Pas mal

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-  Pera aí, já se conhecem? - O amigo da esquerda pergunta.

- Também quero saber disso ai! - Mon dieu, nem  a conheço e já quer saber da minha vida. Pelo visto ganhei realmente uma sanguessuga.

- Ela me salvou de um quase atropelamento. 

- É, mais ou menos. - Seus olhos cintilam em minha direção, que imediatamente prendem a minha atenção.

Como pode ser suas íris serem tão belas? O que será que a imensidão azul-esverdeada está pensando neste exato momento?

- Ah, esqueci de apresentar os meninos, que cabeça a minha. - Charlotte se aproxima deles, ficando visível a diferença de tamanho entre eles. - Esse é o Louis - Diz  o abraçando.

- Beleza sablé aux fraises. - Não bate bem da cabeça só pode, quem chama uma pessoa de bolinho de morango?

- Vou bem obrigada.

- Eu sou Pierre Devereaux, encantado em revê-la mademoiselle. - E assim minha atenção se volta a àquele que em teoria salvei.

- Isabelle Weber, prazer. - Meio sem saber o que fazer, estendo minha mão para cumprimentá-lo.

Deus do céu, estender a mão? Isso não é um encontro de negócios ou algo do tipo. Certamente eu não iria o abraçar, então o aperto de mão me pareceu uma boa, meio que formal de mais.

- Ela é sempre formal assim? - Indaga Louis de canto a Charlotte.

- E bem reclusa, mas acho que daqui a pouco vai estar bem soltinha! 

Charlotte fala como se me conhecesse a tempos e não como se só tivesse me conhecido a poucas horas atrás. Na verdade, me sinto um pouco desconfortável com essa afirmação.

- Licença mas acho que esqueci meu livro na sala. - Saio antes que um deles possa fazer alguma objeção.

Estou realmente assustada com isso, todo esse entusiasmo essa disposição e principalmente a alegria. Pareço ranzinza com esses pensamentos, contudo nunca tive algo parecido com essas emoções. Sempre tudo foi rígido e criterioso. Quase cresci sem amor, o que me salvou foi minha avó.

- Ei, por que essa pressa? - Ele toca em meu ombro, me fazendo obviamente parar minha caminhada que mais parecia uma corrida.

- Preciso buscar meu livro.

O sinto dando a volta para que possamos assim ficar frente a frente. Que situação, uma bela de situação.

- Acho que isso é uma desculpa para se livrar da nossa companhia, estou certo?

- Sim.

- Ei, não posso conversar com alguém que fica olhando para o chão. - A forma como diz isso é tão suave que involuntariamente surge um sorriso em meus lábios.

- Desculpa. - Vale muito mais a pena ficar de cabeça erguida do que olhar para baixo, pois seu sorriso é largo, o que faz com que se formem ruguinhas nos cantos dos olhos.

- Por que se desculpar? Acho que quem deve dizer isso sou eu. - Fala coçando levemente a nuca com aquele sorriso ainda no rosto.

- Não sou acostumada a isso. - Recebo um olhar de confusão e trato logo de explicar melhor. - Sabe, alegria e euforia extrema.

- Ah sim, eu também não sou muito disso, gosto mais de ficar na minha.

Só balanço a cabeça em concordância, sem saber o certo o que fazer agora. Foi ele quem veio atrás, então não preciso puxar algum assunto. Até porque eu queria ir embora.

Encontrando um Q de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora