Desconhecido

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No outro dia, eu sentia uma dor de cabeça insuportável, meus olhos iam se abrindo aos poucos, fui tateando a cama e toquei em uma perna. Opa! Abri rapidamente os olhos e eu não estava no meu quarto, pude constatar que eu dormi numa cama de casal com alguém completo estranho. Só sei que a perna dele era peluda. Credo! Me olhei no espelho do quarto, eu usava apenas uma cueca box preta. Foi aí que meus sentidos enlouqueceram de vez.

O rosto da pessoa estava coberto com o lençol azul que envolveu nós dois a noite toda. Será que? Não, Enzo! Me diz que não aconteceu nada disso. Tentei vasculhar minhas memórias, mas.... Só lembro de ter beijado o estranho mascarado. Eu fiz uma cara de desespero.

Então, eu peguei um travesseiro e bati com força no cara. "Ai", ele gemeu.

-Que eu fiz? – ele fez uma voz manhosa.

-Eu quem pergunto isso – mostrei indignação.

-O que exatamente quer saber? – ele perguntou.

-O que aconteceu noite passada – falei.

-Não aconteceu nada que você não quisesse – pausa – Agora vamos dormir.

-Palhaço abusador! – eu falei irritado. Bati nele de novo com o travesseiro e ele gemeu outra vez.

-Eu não lembro de ter abusado de ninguém – ele falou ainda com o rosto coberto.

-Como não, palhaço? – pausa – Eu estou só de cueca!

-Exatamente! – pausa – Se estivesse sem ela é que seria um problema – ele ainda não exibia o rosto.

-Mostre logo esse seu rosto, bandido! – tentei puxar as cobertas do rosto dele, mas ele me puxou e eu fiquei preso em seu abraço. Corei. Tratei de virar logo o rosto para ele não me ver assim.

-Você como sempre bonito corado – ele disse. Eu corei de novo. Droga.

-Para com isso – pausa – Você já não brincou comigo o suficiente? – perguntei ainda com o rosto virado.

-Não quero brincar – arregalei os olhos – Só quero que você pare de tentar algo com todas aquelas meninas e comece a flertar comigo – eu ri muito com essa – Qual a graça? – ele perguntou e eu tentava conter o riso, mas estava difícil.

-Não vou fazer isso – eu falei entre o riso.

-Malvado – disse com a voz manhosa.

-Somos dois homens – encarei o rosto por baixo do lençol – E eu nem te conheço.

-Se for esse o grande problema – ele me soltou – Ficará feliz em saber que já me conheces.

-Te conheço de onde? – perguntei.

-Tente adivinhar. Quem eu sou – respondeu e eu fiquei fulo. Ele estava era brincando comigo.

-Esse lance que você quer não vai rolar – argumentei.

-Por quê? Lá na universidade um monte de gente do superior namora o pessoal do médio – ele falou e realmente era verdade – Você só não quer admitir que está gostando dos meus flertes – eu corei com essa última parte e tratei de esconder logo meu rosto.

De repente, o celular dele toca. Eu conheço aquela música tocou na animação do Shrek, Barracuda.

'Sell me sell you' the porpoise said

Dive down deep down, deeper than you..

I think that you got the blues too

All that night and all the next

Swam without looking back

Made for the western pools

silly, silly fools!

"Se me dá licença um minutinho", a pessoa pega o telefone e sai porta afora parecendo o primo It, da Família Addams, com aquele lençol cobrindo ele. Enquanto a criatura está no telefone trato de vestir minhas roupas.... Ué, aonde aquele pervertido enfiou-as? Não estou encontrando em lugar nenhum desse quarto! Ah, ele vai me pagar!

-Não encontrará suas roupas aqui – ele me assustou e eu dei um pulo. Ele já não estava de lençol, apenas usava aquela maldita máscara.

-Ah – suspirei me recuperando do susto e ele caiu na gargalhada. Isso só me deixou fulo!

-Fofinho – eu parti pra cima dele, porém antes que eu chegasse nele, tropecei no tapete do quarto e caí por cima dele. Como se fosse um imã, eu levantei um pouco a máscara e o beijei. Se controla, Enzo, seu gay! Me separei rapidamente e me levantei, ele puxou meu braço.

-Me larga! – disse fulo, tentando me afastar.

-Não! – ele foi se aproximando de mim, mas eu fui me afastando até bater com as costas contra a parede. Droga!

Eu estava sem saída, ele me encurralou, fechei os olhos e senti seus lábios tocando os meus. Suas mãos foram até minha cintura e meus braços até seus cabelos negros. Momentos depois, senti minha barriga roncar.

-Parece que alguém está com fome – ele disse já baixando a máscara e eu ouvi o estômago dele roncar também.

-Eu não sou o único – falei num tom desafiador – E porque você não me mostra seu rosto?

-Não teria graça – pausa – quero conquistar você aos poucos, pude imaginar que ele sorrindo.

-E você acha que tem chance? – mostrei a língua.

-Claro que tenho! – ele riu – E vamos comer!

-Como se você não fez nada para o café da manhã?

-Na verdade, o café está na mesa – ele me guiou até a cozinha, espaçosa. A mesa de mármore vermelho fazia contraste com o azulejo branco daquele cômodo, as cadeiras eram de alumínio, eu acho, e eram acolchoadas. Me sentei em uma delas, a mesa estava sortida, enquanto eu comia, ele foi até a bancada e colocou uma música ambiente.

Do you believe in love?

Do you believe in destiny?

True love may come...

Only once in a thousand lifetimes...

I too have loved...

Então, tomamos café em silêncio. Foi aí que me lembrei que eu não tinha avisado aos meus pais que ia dormir fora e isso me traria problemas mais tarde. "Não se preocupe, tomei a liberdade de avisar aos seus pais que você não irá dormir lá esse fim de semana", ele disse como se lesse meus pensamentos. "Como é?", perguntei pasmo. "Isso mesmo! Você irá passar o fim de semana comigo", disse ele calmamente. "Você não me perguntou se eu queria", fechei a cara. "Nem era preciso", ele riu da minha cara. "Que ótimo! Sequestrado por um lunático!", bufei. "Não é sequestro se você está gostando", disse o convencido, essa foi minha deixa para rir da cara dele.

E o resto da manhã se passou em silêncio, eu voltei para o quarto a procura da minha roupa, mas não achei. Aonde raios ele enfiou minhas roupas? "Foram para a lavagem. Você fedia a cachaça", falou ele. "Para de ler meus pensamentos", dissera eu fulo da vida. Ele veio, me prensou na parede e me beijou de novo, safado!

-Já disse que estou gostando muito de você? – sussurrou em meu ouvido. Corei.

-Não quero saber – virei a cara.

-Ah, quer sim – sussurrou de novo e mordeu minha orelha. Eu estava igual a um pimentão.

-Porque está fazendo isso comigo? – perguntei.

-Por que eu gosto de você, Enzo – respondeu seriamente. Corei mais ainda. – E não é de hoje.

-Por que eu não lembro de você? – perguntei alto mas era algo retórico.

-Vai lembrar no momento certo, meu bem.

Blaze of GloryOnde histórias criam vida. Descubra agora