Capítulo 5.

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Robert.
Uma semana e meia atrás.

"Hoje chega a menina nova que vem substituir a Gale", Mark entra na minha sala anunciando.
Eu até gostava da Gale, mas ela não tinha comprometimento. Eu via potencial nela, mas potencial sem esforço e dedicação não é nada, então não demorou muito até que ela fosse despedida.
"Certo", eu respondo para meu chefe. A onde está a folha do manuscrito? Eu penso. Estou revirando a minha mesa e não acho esse negócio por nada.
"Você disse que ela é psicóloga?" Eu levanto a cabeça para olhar para ele, enquanto remexo nas folhas em cima da mesa.
"Sim, se formou há pouco tempo inclusive e é Brasileira", ele me responde com um sorriso.
"E o que uma psicóloga quer fazer numa editora lendo manuscritos? Achei que eles ficassem numa sala conversando com malucos", eu lanço.
Ele da uma risada e começa a caminhar em minha direção; se agacha no chão, pega algumas folhas e se levanta, me entregando um bloco enorme com um post it escrito 'MANUSCRITOS DO MÊS'.
"Pelo que ela disse na entrevista, a leitura é sua grande paixão e ela está tentando conciliar os dois mundos", ele me conta, os braços estendidos até mim. "Ela quer fazer doutorado em Behaviorismo, já que já tem um mestrado em Psicanálise e seu tcc foi sobre 'como as leituras atuais influenciaram a forma que os jovens encaram o mundo', algo assim. A garota é um gênio e só tem vinte e cinco anos", ele da de ombros quando me responde. "Você é muito desorganizado, Robert" acrescenta enquanto seus olhos correm pela minha mesa com pilhas de livros, papéis, pastas, café, canetas e lápis espalhados, todo o conteúdo que já caiu e agora está no chão.

Conheci Joseph na faculdade. Ele era uma pessoa bem diferente do que é agora, sendo chefe dessa grande Editora. Jogava no time de futebol e ia em todas as festas da fraternidade, não tinha muita responsabilidade. Seus pais viviam brigando com ele e ele vivia indo em mais festas para esquecer os problemas familiares.
Foi em 2021, se não me engano, que um acidente mudou sua vida.
Donald, seu pai, sofreu um acidente de helicóptero e veio a falecer, deixando Joseph e sua mãe desamparados.
Eu fiquei surpreso de verdade quando o vi mudar da noite para o dia, virar um homem sério que parou de frequentar as festas, de beber como bebia e que assumiu a empresa da família no lugar do pai.
Quando isso aconteceu, ele me chamou para trabalhar aqui. Nós sempre tivemos uma boa relação e isso fez com que a amizade só crescesse, apesar de eu saber separar bem o lado profissional do pessoal.
Eu tenho uma boa posição aqui na Editora Mark e a palavra final - antes da dele, óbvio - é minha, sobre todos os manuscritos, textos e deveres que esses jovens fazem.
Eu praticamente precisava refazer todos os trabalhos da Gale, que deixava passar erros de concordância, de vocabulário e achava super interessante manuscritos que contavam sobre invasões alienígenas montadas num bode. Além dela faltar pelo menos duas vezes por semana e nem ligar para dar uma satisfação, claro.

"Senhor Mark, a Ana Carolina já chegou." Sua secretária bate na porta e anuncia.
"Estamos indo, obrigada". Ele se vira para responder.
"Certo", eu digo para mim mesmo enquanto dou uma última olhada na mesa enquanto coço a cabeça com um dedo e localizo o manuscrito que eu deveria entregar para a nova funcionária. "Vamos lá", acrescento dando a volta e indo em direção à porta.
Joseph me abraça pelos ombros e da uma risada "você vai gostar dela", acrescenta enquanto devolvo um olhar confuso.

Estamos andando em direção ao primeiro andar - onde a funcionária nova está aguardando nossa chegada - dando risadas baixas enquanto o escuto comentar sobre o jogo do Manchester de ontem.
Joseph ainda é vidrado em futebol e não consegue passar uma semana sem ver ou jogar, nem que seja no club de que é sócio e é claro, quer me contar todos os detalhes do último jogo.
Olho para a frente e encontro uma menina loira, com um vestido preto em detalhes vinhos se debruçando num quadro enorme que tem na sala. Ela se debruça, aproxima o rosto ainda mais do quadro e volta a sua posição inicial. Abre a bolsa e retira um objeto - uma caixa de óculos - e eu observo enquanto ela abre, coloca o óculos em si e solta um "tudo faz sentido agora", enquanto olha para o quadro novamente.

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