O Assalto

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Escuridão. Profundo abismo, frio. Seridath estava absorto, imerso no interior de uma fenda inescrutável. Parecia longe, distante de qualquer realidade. Era como um sonho e, ao mesmo tempo, era como ter os sentidos aguçados ao extremo. Seridath sabia que essa era mais uma das provas para conquistar Lorguth. E também sabia que estava com problemas. Ao seu redor, começava a sentir uma crescente onda de inquietação em sua espada. Aliás, tudo ao redor era Lorguth. Estava nos domínios da lâmina e lutava para não ser invadido e coberto por sua enorme ânsia maligna. Não havia palavras, pois seria impossível verbalizar a disputa que ocorria. Ela não queria de forma alguma obedecer a seus comandos. Lorguth estava intransigente em seus desejos. Estava excitada, pois podia sentir uma aura de emanando ao longe, como o brilho de um nítido farol. A aura cujo dono era um ser poderoso e maligno, que dormira ao longo dos séculos e agora despertara em busca de vítimas para satisfazer seu apetite.

Seridath simplesmente sabia essas coisas. Ou melhor, Lorguth compartilhava com ele essas valiosas informações. E a espada era clara em suas ambições. Queria provar do líder que movia aquele exército de mortos. De nada valia para ela tomar as vidas inúteis de uns poucos humanos. Mas o cavaleiro lutava, em silêncio, para impôr sua vontade e erguer suas vítimas para a peleja em frente a Arnoll.

Enquanto isso, Balgata e os outros, disfarçados de camponeses, esperavam a abertura dos portões. Quando começasse a batalha, aquilo viraria um abismo de Merf e Nibala. E se algo desse errado, as coisas que Seridath controlava poderiam matar a todos, inimigos e aliados. Essa expectativa mexia com as entranhas do capitão. Ele podia ver o medo saltar dos olhos de seus companheiros. "Temos camponeses demais aqui," suspirou. Uma luta como aquela não era lugar para homens inexperientes. Na pior das hipóteses, aqueles aldeões seriam um estorvo, mas se tivessem sorte, poderiam formar uma linha que oferecesse resistência.

Todos vestiam mantos longos e tinham espadas e escudos escondidos sob os mesmos. Os aldeões de Keraz receberam escudos de reserva que estavam nas carroças. Agora, restava somente aguardar que os bandidos tivessem mordido a isca. Balgata e os demais precisariam apenas sustentar a porta, enquanto Seridath enviaria seus "servos" para invadirem a cidadela e matarem tantos inimigos quanto possível. O capitão transpirava, sentindo um ultrajante enjoo. Eles tinham pouca chance de vitória.

Os portões foram abertos. De dentro surgiram rapidamente homens montados a cavalo, que circundaram os supostos camponeses, deixando-os isolados das carroças. O chiado das espadas sendo desembainhadas ecoou em coro. Um homem alto, loiro, guiou seu cavalo até parar à frente de Balgata, que segurava em sua mão direita um pequeno saco de couro. O bandido parecia ser tão alto quanto o capitão, e a montaria acentuava seu tamanho de forma assustadora. Estava coberto de uma bela cota de malha e a empunhadura prateada de sua espada refulgia. Seu rosto era longo, com as faces levemente encovadas e os olhos pequenos e estreitos. O cabelo loiro estava muito bem aparado e o homem cobria-se com uma capa verde-musgo impecável. Suas botas de cano longo, com caneleiras de ferro, eram novas. Era o segundo no comando do bando, homem de confiança de Berak, e agora usava uma das melhores vestimentas do Conde de Arnoll.

– Deixa eu ver seu pagamento, homem! – disse o cavaleiro, tomando o saco da mão do capitão com a ponta de sua espada. Balgata manteve silêncio.

O homem abriu avidamente o saco de couro. Sua expressão de ganância foi desaparecendo e dando lugar a perplexidade. Ele voltou o rosto indignado a Balgata.

– Que merda e essa?! – Perguntou, lançando o saco de couro aos pés de Balgata.

Dentro do saco estavam guardadas diversas pontas de metal, usadas para as flechas dos arqueiros. Furioso, o bandido ordenou ataque. Balgata, em contrapartida, bradou:

O Viajante CinzentoOnde histórias criam vida. Descubra agora