E Agora?

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Após o almoço, Louis e JJ foram sentar na sala onde os outros moradores do local se reuniam. Era tarde de jogos, um momento criado para a interação das diversas pessoas que ali habitavam. Muitos moravam nesta casa por inúmeros motivos tais como não ter familiares ou ter e achar que atrapalhavam suas vidas ou simplesmente por que preferiam viver nela por achar que seria muito mais divertido ter somente pessoas da mesma idade a volta. Crianças muitas vezes deixavam os idosos cansados ou agitados e a maioria preferia o silêncio e o descanso merecido após anos de trabalho.

E era nessas tardes, onde alguma atividade divertida era proporcionada para o coletivo, que todos ficavam juntos ocupando mesas onde aconteciam jogos de carta, bingo, dama ou algo mais ousado como aqueles que se deixavam levar pela dança. Sim, alguns gostavam deste dia em especifico por que também recebiam a visita de uma professora de dança que vinha acompanhada seus alunos para distraí-los e relembrar os tempos idos onde eram jovens pés de valsa.

Era um momento muito divertido.

Louis não gostava de jogos e dizia que tinha nascido com dois pés esquerdos. Usando este argumento preferia ler sentado próximo à janela onde a luz natural era boa e também lhe proporcionava a visão do jardim.

Naquele dia não foi diferente. Assim que terminou o horário de almoço, Louis convidou seu novo amigo para acompanhá-lo e lá foram os dois sentar para apreciar a brisa suave que entrava pela janela aberta e sentir mais um pouco do sol que batia fraco.

JJ ainda não o conhecia bem, mas sentia uma grande empatia pelo homem da leitura. Sua companhia era agradável, ele transparecia calma, paciência, paixão pelo que fazia e isso lhe trouxe uma suave sensação de paz acompanhada de uma duvida como se já o tivesse visto antes.

E mesmo não o conhecendo a mais do que algumas horas, o senhor de cabelos lisos estava gostando de ter alguém por perto que não fosse uma das enfermeiras que cuidava dos senhores e senhoras dali, que não lhe cobrasse se já tinha tomado seus remédios do dia e que lhe controlasse a cada instante. Gostou de poder conversar livremente sobre outros assuntos sem ser questionado quanto a sua vida. A companhia do senhor que passava concentrado nas paginas do livro como se aquilo fosse uma raridade estava lhe fazendo muito bem.

− Você vive aqui há muito tempo? –perguntou JJ puxando assunto e assim ganhando a atenção de Louis.

− Não, faz poucos dias que me mudei.

−Entendo, acho que por isso não lembro de termos nos encontrado antes.

− Tem muitas pessoas vivendo aqui, seria difícil lembrar-se de todas – sorriu - Mas seu rosto me é familiar, provavelmente devo ter te visto em alguma leitura que fiz para o grupo afinal como gosto de ler já cheguei me apresentando desta forma, com uma roda de leitura no final da tarde. – JJ concordou. Por conta da idade sua memória já não era mais a mesma.

− Pode ser. – ficou olhando o homem que usava uma boina bege que cobria parte de seus cabelos acinzentados. – Se não for achar que é muita intromissão minha, posso saber quantos anos tem?

−Pode sim, vou fazer 86 anos daqui a poucos meses. – JJ mostrou espanto.

− Temos quase mesma idade então. E por qual motivo você veio morar em um lar para idosos?

− Por que gosto de conviver com muitas pessoas, gosto do som de gente conversando a minha volta, de ter para quem contar minhas histórias sem parecer inoportuno e como meus filhos tem a vida deles resolvi seguir com a minha aqui, nesta casa.

− É, eu também vim para cá por este motivo e também por que sou filho único e meus pais já não estão mais comigo. E fora seus filhos, você tem mais alguém na família?

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