Parte II

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O odor de sexo causa um alvoroço do lado de fora. Os homens se alinham atrás da primeira porta que é acionada. Pegá-los desprevenido será minha oportunidade de fuga.

- Alice – seguro seu rosto para que ela possa prestar atenção – não se mexa. Voltarei para buscá-la. Confie em mim, ok?

Ela sacode a cabeça afirmando, mas sei que está fraca e o rubor das suas bochechas demonstra toda a vergonha pelo acontecido. Não temos tempo, a segunda porta é levantada sem que tenham abaixado a segunda. Movo-me como um raio para pegá-los de surpresa.

Revigorado pelo sangue de Alice, sinto-me mais forte e mais alerta. Quando o primeiro vampiro entra, aproximo-me por trás e roubo a sua arma. Uso seu próprio corpo como escudo contra outros dois vampiros que atiram em nossa direção. O homem-escudo é atingido por diversos dardos envenenados. Logo, suas armas ficam sem munição e é a minha vez de contra-atacar. Uso a arma roubada e atinjo-os sem piedade.

Heront grita ordens aos homens do lado de fora. Com isso, a porta é acionada novamente e começa a se fechar.

- Van Dorran seu miserável! Você vai pagar caro! – ele grita enfurecido do lado de fora. – Sabe o quanto me custou essa garota?

- Já devia saber que eu não ficaria esperando você acabar comigo! - rebato enquanto me movo em direção a Alice caída no colchão.

Tão rápido como a capturo nos braços, lanço-nos pelo diminuto espaço entre a porta de aço e o chão. Passamos por questão de segundo antes dela selar a passagem.

Levanto-me trazendo Alice comigo e a uso como escudo. Ninguém ousa atirar na preciosidade do meu captor, mordida, só esperando uma gota do meu sangue para se tornar uma transformada. Dois vampiros nos cercam, esperando o próximo movimento.

- Deixe de bobagem Van Dorran. Devolva-me a garota e esquecerei isso.

- Acha que sou um tolo? Quando eu entregá-la você vai atirar em mim – sei, pois é exatamente o que faria.

- Está subestimando a importância dessa garota! Para mim ela não passa de mais uma mercadoria, principalmente agora que você brincou com ela.

- Sei exatamente o quanto ela vale. Até porque não violei sua pureza meu caro, e sabe disso, senão já teria nos matado.

Uma transformada virgem era o que de mais caro existia. Ela podia ser uma mina de ouro para Heront. Enquanto discutimos, meu cérebro traça possíveis trajetórias na sala escura e vazia que antecede minha cela. Caminho para o lado, sem que eles percebam a intenção de alcançar a janela mais próxima. Estamos há vários metros do solo. A queda poderia matar facilmente um ser humano, mas não um vampiro.

Alice desperta aos poucos da inconsciência. Aproveito para firmar o braço ao redor da sua cintura. Chega a ser ridículo eu tentar me proteger com seu corpo, pois sou mais alto e mais forte que ela. Preciso sair logo daqui, antes que tomem isso como vantagem.

- Van Dorran minha paciência se esgotou. Se não me devolvê-la, vou atirar.

São as últimas palavras de Heront antes que eu colida de costa contra a janela e a madeira se estilhace em vários pedaços. Lanço-nos em direção ao vazio.

Trago Alice junto ao corpo que se apavora ao perceber o que acabamos de fazer. Ainda consigo ver a expressão de incredulidade do meu algoz e dos outros ao me acompanharem despencar metros abaixo. Eles ainda tentam atirar, mas logo chego à proteção das copas das árvores. Um dos tiros passa de raspão no meu braço e o corte é rapidamente estancado pelo processo de cura. Aterrisso com as duas pernas flexionadas e Alice protegida em meu abraço.

Coloco-me de pé imediatamente, alerta, vasculhando ao redor em busca de inimigos. Heront é um idiota e subestimou a minha capacidade de fuga. Não há sequer um vampiro fazendo a guarda do lado de fora. Ajeito Alice no ombro que murmura algo inteligível. Eu poderia deixá-la para trás. Isso facilitaria minha fuga. Mas não sou capaz de quebrar uma promessa. Além do mais, se não fosse pelo seu sangue, não estaríamos livres.

Empenhado em manter-nos a salvo, corro através das árvores, diatanciando-me de onde fui mantido refém por dias. Movo-me pela floresta densa com uma velocidade sobre-humana. Não demora muito para que os vampiros da Irmandade de Heront percam nosso rastro e estejamos seguros por hora.

Meu plano de fuga improvisado estava traçado até o momento em que saltamos pela janela. Do lado de fora e adiante, as decisões são tomadas por intuição. A única certeza que tenho é de que precisamos prosseguir.

- Vamos lá pequena, acorde. Preciso de você alerta – chamo, mas ela, ainda fraca, nem responde.

Paciência Van Dorran, afinal ela é apenas uma humana.

...........................

Havia encontrado uma estrada e seguido por ela até chegarmos a um posto. Já acordada, Alice insistiu em usar o banheiro, pois precisava se lavar e fazer xixi. Melhor aqui do que no mato, deixando rastro para nos seguirem, pensei. Fiquei de vigia do lado de fora, escorado numa parede a sua espera, que pareceu uma eternidade. Quando já ia entrar para ver o motivo da demora, Alice sai do banheiro secando as mãos no próprio vestido. Ela desvia o olhar e tenta passar por mim como se não me conhecesse.

- Ei – seguro-a pelo braço – Aonde pensa que vai?

- Embora. Eu posso ir daqui – ela tenta se desvencilhar da minha pegada sem sucesso.

- Não vou deixá-la ir sozinha. Ainda é perigoso, Heront está por aí a nossa procura. E você ainda não recuperou o sangue que perdeu.

Alice estremece, não sei se por medo ou pela menção do acontecido. Ela baixa a cabeça e fixa seu olhar no chão.

- Ei - levanto seu rosto com o dedo indicador em seu queixo. Não entendo o que me atrai nela, só sei que sinto o desejo de protegê-la desde que fugimos – não sou como aqueles caras, se é o que está pensando. Prometo que assim que for seguro, te deixarei onde desejar.

Falo com toda sinceridade, meu olhar conectado ao seu. Alice concorda em vir comigo. Por hora, fico mais tranquilo. Pelo menos sei que posso defendê-la, caso algo aconteça.

Van Dorran cumpriu sua promessa e agora tem Alice como companheira em sua fuga. O vampiro sente uma ligação que nem ele sabe explicar.  E isso não vai parar por aí, aguardem!

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