Muitas estradas se revelam caminhos. E o caminho tomado pode te guiar ao seu destino. Uma decisão dessas é capaz de deixa marcas para sempre no coração de um homem. Aprendi a duras penas quando conheci a doce Alice.
- Ah Van Dorran. Até quando negará o privilégio dos Descendente dos Antigos? - A voz do meu algoz é um martírio que chega, lembrando-me onde estou: dentro de uma cela, impotente, cercados por paredes de aço indestrutíveis.
- Jamais transformarei inocentes para que você os use depois como marionetes do seu exército, Heront! - rebato a indagação com absoluta certeza de que não sucumbirei aos desatinos desse lunático.
Há três semanas fui capturado pela Irmandade de Heront, um vampiro que quer dominar o submundo a qualquer custo, mesmo que as baixas sejam de vidas humanas. Ele me mantém faminto para me forçar a me alimentar dos seus prisioneiros. Cada noite ele me oferece um cativo, mas me recuso a transformar qualquer um deles. Não condenaria um inocente a viver uma eternidade sem alma, mesmo que a minha já estivesse perdida.
Heront não possuía o dom da transformação. Ele é um transformado de um Descendente, quer dizer, um vampiro de classe inferior. Herdara apenas a força e poder de um vampiro, mas não podia criá-los, o que lhe deixava em desvantagem na luta pelo poder.
- Coopere com o que deve ser feito e eu prometo libertá-lo. Beba do sangue humano e dê-lhes do seu. Isso é uma boa troca, não acha?
- Proponho que me solte agora e eu não te mato.
A risada do meu algoz ecoa, puxando um coro de mais gargalhadas. Idiotas! Distinguo cinco outros vampiros com ele.
- Vamos ver se não mudará de opinião com a próxima oferta. Sei que você está fraco. Não terá controle sobre sua própria fome. É uma questão de tempo até que se alimente.
Ouço passos e o choro da garota pelo corredor. A ressonância do som me permite calcular a dimensão do lugar e suas possíveis saídas. A garota se debate e esperneia enquanto a atravessam pelas duas portas de aço. Uma se levanta somente quando a outra se fecha, deixando-me sem possibilidade de saída sem um bom plano.
Heront sabe que eu não a mataria, está confiante disso. Ele me conhecia bem, um vampiro desgarrado das Irmandades que não aceitava ordens de lideres com o objetivo de dominar o submundo. Aquela era uma guerra cruel e eu me recusava a fazer parte dela. Tentava viver sob minhas próprias regras. Optei pela solidão dos desgarrados às Irmandades sanguinárias, que chefiavam negócios obscuros e viviam a margem da sociedade humana. Matavam para se alimentar e sentiam prazer com isso. Esse era o principal motivo para eu não me submeter: negava-me a matar por diversão.
A garota grita quando a primeira porta é baixada. Sinto as marteladas do seu coração quando a segunda porta começa a ser levantada. Posso controlar minha sede de sangue quando estou bem, mas não faminto e debilitado como agora. Meu instinto de sobrevivência me coloca em alerta máximo. Com a primeira porta trancada não existe escapatória para a jovem.
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Química Vampiresca
Short StoryVan Dorran é um vampiro descendente dos Antigos que ignora o submundo e vive sob suas próprias regras, longe dos humanos. Capturado por Heront, líder da Irmandade que busca o controle e o poder, ele se vê tentando a morder a doce Alice. A garota de...