Urban Ballet.

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Os dias iam passando e eu ia lentamente fazendo conexões entre o povo de Indiana. Após o coma e o surto pós-traumático, mamãe permitiu-me de ficar na casa de vovó. Um tempo longe de Lafayette seria bom para esclarecer as coisas e refrescar os ânimos. Assim, teria mais tempo naquele verão para pesquisar e descobrir sobre o paradeiro da garota pálida dos cabelos encaracolados. A qual carinhosamente a apelidei de bailarina.

O único problema das férias em um local desconhecido que me incomodava e sempre parecia ser o mesmo era o tédio fatal que se estendia sob os jovens letárgicos e sem amigos de Indiana. Longe de Billy, eu tinha apenas um toca-discos semi-operante e Tony. Mas não era lá muita coisa, porque ele era um cachorro muito preguiçoso e preferia passar metade do dia dormindo no tapete em frente à poltrona de vovó Anna, que copiosamente roncava nesta com a TV ligada em algum programa chato.

Meus músculos se enrijeciam no colchão duro de minha cama com todo aquele tédio. Minha mente inquieta me torturava colocando milhares de ideias sobre como procurar e encontrar a bailarina que havia visto anteriormente. Os dias se passavam e eu não saía de casa, o que me fazia sentir estúpido, pois tinha quase certeza de que ela não apareceria misteriosamente em meu jardim.
Num impulso, resolvi levantar, calçar minhas botas e ir fazer um passeio pela cidade em busca da garota.

O dia estava bonito e ensolarado. Os jardins estavam verdes e bem cuidados e os carros antigos circulavam pelas ruas com aquele cheiro marcante de gasolina, couro e óleo. Como eu sentia saudades dessa época. O primeiro passo que teria de tomar seria encontrar um parque, um local público. E torcer muito para que encontrasse algum vestígio - ou algum amigo.

Mas havia algo estranho acontecendo ali. Sentia meu cérebro contrair como se estivesse pulsando, tentando dizer-me algo. Parei na calçada e pus as mãos sobre a minha cabeça, tentando entender o que se passava e preocupado que eu voltasse para aquele hospital moribundo.
Comecei a ouvir vozes em minha mente. White River, White River, White River. Eu tinha de descobrir do que se tratava.

— Moça. - Parei uma mulher que passava ali com seu cão. — Você conhece algum local chamado White River?

Ela ponderou por alguns instantes

— Claro. O White River park. É um ótimo lugar.

— Pode me dizer onde fica?

Dentro de 10 minutos caminhando pelo mapa mental que a moça me havia feito, finalmente cheguei ao que parecia ser o tal do White River Park. Era um lugar verde, florido, lindo e com uma diversidade de pessoas - desde jovens hippies em círculos até idosos afastados em bancos. Parecia que cada um tinha sua casta ali e se adaptava ao ambiente. Diferente de Lafayette, que por ser menor os policiais achavam que podiam mandar em todo mundo e expulsar quem quisessem apenas por luxo.

Dentre as várias pessoas no local, uma mulher em específico havia chamado minha atenção. Ela estava distribuindo folhetos com um sorriso no rosto e sua jaqueta amarrada em sua cintura, por se tratar de um dia quente de verão.
Ao chegar perto, percebi que se tratava de um espetáculo que ela convidava as pessoas para verem. Peguei um dos folhetos sem prestar muita atenção ao que ela dizia e tudo pareceu fazer sentido ali.

Indiana Angels
Ballet
Sexta-feira 19h

White River Park

Meu coração palpitava de emoção ao ver a foto das dançarinas e a garota de cabelos encaracolados logo ao centro. Eu mal podia acreditar no que estava acontecendo ali. Eu não sabia o que diabos tinha a viver ou experienciar com aquela menina, mas meu coração podia sentir. Uma segunda chance de fazer tudo certo. Um coração verdadeiro e igual ao meu. Eu precisava conhecê-la, mas não sabia como. Minhas pernas tremiam só de pensar na possibilidade de assuntos a serem comentados com ela. Afinal, eu já era um velho de 60 anos. Como mascarar a idade atual nesta realidade?

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⏰ Last updated: Oct 27, 2019 ⏰

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