O Coração do Visconde (DEGUSTAÇÃO)

Capítulo Dois

Leslie não conseguia formular uma pergunta, para sanar suas dúvidas, ou falar qualquer coisa. E nem sabia se conseguiria naquele momento. Queria saber porque ele se escondeu, porque não lhe disse antes e porque não falava tudo olhando em seus olhos.

Mas, naquele momento, não se sentia capaz. Então, ela fez a única coisa que conseguiu. Após alguns minutos em completo silêncio, apenas encarando-se, a jovem se ouviu dizendo:

- Eu vou voltar para dentro. - Balbuciou, afastando-se de August. Ambos sentiram o vazio quando suas mãos se soltaram e não estavam mais se tocando.

- Leslie, espere... Por favor. - August pediu. Parecia engasgado. Leslie se sentia da mesma forma, mas não queria discutir aquele assunto ali, no meio do corredor do Grande Teatro.

- Não posso fazer isso agora, August. Não consigo. - Leslie sussurrou, voltando para o salão onde o concerto estava acabando, e sentou-se ao lado da irmã do meio.

- Sente-se melhor? - Violet perguntou baixo, inclinando-se para a irmã. Leslie apenas balançou a cabeça, com um meio sorriso, tentando disfarçar os olhos marejados. Mas aquilo não passou despercebido para Violet, mesmo que ela não falasse. Pouca coisa passava despercebida à seu olhar afiado.

Leslie não conseguiu se concentrar na música, ou no som dos violinos. Tentou deixar sua mente vagar, mas toda vez que pensava nele, sentia vontade de chorar. Então, apenas fechou os olhos, e fingiu estar apreciando a música. Sentiu-se grata por ninguém lhe perguntar nada e pelo concerto terminar rapidamente.

August não voltou para dentro do salão e já havia sumido quando todos saíram. Leslie puxou o ar, segurando para não chorar. Seguiu as irmãs e os cunhados em silêncio para fora do grande teatro. A carruagem dos Stockfield esperava por ela, e a jovem sentiu-se aliviada por ir sozinha para casa.

- O que você tem? - Violet indagou, preocupada com a irmã mais nova. Leslie balançou a cabeça.

- Nada, eu estou bem. Só estou com sono. Vou ficar melhor quando for para casa e dormir. Nos vemos depois. - Murmurou, afastando-se da irmã e entrando na carruagem.

- Les... - Violet chamou, mas a irmã já estava dentro do veículo e o lacaio havia fechado a porta.

- Deixe-a, Violet. - Hayden segurou a esposa pela cintura. - Ela vai te procurar quando precisar. - murmurou. Violet encarou-o e ele sustentou o olhar, até que ela suspirasse, desistindo e o deixasse levá-la para a carruagem deles.

Leslie pode ver as irmãs entrando na carruagem dos Byrne, antes que a sua carruagem começasse a se mover, levando-a embora dali.

Felizmente, a jovem chegou logo em casa e foi direto para a sua habitação, ignorando a criada esperando por suas luvas e capa no hall de entrada.

A capa e as luvas foram jogadas de qualquer forma no sofá da habitação, antes que Leslie deitasse em sua nova cama, e afundasse o rosto no travesseiro. Finalmente, ela conseguiu sentir tudo o que bloqueou nas últimas horas.

Pela primeira vez, em dezessete anos, Leslie chorou.

E pela primeira vez, em meses, Leslie estava feliz por estar sozinha.

No dia seguinte, Leslie não estava nada feliz. E muito menos calma. Durante a noite, chorou. Mas, pela manhã, enxugou todas as lágrimas e se reergueu.

Não conseguiu ficar encantada ao reler as cartas, agora que tinha certeza de sua autoria. Estava com raiva.

Por que August mentiu? Por que se escondeu? Por que não falou tudo olhando em seus olhos ao invés de se esconder atrás de cartas e bilhetes? Era covarde e ela não toleraria aquilo.