Descoberta

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Reparando um pouco na casa, eu tinha a sensação de que já fui várias vezes ali, porém estava tudo diferente e eu estava perdido sem saber me localizar. Ou seja, Enzo o fulano mudou tudo para você não saber quem ele é, desgraçado. Nesse momento, estávamos em um restaurante, já era noite e ele ainda usava aquela máscara horrorosa. As pessoas olhavam pra gente, ainda mais pra ele, só que o bastardo parecia ignorá-las facilmente e eu estava me sentindo desconfortável. E a música que tocava naquela lugar era de um mal gosto sensacional, só tocava esses pagodes modernos.

-Sabe o que eu mais gosto em você? – ele cortou o silêncio entre nós dois, afinal desde que chegamos não havíamos trocado nenhuma palavra.

-Minha beleza? – chutei.

-Também, mas você sabe que isso é passageiro – pausa – E a personalidade permanece.

-Nossa.... – fiquei pasmo com essa filosofia.

-Sua criatividade – se limitou a dizer.

-Obrigado – dessa vez eu não corei – Posso saber qual curso você faz? – olhei nos olhos dele e eu tinha a sensação que conhecia bem aqueles olhos castanhos e não me lembrava de quem eram.

-Faço Engenharia – se limitou a dizer.

Meu cérebro dizia claramente que era mentira. "Eu o conheço, cérebro?", "Sim" resposta, "Porque você não me diz logo quem é?", "Porque eu ainda não tenho certeza", "Meu ata pra você, cérebro lerdo".

-Sei que está ocultando a verdade – respondi e ele soltou uma risada nasalada.

-Você percebe quando minto? – questionou.

-Talvez – lancei um olhar de desafio.

-Tudo bem – pausa – Vamos brincar. Topa?

-De?

-Você vai ter que acertar quando estou mentindo – ele pareceu sorrir por baixo da máscara.

-Vou ganhar o quê? – Falei atrás dos olhos que queria um bom prêmio.

-Beijo a cada resposta certa – eu ri.

-Sério? – ele parecia não acreditar que eu estava rindo – Você nem beija tão bem assim – menti – e além do mais não vai comprar minhas respostas só com isso.

-Não beijo bem? – ele parecia não acreditar no que eu havia dito – Você mesmo já me beijou várias vezes por livre e espontânea vontade – eu corei.

-Tá – pausa – Vamos jogar.

-Me chamo Toni – pausa – Verdade ou Mentira, Enzo? – quê? Ele já começou assim.... Bastardo. Meu cérebro travou.

-Sei lá – pensei por um momento, olhei em seus olhos, mas não sabia dizer – Verdade.

-Mentira, não sou o Toni Kakko – ele olhou pra mim e fez uma careta. Quê? – Eu tenho 20 anos. Verdade ou Mentira?

-Verdade.

-Acertou – ele sorriu por baixo da máscara – Os beijos pagarei em casa – corei – Amo Rock, verdade ou mentira?

-Verdade – ele jogou essa de propósito, safado. E fez que sim com a cabeça.

-Já joguei RPG com vocês – Ele já jogou com a gente? Isso reduz minha lista de pessoas, mas ainda não sei dizer quem é. Droga! Pensa, Enzo!

-Verdade – ele fez que sim de novo.

Nessa hora nossos lanches chegaram e a gente jantou no mais profundo silêncio. E eu ainda tentava decifrar quem era aquele estranho. Foi aí que ouvi uma música na televisão que me chamou atenção, ele parecia conhecer aquela letra como se estivesse escrita em sua alma e eu sabia que música era aquela.

You ask about my consience

And I offer you my soul

You ask If I'll grow to be a wise man

Well I ask if I'll grow old

You ask me if I known love

And what it's like to sing songs in the rain

Well,I've seen love come

And I've seen it shot down

I've seen it die in vain

Foi aí que eu percebi, realmente, que conhecia aquele o estranho mascarado. Só não imaginaria que ele tentaria algo comigo mesmo sabendo que uma vez ele disse que gostava de mim. Nossa, Enzo, você merece o diploma de burrice! Quase todas as peças se encaixaram e ainda tinha umas pontas soltas que mereciam esclarecimento. Minha mente tratou de realinhar toda a casa, de modo a lembrar a versão original e, para meu completo horror, o resultado era a mesma casa que eu estive outro dia.

Safado! Ele sabe que me perco quando mudam as coisas de lugar e eu fico desorientado, o fela da mãe sabe meus pontos fracos. Se eu for analisar tudo o que passamos recentemente, o mascarado também sabe como me deixar desconcertado quando quer. Bastardo que estava brincando comigo todo esse tempo!

Pagamos a conta, fomos pra casa e, no caminho, ele tentava puxar assunto comigo todavia eu estava me sentindo amuado. Em um determinado momento, o homem parou de puxar assunto e caminhamos em silêncio o restante do caminho até o apartamento dele. Chegando lá, eu peguei um jarro pequeno e joguei no chão e ele se assustou com minha atitude.

-SEU PALHAÇO FAJUTO! – eu cuspi as palavras na cara dele – COMO VOCÊ SE ATREVE A BRINCAR COMIGO ASSIM? FALA QUE GOSTA DE MIM E AGORA FICA COM ESSE JOGUINHO PRO MEU LADO! – estava furioso e tentava não demonstrar no caminho vindo pra cá – PODE TIRAR ESSA MÁSCARA RIDÍCULA, JÚLIO! QUE EU SEI QUE É VOCÊ!

Ele retirou a máscara e mostrou seu rosto, seu olhar exalava tristeza porque eu estava descontrolado e ele não queria que tudo acabasse daquele jeito. Porém eu não estava raciocinando direito naquele momento.

-NEM OLHA COM ESSA CARA PRA MIM!

-Minha cara só tenho essa! – ele fez uma careta, fulo, eu arremessei um vaso maior na direção dele. Um dos pedaços atingiu ele no braço e saia sangue do local, porém ele estava tentando me acalmar e só piorava a situação. – Calma, Enzo. Vamos conversar.

-CONVERSAR? – pausa – PARA VOCÊ VIR COM JOGUINHOS DE NOVO? NÃO MESMO, JÚLIO! – eu nem estava ligando pro corte no braço dele. Foi aí que ouvi uma buzina do lado de fora; essa era a minha hora de ir. – Preciso ir embora e esfriar a cabeça.

-ISSO VAI EMBORA! – ele gritou comigo e eu me assustei – SE PASSAR POR AQUELA PORTA, EU NÃO OLHAREI MAIS PRA SUA CARA, ENZO! – pausa – ESTOU LOGO AVISANDO.

Eu ignorei todas as ameaças do Júlio e sai, fui em direção ao carro de Benjamin, ele já me esperava e só porque ele não tinha 18 anos ainda não significa que o Ben não podia dirigir.

-Tem certeza do que vai fazer? – questionou Ben.

-Tenho! – disparei.

-Você sabe que o Júlio te ama neh?

-ENTÃO VOCÊ SABIA? – eu estava incrédulo e gritava com ele e o outro se calou – VOCÊ SABIA O TEMPO TODO E NUNCA ME CONTOU?

-Eu ia contar.... Mas você tem o dom de estragar tudo e, por isso, não contei.

Aquilo foi a gota d'água, eu nem entrei e já fui na direção de casa a pé mesmo.

-Aonde pensa que vai, Enzo? – ele tentou me segurar, mas eu me esquivei e comecei a correr.

-ME DEIXA OU CHAMO A POLÍCIA POR SEQUESTRO – Benjamin ficou incrédulo com meu humor bastante negativo e o vi subindo para o apartamento do Júlio. "Isso sobe lá e ajuda aquele bastardo, Ben!" eu gritava na minha mente. Só queria fugir igual a música do Bon Jovi que aquele palhaço gosta, ela estava tocando em minha mente a cada passo que eu dava, sabia que o Enzo aqui estava sendo um perfeito idiota....

They should have seen it in your eyes

What was going 'round your head

Ooh, he's a little runaway

Daddy's son learned fast

All those things he couldn't say

Ooh,he's a little runaway

Blaze of GloryOnde histórias criam vida. Descubra agora