Ripped Out

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As cortinas não são abertas, mas a voz cheia de ódio que ouvimos me faz abrir os olhos assustada.

— Ficar de conversinha a noite inteira não vai fazer com que você tenha um futuro! — Diz Dandara.

O rapaz passa lentamente a mão pelas minhas costas ao notar meu pequeno sobressalto depois do reconhecimento daquela voz dura. Por um momento penso que seria mais eficiente para não ser notada se eu também ficasse colada a parede igual a ele, mas isso custaria muitos movimentos e não podemos arriscar que as cortinas se mexam nos denunciando.

— Mãe — ouço Remy choramingar — eu não via minhas amigas fazia meses. E eu não tenho ninguém da minha idade naquela corte para conversar...

Sua reclamação é interrompida pelo estalo de um tapa, me encolho com o barulho. Fico agradecida por estar encostada em alguém ao escutar um soluço baixo vindo de Remy.

— Pare de reclamar! Você sabe muito bem qual é a sua missão aqui, e não é rever suas amigas — Dandara rosna.

— Ele me cumprimentou, depois eu tentaria uma dança, eu... — Remy tenta se explicar, a voz cortada por causa do choro.

A Senhora do Norte bufa alto e Remy se cala.

Paraliso, odeio saber que Dandara é capaz de erguer a mão para Remy. Ela já me castigou por desobedecê-la muitas vezes, mas não consigo acreditar que faz o mesmo com a própria filha. Não quero acreditar que seu coração é tão duro a ponto disso.

— Já que não presta para fazer o que lhe foi pedido, vá para o seu quarto.

Ela não dá tempo para uma resposta e em seguida ouvimos seus saltos tintilarem contra o piso de mármore, voltando para o salão.

Voltar para o quarto. Remy vai voltar para o quarto e eu não vou estar lá.

Tento me afastar do rapaz o empurrando quando me dou conta que preciso correr para chegar lá antes dela, mas ele me segura com força para que eu não saia do lugar. Olho para cima e lhe lanço um olhar de súplica, ele apenas sibila "espere". Paro de tentar me desvencilhar quando me dou conta de que apenas ouvimos os passos de uma das pessoas se afastando, e que Remy ainda está parada no corredor. É possível ouvir seus soluços baixinhos, me pergunto o quão perto ela está.

Depois de alguns minutos ouvimos quando ela vai embora, e quando fica totalmente em silêncio de novo, me afasto dele.

— Preciso ir — digo. Minha voz embargada, quase desesperada demais.

Preciso chegar ao quarto antes dela, preciso...

Ele segura minha mão, seus olhos brilhando em confusão.

— Mas nós íamos....

Puxo minha mão da dele em um movimento rápido e abro a cortina saindo dali. Não penso muito no que estou fazendo, apenas me direciono para o salão, indo pelo mesmo caminho que vim para cá. Poderia tentar achar outra saída, uma que não me fizesse passar novamente pelo baile, mas isso levaria minutos demais até me localizar nesse castelo enorme que parece mais um labirinto.

Com a cabeça baixa e erguendo levemente a saia do vestido, adentro o salão sem me dar o direito de olhar para trás. Sigo pelas laterais caminhando rapidamente, e só quando passo pela porta chegando finalmente ao corredor pelo qual vim, é que consigo soltar o ar que estava prendendo. Sem perder tempo, forço minha mente a lembrar do caminho para os aposentos, agora caminhando bem mais rápido e bem menos elegante do que estava no salão de bailes.

Um coração como o seu - Livro 1 - AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora