capítulo 3

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"Ruiva, tá ocupada?" Dalila apareceu na porta da sala da amiga.

"Pra você eu nunca tô ocupada, meu amor!" Valéria largou a pasta em cima da mesa e sorriu para a amiga.

"Nossa, se você tivesse me dito isso na faculdade, eu não seria sua sócia hoje, eu seria sua esposa." Ela fez a amiga gargalhar e sentou-se na cadeira de frente para a mesa de vidro negro. "Ai, essa reunião me cansou."

"Ah, a reunião? Não a festa que você madrugou, mas sim a reunião?"

"Sim, a festa é lazer. Se fosse pra cansar, se chamaria trabalho. E aí? Você disse que tinha uma coisa pra me contar. Diz."

Valéria mudou de feição, deixando o ar alegre ir embora e a preocupação tomando conta.

"Foi o Bruno."

"Ai, que saco! O que esse embuste fez agora?"

"A dra. Aline me ligou hoje. Disse que o procurador da audiência apresentou um novo documento pra ela. Um não, dois. Ele achou uma certidão de casamento nosso na igreja, anterior à data de casamento no civil, e que ele vai brigar pela guarda da Lorena."

Dalila ficou boquiaberta.

"A dra. Aline disse que a justiça me protege enquanto mãe, então, se não tiver nenhum motivo penal ou criminal que possa interferir, a guarda da Lorena é minha e ele perde. Mas quanto à certidão, não sei, preciso ver melhor sobre isso, mas parece que como ela é mais antiga que a certidão no civil, isso pode garantir alguns direitos pra ele, pensão, apresentação de testemunha para divisão de bens."

"Pensão?"

"É, ele pode pedir pensão alimentícia, ou um valor mensal até se restabelecer, alguma coisa assim. Como se ele tivesse muito infeliz e necessitado com a nova mulher dele."

"Isso não tem o menor sentido!"

"Eu não entendi direito, vou saber melhor na reunião de sexta-feira com a advogada, à qual você vai comigo. E vai pra audiência na segunda também."

"Eu? Olha, Val, ok que com diploma de ensino superior eu tenho direito à cela privativa, mas não quero perder meu réu primário com ele..."

"Dalila, eu preciso que você seja minha testemunha. A advogada falou que com essa certidão do religioso, ele tem direito de levar uma testemunha que confirma que eu quem fiz mal pra ele, que ele está devastado e que ao me casar no religioso eu quis sim dividir meus bens igualmente com ele."

"Isso nem faz sentido, meu!" Dalila passou a mão nos cabelos curtos.

"Eu sei. E ele vai levar a irmã dele, eu tenho certeza."

"Fudeu. Aquela mulher te odeia."

"Mas ele me traiu, ele me bateu e eu sei de alguém que, além de confirmar tudo isso pro juiz, odeia ele mais que a irmã dele me odeia."

"Quem?"

"Você!"

Dalila sorriu diabólica, ela sabia ser surtada às vezes.

"Não sorri assim, eu tenho medo." Valéria contou. "Por favor, amiga. Eu preciso que você vá comigo. Ninguém mais viu o tapa que ele me deu."

"Nem precisava ter me contado tudo isso, eu iria de qualquer jeito. Mas eu sou curiosa, né? Claro que eu vou."

"Tem a reunião sexta, pra acertar os detalhes da audiência e na segunda-feira de manhã, a sessão."

"Tá certo. Eu vou com você, claro."

She keeps me warmWhere stories live. Discover now