Estação 4 - Centáurea

75 29 16
                                    

14/09/2017 - 06:05 AM.

Quinta-feira.

“ — Estamos chegando a estação Centáurea. Por favor, não se esqueçam de seus objetos no guarda-volume.”

Todos olharam para Hyungwon quando o viram cair assustado do banco. Havia acordado com a voz do assistente, mas não entendia o motivo de não ter ouvido o apito.

Ao se levantar, as luzes do trem piscaram. Seus olhos foram de encontro às pessoas ao seu redor, nenhuma delas se importaram com aquilo. Então apenas deu de ombros e saiu da estação.

As ruas pareciam menores, já que os veículos formavam filas por causa do trânsito. Um acidente de carro havia acontecido, sendo a razão pela quantidade de pessoas acumuladas naquela região.

Hyungwon já sabia o que estava acontecendo, na primeira quinta-feira que passou por ali sua curiosidade falou mais alto, fazendo-o seguir a multidão. Aquilo resultou em um carro explodindo em sua frente, o levando de volta para o trem em menos de uma hora após renascer.

Continuou a caminhar entre as pessoas, precisava sair dali, não era seu objetivo virar um churrasco pela segunda vez. Quem dera se fosse igual aos desenhos animados, onde apenas virava pó. Na vida real a dor era insuportável, a pele derretia rapidamente mas era possível sentir a eternidade em cada segundo.

Ao começar a atravessar a rua, avistou um rapaz ao lado do carro que havia explodido anteriormente. Começou a se desesperar.

— Não, não, não! Ei! Saia daí! — gritou, mas sua voz se perdia entre tantas outras.

Hyungwon sabia que iria morrer se chegasse perto, mas ele renasceria depois. Então apenas ignorou os próprios instintos e correu em sua direção.

— Ei! Saia! — disse tentando alcançar o braço do rapaz, que até então estava de costas — Vamos, esse carro irá explodir.

Quando o outro notou uma mão puxando-o, se virou curioso.

— Hoseok? — Hyungwon disse automaticamente, logo se arrependendo por falar o nome do rapaz.

— Você me conhece? — Hoseok perguntou.

Não restava tempo para explicações, então apenas o puxou para longe.

Antes de se afastarem por completo, a explosão aconteceu. Uma cor laranja avermelhada se espalhou de uma maneira rápida, atingindo as costas de um dos dois.

— Puta merda! Você está bem? — Hoseok se aproximou de Hyungwon, mas paralisou ao ver o estado do rapaz.

A dor era insuportável, e naquele momento desejava ter morrido. Não conseguiu responder, muito menos manter o equilíbrio do próprio corpo.

14/09/2017 - 01:05 PM.

Quinta-feira.

As paredes eram claras demais, dificultando a visão de Hyungwon. Ao olhar para o lado, Hoseok o encarava em silêncio.

— Fico feliz que tenha acordado. — disse sorrindo.

Pequenos flashbacks passaram pela sua mente rapidamente, fazendo-a até mesmo doer.

— Você está bem? Suas costas estão péssimas. — falou com um semblante triste.

— Irei ficar. — Hyungwon respondeu. Sua voz havia saído falha, mas apenas ignorou aquilo. Não sentia vontade de se esforçar.

— Cara, eu quero muito te agradecer. Você salvou a minha vida — falou rápido demais — Mas como sabia meu nome?

Hyungwon não fazia ideia de como explicar aquilo.

“ — Eu sou um cara que morre todos os dias e vive em sete mundos diferentes. Eu te conheci em um outro mundo onde você era um enfermeiro que me ajudou. Não me importo se você irá acreditar nisso ou não, você se esquecerá de mim em breve de qualquer maneira.” — pensou.

— Eu não sei, ouvi outra pessoa chamar seu nome também, então apenas tirei minhas próprias conclusões. — respondeu por fim.

— Ah, fico feliz por isso. Mas estou triste em te ver assim — Hoseok falou sincero — Eu estou me sentindo totalmente culpado.

— Eu ficarei bem, já disse  — Hyungwon apenas repetiu a primeira fala — Não se culpe, acidentes acontecem, não é?

— Cuide bem do seu machucado, qualquer coisa pode me ligar. Eu deixei meu número anotado em um papel e o coloquei dentro de sua carteira — Hoseok falou com um pequeno sorriso em seus lábios, já se levantando — Eu preciso ir, minha namorada está me esperando. Até breve!

Hyungwon apenas assentiu, não conseguia imaginar como toda a família do rapaz estaria se soubesse que ele quase havia morrido.

Ele sabia que na próxima quinta aquilo iria acontecer novamente, mas dessa vez estaria lá.

Independente de quantas vezes precisasse morrer ou se machucar, se tivesse uma chance de ajudar alguém, não iria pensar duas vezes.

14/09/2017 - 09:05 PM.

Quinta-feira.

Hyungwon já estava cansado de ficar deitado, mas suas costas doíam muito para tentar fazer algo útil. Já era noite, concluiu que morreria pela segunda vez seguida em uma cama.

Quando olhou para a pequena mesa ao seu lado, avistou sua carteira. Estendeu a mão para pegá-la e a abriu logo em seguida.

O número de Hoseok realmente estava lá e como sabia que aquele papel também iria desaparecer junto às lembranças do outro rapaz, decidiu tentar decorar a sequência de números. Um dia poderia precisar daquilo.

Após alguns minutos, uma mulher havia entrado no quarto.

— Olá Chae, eu estou aqui para aplicar o medicamento da noite. É provável que você tenha alta daqui alguns dias. — falou o encarando.

Hyungwon queria rir quando ouviu que ficaria naquele local por dias, quem dera se conseguisse. Mas resolveu apenas assentir, não queria ser diagnosticado como louco.

A mulher se aproximou e posicionou uma agulha em seu braço.

— Não irá doer muito, pelo menos não agora. — disse enquanto sorria, fazendo o rapaz ficar completamente confuso.

Não demorou muito até sentir um leve formigamento em seu braço.

— Sabe Chae, eu realmente odeio esse hospital. Não é nada pessoal, mas eu irei derrubá-lo completamente, mesmo que eu tenha minhas mãos banhadas em sangue inocente — a mulher começou a rir baixinho — Espero que você descanse bem.

O formigamento havia aumentado, Hyungwon não conseguia se mexer direito.

Ao observar a mulher saindo, tentou se levantar, porém foi uma ação completamente inútil.

Sentia até mesmo seu pescoço endurecendo, dificultando sua respiração. Fechou os olhos e respirou devagar, não sabia o que era aquilo mas já tinha noção para onde voltaria.

A conexão quebrada (2Won)Onde histórias criam vida. Descubra agora