Traída

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Karlla POV

Eu estava de rastos!

Depois que a minha morena se foi embora e minha loira se afastou, tudo o que eu fazia era beber em algum bar e acabar a noite em alguma cama com alguma mulher. Qualquer coisa que me fizesse esquecer aquelas duas era bem vindo mas eu sabia que não podia ficar assim para sempre.

Era segunda - feira e devem se ter passado umas três semanas desde o dia em que conversei com a Taty. Voltava ao trabalho, depois de um fim de semana comum de noitada, álcool, droga e sexo numa discoteca qualquer.

Com uma dor de cabeça horrível, uma cara de poucos amigos, olheiras profundas que me faziam parecer um panda, eu entrei no meu escritório para dar início a mais uma semana de trabalho. Mais uma semana com poucas ideias, em que tudo o que vinha à minha mente era um pano preto, sem cor, sem imagens, sem ideias para trabalhar mas a ter de cumprir horário, ali estava eu, cada vez mais dentro do meu ciclo vicioso.

Deviam ser umas 11h quando a minha chefe, Maria, entrou na minha sala e me fitou por incontáveis segundos com uma cara nada boa.

- Você está horrível. O que se passa? - Depois de me atacar com a sua superioridade e vendo a minha reacção à sua pergunta, a mulher mais velha de fato social se sentou na cadeira em frente à minha secretária e eu sabia que não iria sair sem uma resposta.

Nas últimas semana, Maria tem sido o meu ponto de paz, a minha conselheira e única amiga que, sendo mais velha e com mais experiência de vida, me ouve e incentiva a fazer o certo, me estende a mão para tentar resolver um problema sem solução e que, no fundo, nem devia ser um problema.

- Não consigo continuar. - Não precisei de dizer mais para as lágrimas surgirem nos meus olhos e derramarem pelo meu rosto, também não foi preciso mais para ela entender o que se passava e me dar um olhar penoso, piedoso, dócil e reconfortante. 

- Sabes Karlla, tu és nova, tens uma vida pela frente. Se não aguentas estar longe dela, porque não vais atrás? - Ela ergueu uma sobrancelha ao fazer aquela pergunta. Realmente fazia sentido, nada me impedia de procurar e correr atrás daquilo que eu sentia, mas e depois?

- Eu tenho medo. - Falei num sussurro que ela compreendeu e me lançou um olhar reprovador. Aquela mulher sempre sabia como falar comigo, mesmo sendo minha chefe nós já tínhamos uma relação de amizade porque ela sempre tinha a palavra certa para o momento certo.

- E que não tem? O que achas que eu senti quando perdi a virgindade? Quando namorei pela primeira vez? Quando fui pedida em casamento e aceitei? Quando engravidei? E quando lei à luz? Nossa aí nem se fala. Todos os dias, todos temos medos, o que nos difere uns dos outros é a forma como reagimos às mesmas situações. Quando eu encontrei aquilo que achei ser o amor da minha vida, eu não o deixei fugir e olha só onde estou agora. Tenho uma empresa bem sucedida na arrear que adoro, um marido que dorme a meu lado todas as noites e dois filhos maravilhosos que eu tenho o orgulho e ver crescer. Se eu tive medo? Claro que sim, mas onde é que o medo nos leva? A lado nenhum... - E ali estava a mulher que me fazia assentar os pés na terra e ganhar coragem para fazer aquilo que eu devia ter feito logo.

Após mais um tempo de conversa eu pedi uma licença sem vencimento pois já tinha gozado todas as minhas férias, comprei uma passagem para o próprio dia e fui para casa fazer uma mala. Eu não ia levar muito, apenas o essencial, não sabia o que esperar nem o que fazer mas em três semanas não dava para mudar grande coisa, certo?

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Quando dei por mim eram perto das 20H e eu estava em frente a uma vivenda familiar rústica na zona residencial da cidade. Descobri que a minha morena se tinha mudado há cerca de uma semana através do porteiro do seu prédio e aqui estava eu. Nervosa, com a minha guitarra ao peito e medo, muito medo.

Kastyjuh - Mini FicOnde histórias criam vida. Descubra agora