única que entendia, ou aguentava. "Eu sei que eu sou estranha. Nem precisa ficar repetindo", pensou Lili
– Você fica aí todo intervalo, como acha que vai conseguir se enturmar? As pessoas não vão correr atrás de você!
Madelaine era a única pessoa que Lili conhecia ali.
As duas amigas tinham mudado de escola juntas, quando terminaram o fundamental e passaram para o ensino médio, já que a escola onde tinham estudado, não oferecia os últimos anos.
Agora, numa escola nova, começando um curso novo, parecia a oportunidade perfeita para deixar para trás um passado de "esquisitices".
Mas o que Mads não entendia era que Lili achava que as coisas não podiam mudar.
Não totalmente
– Mads, me deixa ficar aqui um pouquinho, tá?
– Mas, Lili, já faz mas de um mês que as aulas começaram e você ainda não conversou com praticamente ninguém! Têm umas meninas legais na nossa sala, você viu? Elas vinheram puxar assunto comigo na fila da lanchonete, perguntaram de que escola eu vim... Então, se você ficar aqui fora todos os dias, nunca vai conhecer ninguém!
A verdade é que Lili não queria mesmo conhecer ninguém.
Pra quê? Quem ia querer conhecer uma menina gordinha, que usa óculos para ler e gosta de filmes em preto e branco?
Suas chances de encontrar amigos nessa nova escola eram tão pequenas quanto a de ter feito amigos nos 10 anos que tinha passado na outra.
O que tinha mudado além do endereço? Nada, a não ser o fato de haver junto mais gente alí capaz de não gostar dela.
Lili não era uma menina amarga. Do alto de seus 14, quase 15 anos, tinha aquela sensação de que a vida se decidia naquele momento: ser amada, ou odiada, daquele momento em diante
Será que dava pra mudar alguma coisa ainda? Ou já?
O engraçado é que Madelaine, sua única amiga, não tinha sido uma escolha
Madelaine era do tipo de garota que poderia ser a melhor amiga de qualquer pessoa: extrovertida, divertida, a colega que todo mundo queria ter como amiga, aquela que fazeis piadas, a palhaça da turma.
E já tinha ficado com um menino, coisa ainda inédita para Lili.
Duas pessoas completamente diferentes que se davam bem. Não tinha como se dar mal com Madelaine.
As duas tinham uma relação amigável no ensino fundamental, mas nunca tinham sido amigas de ir uma na casa da outra e trocar segredinhos.
Mas Lili não podia desperdiçar a chance de conhecer ao menos uma pessoa que iria para a mesma escola que ela, mesmo que essa pessoa não fosse a mais chegada possível.
Chegada... como poderia? Não tinha ninguém realmente"chegado". E daí? Tinha sempre o diário, os filmes, a música, que lhe faziam companhia.
Se alguém realmente quisesse ser sua amiga, ia ter que derrubar um muro, o muro de segurança que tinha começado a construir no 6° ano, quando tinha começado a engordar.
Ah, os quilinhos a mais... Seus colegas nunca se esqueciam deles, nunca conseguiam ver além...
O lindo cabelo loiro, ondulado e na autora dos ombros, os olhos verdes, as sobrancelhas perfeitas... Ninguém nunca reparava nisso.
Quem repara em sobrancelha? Quer dizer, às vezes viam além, pois adoravam colar dela nas provas de matemática. Aí todo mundo virava melhor amigo.
Lili não queria se meter em encrenca de novo. Não queria chamar atenção.
Assim, com uma chance de começar tudo de novo, sem conhecer ninguém, sem que ninguém a conhecesse, ia ser muito mais fácil.
As primeiras provas geralmente definem quem é quem: quem tira nota baixa, quem é o CDF, quem é o mais ou menos.
E ninguém poderia tirar isso de Lili: ela era da turma dos CDFs e se orgulhava disso.
Não gritava pelos corredores, mas também não se escondia, se perguntada.
E a primeira prova estava chegando, logo na semana seguinte: seria a de matemática.
– Preciso dar uma lidinha aqui na matéria da semana que vem - Respondeu Lili, sem levantar os olhos do caderno
– Aí, hoje é sexta e a prova é só na terça! E é só matéria velha! Você não vai tirar 10, vai tirar 11! O professor vai ficar te devendo nota! - exclamou Mads, tendo um chiliquinho
Lili deu uma risadinha. Duas pessoas tão diferentes quanto ela e Madelaine, juntas apenas por uma coincidência geográfica.
– Tá bom, vou te deixar em paz - respondeu Mads, conferindo quanto dinheiro tinha no bolso. – quer alguma coisa da lanchonete?
– Não, obrigada - respondeu Lili com um sorriso.
Vendo a colega se afastar, Lili reparou na frete da sua escola.
Ela era um lugar muito agradável, com um lindo e bem cuidado gramado, cercado por arbustos e árvores.
Uma delas, em especial, parecia estar ali há centenas de anos: enorme, com flores amarelas, sua sombra se estendia por um grande trecho do gramado, onde a grama, talvez por ficar tanto tempo no escuro, estava mais rala.
Lili andou até lá e percebeu um pedacinho de tronco que dava um ótimo banquinho. Sentou-se ali e olhou em frente, onde ficava o estacionamento.
Ali não se ouvia a música que tocava no intervalo, nem mesmo o barulho dos adolescentes.
Nem parecia que estava numa escola.
Dava para ouvir o barulho do vento nas folhas e ocasionalmente um canto de passarinho.
"Vou começar a trazer meu diário para me sentar e escrever aqui nos intervalos" pensou ela, satisfeita
Fechou os olhos e respirou profundamente. Ela adorava estar sozinha com a natureza.
Apoiou-se na árvore, inclinou a cabeça e olhou para cima: os galhos faziam desenhos em contraluz no céu azul.
O sinal do fim do intervalo a acordou do devaneio.
Apressada, ela se virou e correu até a entrada da escola, subindo as escadas da porta principal.
A agitação do corredor fez um contraste com o momento de silêncio que tinha acabado de experimentar.
Definitivamente, o silêncio era melhor que aquilo. "Aí, 14 anos e já cansada de viver em sociedade! Acho que já nasci velha", pensou Lili, com um sorrisinho sarcástico meio escondido no rosto.
🌸 🌸 🌸
Primeiro capítulo aqui pra vocês 💖
Amo vos,
Até o próximo
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Brigas, bilhetes e beijos | α∂αρтαçãσ ѕρяσυѕєнαят
RandomLili acaba de chegar na escola nova. Ao contrário de tua amiga Madelaine, ela quer passar despercebida e não pensa em fazer amigos. O mais seguro mesmo é se fechar, para não sofrer com os apelidos que sempre a acompanharam: "gordinha", "loira aguada...