Estação 2 - Jacinto

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12/09/2017 - 06:00 AM.

Terça-feira.

O som do apito havia começado, Hyungwon automaticamente despertou e abriu os olhos.

Se apressou a levantar do banco e observou as pessoas ao seu redor.

Era o trigésimo primeiro dia naquele lugar e sua quinta terça-feira repetida. Um rapaz tocava violão em um banco próximo, e como sempre uma mulher o xingava, pedindo para parar.

“ — Estamos chegando a estação Jacinto. Por favor, não se esqueçam de seus objetos no guarda-volume.”

Novamente o assistente transmitia seu aviso, apenas mudando o nome da estação. Ao ouvir aquilo, Hyungwon suspirou. Não gostava daquele mundo em específico, já que na maioria das vezes morria de alguma maneira muito boba.

Andou em direção a saída, sentindo uma leve dor na cabeça causada pela ação repentina.

12/09/2017 - 11:00 AM.

Terça-feira.

A manhã passou tranquilamente enquanto Hyungwon caminhava pelas ruas, evitando ao máximo passar perto dos lugares que já havia sofrido algum acidente antes.

Sabia que era impossível escapar da morte, mas não custava dificultar um pouco o trabalho dela.

Seus passos eram lentos, ele não tinha pressa já que não possuía um destino. Quando percebeu, já estava ao lado de um pequeno parque, ao se aproximar notou um rapaz sentado na caixa de areia do local. Não queria incomodá-lo, mas quando começou a se afastar, ouviu pequenos soluços.

Agiu em modo automático, sentando ao lado rapaz, sem perceber suas próprias ações.

— Ei, você está bem? — perguntou se virando para o outro.

Ele se assustou um pouco, mas não o encarou de volta.

— Sim, eu não percebi sua presença, me desculpe. — disse totalmente baixo.

Hyungwon não conseguia simplesmente ignorar aquilo, por isso insistiu em manter a conversa.

— Às vezes desabafar com um estranho faz bem — comentou — Como é seu nome?

— Olha, eu não sei que tipo de brincadeira é essa, mas até onde eu me lembre, você está com raiva de mim. — disse rapidamente, o tom de sua voz havia aumentado.

Hyungwon sentiu-se confuso, não lembrava de tê-lo visto antes.

— É provável que você esteja me confundindo com outra pessoa. — falou enquanto o encarava.

— Sério mesmo, Hyungwon? — a raiva acompanhava suas palavras — Eu entendo o motivo de você estar irritado, eu agi por impulso e abandonei vocês. Eu traí todos por causa de um amor que na verdade era uma completa ilusão.

Hyungwon suspirou baixinho, era a primeira vez que se encontrava com alguém que o conhecia. Tinha se esquecido que mesmo em mundos diferentes sua existência ainda estava lá, ele tinha uma vida em cada dia, mesmo não se lembrando delas. Aquela era a oportunidade perfeita para conhecer um pouco mais de sua vida de terça.

— Eu sinto muito por isso — pediu, entrando na história — Você pode me contar o que aconteceu depois?

— Eu estava cego, ok? Eu li suas mensagens, li as mensagens do Hoseok e mesmo ao saber que Changkyun estava morto, não consegui reagir — iniciou de cabeça baixa — Eu me senti totalmente sem chão, quando vi Hyunwoo ir embora apenas o segui. No início ele aceitou minha presença, mas depois simplesmente disse: “ — Kihyun, você é a pessoa mais idiota que eu já conheci, trocou o melhor amigo por alguém que apenas te usou. Eu posso ser uma péssima pessoa, mas você está no mesmo nível. É melhor você sumir da minha frente.”

Hyungwon observou a expressão do outro, sentiu-se aliviado por ter identificado seu nome.

— Ficará tudo bem, você só precisa esperar tudo se normalizar. — falou se aproximando do rapaz. Mesmo um pouco inseguro, o abraçou.

— Eu não sei o que fazer, Won… Promete tentar falar com Hoseok? Eu não sei se consigo encará-lo novamente. — pediu Kihyun, começando novamente a chorar.

Hyungwon não poderia prometer aquilo. Apenas havia encontrado com Hoseok dentro do trem, no mundo anterior. Mas naquele dia não fazia ideia de onde ele estava, muito menos como achá-lo.

— Hyungwon? — Kihyun chamou sua atenção — Por favor!

— Tudo bem. — Hyungwon prometeu enquanto seu peito doía.

Viver em um mundo onde ninguém o conhecia era fácil, mas lidar com pessoas que já o conhecem sem saber que ele era como um impostor naquele lugar por um dia era completamente insano.

Após um tempo, se despediu do rapaz. Não tinha entendido muito bem a história dele, mas sentiu o arrependimento em cada palavra dita. Era difícil para ele se acostumar com aquilo, mas se tentasse ajudar, o que iria acontecer?

12/09/2017 - 10:08 PM.

Terça-feira.

A lua já estava iluminando as ruas e nenhum sinal de perigo estava presente. Hyungwon desejava ter esperanças de terminar um dia sem morrer, talvez isso quebrasse aquele ciclo. Mas após lembrar do dia que morreu dormindo, suas esperanças sumiram como uma fina camada de poeira levada pelo vento.

Sentiu uma pequena vibração na barriga, começando a reclamar de fome. Lembrou que não havia comido nenhuma vez durante o dia. Não dava muita importância para aquilo, já que não tinha lógica manter-se saudável sendo que iria morrer.

Hyungwon caminhou entre as ruas e entrou em um pequeno restaurante noturno. Não tinha muito dinheiro na carteira, mas era o suficiente para comer bem.

Sentou-se no balcão e pediu um pequeno lanche. Já não se lembrava quando tinha sido a última vez que saboreou um bom fast food.

Não demorou muito até o preparo do alimento ser concluído. A vontade só aumentou quando sentiu o cheiro da carne, com toda certeza voltaria ali mais vezes.

Hyungwon comeu rápido demais, fazendo um grande pedaço do pão entalar em sua garganta.

Ao começar a tossir, tentou desesperadamente chamar a atenção da mulher do balcão.

Já estava ficando sem ar quando a mesma começou a se aproximar.

— Minha nossa, você está bem? Eu irei chamar a ambulância! — disse enquanto corria para pegar o telefone.

Hyungwon não conseguia mais focar em nada ao seu redor, e quando a mulher pegou o telefone já era tarde demais.

A conexão quebrada (2Won)Onde histórias criam vida. Descubra agora