Segunda-feira, 12 de outubro de 2023.
Confusão no meio da Cadogan Square. Carol estava correndo na rua enquanto os motoqueiros a xingavam por ela estar atravessando todos os sinais correndo e deixando cair suas pastas, sua mochila, o fone de ouvido e, com isso, atrapalhando todo o andamento da rua. Ela gritava alguns "desculpa!" e fazia sinal com as mãos para os motoristas que passavam com seus veículos e faziam cara feia conforme ela ia passando.
Era seu primeiro dia em um trabalho novo. Trabalho esse que ela queria tanto, sonhou tanto e justo hoje, ela teve a brilhante ideia de colocar um bolo para assar antes de sair de casa. A intenção era a de agradar seu namorado, Fernando, que estava completando vinte e sete anos; mas com a correria e ansiedade que estava sentindo, esqueceu de tirá-lo de dentro do forno.
"Vou chegar em casa e vai ter fogo em todo lugar" ela pensava enquanto corria e esbarrava em todos a sua frente. Exagerava na dose, sabia disso, mas não conseguia evitar. Provavelmente o bolo só tostou, mas ela dramatiza tudo a sua volta.
Morreu de vergonha ao se lembrar que pediu para sua chefe se podia sair por vinte minutos porque "esqueceu um bolo assando e agora com certeza a casa inteira estava em chamas". Os pensamentos faziam com que ela corasse, abaixasse a cabeça e tropeçasse mais ainda, consequentemente, escutasse mais gritos de motoqueiros enquanto deixava seu fone de ouvido cair no chão pela milésima vez em cinco minutos.
Sorte que ela morava há dois quarteirões do seu trabalho novo. O sonho de vida dessa menina era trabalhar nessa editora, a Editora Mark, e ainda por cima conseguiu um apartamento bom e perto do prédio que, apesar do bairro luxuoso, ela conseguia pagar tranquilamente com o novo salário. A vida finalmente estava perfeita como ela sempre sonhou. Praticamente atingiu todas as metas que estipulou em sua Lista-Da-Vida, só que aos vinte e cinco anos.
Assim que avistou seu condomínio, entrou correndo pelo hall gritando um "boa tarde Seu Jon!" e ouviu um "vai com calma, minha filha, não vai cair de novo" enquanto subia as escadas de dois em dois.
Abriu a porta do apartamento e suspirou aliviada quando constatou que não tinha fogo em nenhum lugar como sua imaginação tentava te convencer que teria; correu para desligar o forno e se queimou tentando tirar o bolo -que a essa altura já estava parecendo carvão- jogando-o na pia. "Puta merda, preciso arranjar um bolo novo" ela disse enquanto se virava para ir até uma pasta que ficava perfeitamente guardada ao lado de sua geladeira, contendo panfletos e telefones de todas as padarias, farmácias e mercados da região. Antes que pudesse chegar até ela, tropeçou num brinquedo do Nick, seu cachorro.
"Pelo amor de Deus, tem como eu ser mais desastrada?" Ela berrou. Era engraçado como alguém que era milimetricamente organizada na teoria da vida, fosse tão estabanada na prática dela. Enquanto dava risada de si mesma, se levantou, arrumou seu vestido -agora sujo por pedaços de bolo e poeira- e pegou o brinquedo para guardá-lo na Caixinha-De-Brinquedos-Do-Nick. Esse cachorro era o mais mimado de toda Inglaterra, com certeza. Ela era apaixonada por ele, seu York que ganhou quando fez vinte anos. Ele tinha um de cada cor, tipo e tamanho; e toda semana ganhava algum novo.
Foi caminhando pelo corredor, indo em direção ao quarto quando ouviu barulhos que pareciam com risadas e... gemidos?
"Fernando?" ela gritou, a confusão explicita em seu rosto. Olhou para o relógio grande no meio da sala de estar, que marcava exatamente 15:42.
"Ele devia estar no trabalho essa hora. Será que voltou mais cedo?"
Colocou a mão na maçaneta e abriu, sentindo seu coração palpitar de forma estranha.
Deixou o brinquedo cair no chão antes de tropeçar -de novo- e bater as costas na parede, sem acreditar no que estava vendo, que faria sua vida -e ela mesma- mudarem para sempre.
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Founding Us.
Romance"Coincidências. A vida era feita de uma porrada delas. Bom, pelo menos a minha era. Mal eu sabia que em dois meses estaria em outro país, morando com alguém e que minha vida mudaria da noite para o dia. Nunca achei que daria para me machucar desse j...