Parte III

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Assim que possível, pegamos carona no posto com um motorista desconfiado de uma garota cheia de hematomas, com o vestido em farrapos e um cara só de calça jeans. A hipnose foi a única saída. Graças a este modo nada convencional de persuasão tivemos dinheiro, comida e carona para continuarmos a fuga.

O caminhão para na madrugada gelada em frente a um motel. Decido passar num quarto alugado. Além de Alice estar morta de cansada, os sentidos vampíricos aguçam durante a noite, fazendo com que possamos ser localizados mesmo a quilômetros de distância. Na segurança da suíte, tranco portas e janelas. Sinto o olhar da pequena acompanhando cada movimento, não confiando totalmente em mim. Alegando que precisa se limpar, Alice corre para o banheiro, o que me faz sorrir. Se eu quisesse atacá-la, não seria uma simples porta a me impedir.

Quando volta, está enrolada numa toalha e de cabelos molhados, olhando para todo canto menos para mim. Ainda me divertindo com a situação, mas não querendo deixá-la desconfortável, faço o mesmo para dar-lhe espaço no cômodo.

Minutos depois, saio do banheiro de banho tomado. Dou de cara com Alice sentada na beira da cama, ainda de toalha e com um semblante confuso e vulnerável.

- Quem é você, Van Dorran? - o questionamento sai estrangulado nas palavras.

- Esse é o tipo de pergunta que eu teria de te matar se lhe respondesse - faço uma piada tentando quebrar o clima, já que ela não relaxa. Algo corrói seus pensamentos.

Aproximo-me devagar para não assustá-la e sento na poltrona ao lado da cama. Primeiro, pondero o quanto devo contar, mas àquela altura, Alice vira coisas demais. Decido pela verdade. Faço um breve relato de quem eu sou, como me tornei um vampiro e minha renúncia ao sangue humano. Amenizo a maior parte da história para que ela não corra dali chocada com a crueldade da nossa natureza.

Alice, por fim, fica mais a vontade ao compartilhar sua história. Ela me conta que fora capturada na rua, quando voltava do trabalho. No cativeiro presenciou varias atrocidades cometidas por homens da Irmandade. Assassinatos, estupros e até mutilação. Percebeu de cara não se tratar de humanos quando os viu se mover tão rápido quanto seus olhos podiam ver. Com ela, eles não mexiam e ficava aliviada por isso, apesar de não aplacar seu pavor. A surra que tomou foi por ter deixado a comida cair nos pés do carcereiro. Ele ficou furioso, bateu em seu rosto e depois a chutou diversas vezes quando já estava caída no chão.

Quando termina o relato, os olhos de Alice estão cheios de lágrimas.

Ajoelho-me diante dela. Afago suas costas e ela, por fim, me abraça. Deixo que libere todo o medo e angustia represados. Ficamos assim até que seu choro cesse. Vê-la tão vulnerável me sensibiliza de uma forma ilógica. Logo eu, que me afastei da convivência com humanos para me abster dos sentimentos.

- Como foi que me fez sentir aquelas coisas? - ela finalmente expõe em forma de pergunta a sua inquietação. Suas mãos voltam para o colo e torcem o pano da toalha.

- Quando tomei seu sangue fiquei inebriado de luxúria. Houve uma conexão instantânea entre nós naquele momento. Algo raro, por que você é uma humana e nós não nos ligamos desse jeito à sua raça.

- Também senti essa conexão. Primeiro, achei ser o pânico a confundir meus sentidos. Mas agora, pensando melhor, vejo que é mais. Algo que eu não consigo colocar em palavras.

- Você é virgem - ela me olha surpresa e depois cora - não me entenda mal, não estou julgando, mas isso pode explicar essa conjunção. Você nunca experimentou o prazer da união carnal.

- Jamais me entreguei a um homem por não sentir que fosse o certo. Eu também não tive em nenhum relacionamento concreto - o fato de Alice mencionar outros homens me faz enrijecer e crescer em mim uma vontade de marcá-la - já você, nem o perigo conseguiu nublar a nossa atração. Bastou você me olhar e eu sabia que podia lhe confiar minha vida. O que é uma coisa louca, porque nos conhecemos há poucas horas, e em uma situação nada favorável.

- Ah é? Você sabe me decifrar só pelo olhar? - tento incitá-la. De repente, aquela conversa passou a ser uma perseguição de gato e rato, onde eu a queria rendida sob o meu domínio - e o que meus olhos dizem agora?

Alice me fita por um instante e não titubeia ao falar.

- Que você quer fazer amor comigo, do mesmo jeito que eu quero me entregar para você, Van Dorran.

A sua frase direta me captura e lá está novamente entre nós, o desejo pulsante, envolvendo-nos e nos conectando. Dessa vez, sem hipnose da alimentação, nosso olhar revela palavras não ditas, e que não caberiam no momento, por não poder ser explicado. A necessidade de dominar Alice é tão intensa que me assusta.

Tento me controlar para não assustá-la. Se ela vai me entregar algo tão precioso, quero que esse momento seja doce. Toco a sua face ainda molhada pelas lágrimas. Deslizo o polegar até os seus lábios. Ela tem um corte ali. Cubro-o com um beijo. Alice repete o mesmo gesto.

- Sua pele não é fria - ela constata como uma novidade.

- Isto é porque seu sangue corre em minhas veias, pequena.

Sei que seu consciente ainda processa o acontecido e as descobertas. É muita coisa com o que lidar. Alice desce as mãos pelo meu peito nu explorando e reconhecendo. Beijamo-nos. Um beijo explorador de línguas. Deixo que ela dite o ritmo. Agarro sua cintura e arrasto na cama, trazendo-a para perto. Alice ofega quando meu membro rijo toca o seu centro. Apenas minha toalha impede o contato carnal. Ela enlaça o meu pescoço e se deixa levar.

Mudo nossos corpos de posição tão rápido que a pequena solta um gritinho abafado quando percebe que estamos deitados na cama, comigo encaixado entre suas pernas. Ela não retrocede, então presumo aquilo como aprovação. Interrompo o contato de nossas bocas e me ponho de joelhos. Puxo a toalha que envolve seu corpo, viajando por cada detalhe perfeito aos meus olhos.

- Você é linda - constato ao vê-la sem nada, deitada na minha frente, disposta a tamanha entrega. Apesar de todos os hematomas roxos, as formas do seu corpo são como uma pintura rara.

As bochechas de Alice coram e seus braços sobem imediatamente para cobrir a nudez. Seguro com delicadeza e a faço retroceder.

- Nunca tenha vergonha da sua beleza.

Que saudades estava de publicar por aqui para vocês! A minha ausência foi devido a formatação para a publicação de Estrela Imperfeita em físico e a roteirização da nova história que logo logo será publicada aqui também

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Que saudades estava de publicar por aqui para vocês! A minha ausência foi devido a formatação para a publicação de Estrela Imperfeita em físico e a roteirização da nova história que logo logo será publicada aqui também. Vocês vão amar! Fiquem ligados!

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