O rapaz também não se move, parece que não fui a única que senti esse momento. Puxo o ar de volta aos meus pulmões e pisco algumas vezes.
— Sinto muito — sussurro. Minha voz sai falhada, minha boca está totalmente seca.
Ele sorri e passa a mão gentilmente pelas minhas costas antes de se afastar. Fico imobilizada, sentindo fervilhar o caminho que traçou.
— Está tudo bem.
Assinto e me direciono para a porta, pronta para deixar a sacada e achar outro canto para me esconder, mas ele segura meu pulso.
— Ei, pode ficar — diz. — Não quero atrapalhar seu esconderijo.
Olho para a porta e para o rapaz que me encara. Lá fora posso encontrar minha família e o risco é bem maior, ficando aqui o único risco que corro é que ele me delate para Dandara. Até que eu me lembro que ninguém sabe quem eu sou, ninguém sabe que estou viva.
Caminho até a grade novamente e estou pronta para ignorar sua presença, mas ele não parece concordar com isso.
— Suponho que sua intenção era se parecer com uma rosa — um movimento sutil com a cabeça indica que está falando da minha roupa.
— Bem, o tema da festa são flores.
— Então eu diria que és uma bela pétala — ele responde sério.
Franzo as sobrancelhas tentando entender se aquilo foi uma tentativa de me elogiar. O rapaz balança a cabeça e suspira alto, se encostando ao meu lado na grade.
— Me desculpe, eu sou péssimo com isso. — Sua voz soa realmente decepcionada.
— Realmente — murmuro baixinho, contendo um sorriso. — É por isso que está se escondendo?
— Parece que cheguei na idade de casar — ele coloca as mãos nos bolsos da calça e dá de ombros. — Minha mãe quer me apresentar todas as moças solteiras neste salão, porém não sou bom com esse tipo de conversa.
— Pobre coitado — dou uma risada nasalada. — Mas se continuar com esses cortejos, sinto informar que vai chatear sua mãe.
O rapaz me olha com as sobrancelhas levantadas, surpreso.
— Você está tirando sarro de mim, senhorita?
— Tenho certeza que se casar não deve ser a pior coisa do mundo. E tem muitas moças lindas hoje aqui.
— Não quero me casar com alguém só pela beleza ou para agradar minha mãe — ele contorce o rosto formando uma careta. — Quero me casar por amor.
Lanço um olhar cético em sua direção.
— O que foi? Não me diga que não acredita em amores verdadeiros.
Balanço a cabeça e entrelaço as mãos, mexo no anel que era de minha mãe.
— Acredito. É só que... sonho há tantos anos com isso que não sei mais se meus sonhos ainda são válidos.
Ergo o olhar no mesmo segundo que me dou conta que falei demais. Ele me encara com pesar e eu simplesmente odeio esse olhar.
— Uou — solta uma lufada de ar. — Você compartilhando sua vida comigo e eu nem sei seu nome.
Abro um sorriso arrogante e agradeço por sua indireta brincalhona.
— Não vou dizer meu nome.
— Ora, sendo assim, não direi o meu também.
Faço um som debochado e me viro de frente para a grade, admirando a vista.
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Um coração como o seu - Livro 1 - AMOSTRA
FantasyArabella viu as chamas consumirem com a vida que conhecia. De sucessora da Corte Norte passou a ser a criada particular de Dandara, a ardilosa esposa de seu tio, quando foi compelida a escolher pela vida em troca de seu título depois de seus pais f...