A Sociedade dos Telepatas

Capítulo 4

Aadya acordou com uma batida leve na porta. Se levantou sonolenta, o relógio digital no criado mudo indicava que ainda não eram nem 7 horas. Abriu uma fresta na porta, onde Ingrid lhe esperava, que riu ao ver seu estado. A menina tinha o rosto amassado de sono e ainda vestia pijama.

-Sabia que ia te encontrar assim - a secretária disse em tom divertido. - Vamos, troque de roupa. Você tem uma hora e meia para se arrumar e tomar café. O Meistr estará te esperando as 8:15. 

Aadya suspirou, passando a mão pelos cabelos castanhos e abriu um sorriso mais amigável do que se sentia. 

-Claro, te encontro lá embaixo. - Respondeu. A loira concordou levemente com a cabeça e seguiu seu caminho, enquanto a morena voltava para o quarto. A cama super confortável parecia lhe chamar, mas sabia que não poderia atrasar para uma reunião com o telepata mais poderoso e respeitado da sociedade. 

A menina olhou em volta, se lembrando que suas roupas agora se encontravam no armário. Escolheu uma legging preta e uma camiseta florida, que era sua preferida. Nova costumava brincar que aquele era seu "uniforme", mesmo que a única roupa que eram obrigados a usar era a de treinamento de luta corporal. E Aadya implicava que o de Emory era o casaco de couro preto, que sempre usava, e infelizmente o deixava ainda mais bonito do que era. Mas não poderia falar que Nova tivesse um uniforme. Ela sempre parecia uma modelo com as combinações de roupa mais inusitadas, que ainda assim ficavam perfeitas. 

O passa tempo preferido de Nova nos dias de descanso era escolher roupas ou objetos de decoração, mesmo que não tivesse onde por no seu quarto. As lojas do internato eram enormes galpões onde pegavam "emprestado" o objetos que precisavam ou queriam, mesmo que não houvesse necessidade de devolvê-los. A maior parte eram doações das grandes empresas do Setor de comércio. Aadya aproveitava para pegar livros sobre qualquer coisa relacionada à natureza, e Emory procurava CDs que gostasse para gravar no seu inseparável aparelho de som e fones de ouvido. 

Um pouco mais feliz com essas lembranças, Aadya seguiu para o refeitório, e se serviu na farta mesa de café da manhã. Olhando ao redor, se perguntou porque haviam muito mais homens do que mulheres ali. Talvez fosse aquilo que estudou em sala, machismo, mesmo que não entendia porque um professor, homem, explicaria isso para a turma. Caminhou em direção à mesa onde Ingrid estava, que sorriu com sua aproximação. A loira tomava um café forte e comia frutas e um pouco de pão, enquanto Aadya tinha pegado leite com chocolate, bolo e umas rosquinhas. A menina se sentiu mais feliz com os doces, embora sabia que não eram tão saudáveis.

- Parece melhor, Aadya. 

-Estou melhor, obrigada - respondeu com um sorriso verdadeiro dessa vez. - Tive um pouco de dificuldade para dormir, e explorei um pouco o jardim para me acalmar. 

-Ah, sim. Posso perceber seu gosto pela natureza. Estava esperando ser convocada para o Setor Natural?

-Sim, nossa. Fiquei muito assustada quando não fui chamada. Se não fosse para o Natural, não me encaixaria em outro. Então pensei que seria exilada. - Disse, desabafando. Por algum motivo, sentia que podia confiar em Ingrid. A loira riu levemente.

-Não me parece que não possa se encaixar em outro, mas entendo sua preocupação. Eu tinha certeza que iria para o de Saúde, mas fui chamada para o Administrativo. - Ingrid revelou, intrigando a menina. 

-E o que aconteceu?

-Bem, descobri que fui convocada para ser secretária do Meistr. Claro que não poderia recusar tamanha honra, mas entendi o propósito assim que o vi. - Continuou, abaixando o tom de voz pela preocupação. - O Mestre tem sofrido com uma doença incomum, incurável. Não é fatal, mas reduz sua vitalidade. Meu poder permite prolongar sua vida, diminuir suas dores, o que ajuda ele a se manter são e sábio.- Aadya se espantou com essas informações, mas disfarçou levemente e Ingrid retornou a falar o tom mais alegre. - Acaba que me tornei sua enfermeira particular, além de ajudá-lo com detalhes administrativos. E não deixo de trabalhar com saúde, atendo os clientes do hotel, senadores e os trabalhadores de todas as áreas aqui da Sede do Governo.