O Contador de histórias

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O dia estava fresco, com aquela brisa suave e gostosa de final de verão. As folhas das arvores já começavam a amarelar caindo ao chão onde formavam pequenos montes servindo assim para forrar ninhos de esquilos e outros roedores. As flores estavam sem cor por falta das pétalas como se estivessem adormecendo lentamente para seu descanso de inverno.

Tudo ali tinha um ar pitoresco de inicio de outono, o mesmo ar que o senhor de cabelos lisos e bem penteados sempre gostou.

Nos finais de tarde ele sentava no banco em frente ao pequeno lago e passava algumas horas olhando os patos nadar. Aproveitava para jogar algumas pipocas atraindo assim as aves para perto de si.

Gostava de animais, da visão que o lago lhe proporcionava quando o sol se punha quase o fazendo ouvir o som de água fervente quando este parecia encostar nela antes de desaparecer. Ele fechava os olhos assim que o astro sumia e só abria minutos depois vendo a primeira estrela despontar.

Às vezes sentia uma nostalgia gostosa com aquilo.

Não sabia exatamente por que lhe agradava tanto ver o momento de chegada da noite. Talvez tivesse feito isso diversas vezes na infância acompanhado de sua mãe ou quando adulto acompanhado de alguma pessoa especial. Não sabia ao certo, sua mente costumava lhe pregar peças fazendo esquecer-se de coisas que provavelmente eram importantes então dificilmente lembraria o real motivo dessa sensação.

Certeza mesmo só tinha de uma coisa: aquela era sua diversão preferida.

Só que naquele dia, antes mesmo de tomar seu café da manhã, o senhor resolveu ir até seu banco cativo e sentar para admirar o amanhecer. O sol recém tinha saído ocupando o lugar da grande lua que iluminou a noite. Isso fez com que diversos pássaros viessem comer os insetos que iam de planta em planta deixando o amanhecer bem agitado. O senhor gostava de agitação, de festas, de ter suas pessoas queridas a volta conversando e se divertindo.

Pena que ninguém lhe parecesse familiar naquela casa. Mesmo morando ali com tantas pessoas sentia-se um estranho, meio que um invasor. Não demonstrava ter problemas de saúde tão pouco financeiros afinal pagar por uma casa daquelas não era para qualquer um. Nas festas comemorativas durante o ano, não se lembrava de receber um abraço ou parabenização e mesmo que na juventude tivesse poucos momentos assim, sentia falta. Não se lamentava afinal se já tinha idade avançada seus pais, que sempre foram sua única família, já tinham partido a muitos anos. Ali era um lugar bonito, porém solitário e isso causava essa estranha sensação de que não era realmente o lugar onde deveria estar.

E quando pensava assim tentava se distrair admirando a natureza por que provavelmente deveria ser só mais uma das memórias perdidas que trazia em seu coração.

Mas esse dia começou diferente. Enquanto o senhor admirava a beleza proporcionada pelo amanhecer um homem se aproximou. Era uma pessoa nova, uma que ele nunca tinha visto antes.

O homem se aproximou parando ao lado do senhor de cabelos lisos. Ele era alto, tinha um corpo esguio para sua idade. Representava ser mais velho, um pouco mais velho, e tinha cabelos acinzentados que batiam um pouco abaixo de suas orelhas.  

Imediatamente que parou, ele puxou um lenço do bolso de sua calça começando a limpar seus óculos. O outro que estava ali antes olhou discretamente para o lado. Não costumava conversar muito e ainda guardava um pouco da timidez de quando era jovem.

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