capítulo 21

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"Mãe?" Lorena perguntou quando a mãe parou de responde-la. Automaticamente, ela soltou-se do seu assento elevado e pulou para o banco da frente.

"O que você falou?" Valéria perguntou olhando para a filha com um misto de raiva e medo.

A pequena tomou fôlego como se fosse gente grande organizando seus pensamentos até começar a contar tudo.

"No dia que a gente foi conversar com a juíza, ela perguntou com quem que eu queria morar, depois de outras perguntas, né... E o papai tinha falado que eu poderia ir estudar em outra escola se eu fosse morar com ele e que se eu fosse mesmo, você ia ficar com saudade, ia visitar e não ia mais querer sair de perto da gente, e aí vocês iam ficar juntos de novo. Eu achei que era verdade. Aí eu falei que eu queria ir pra casa do papi. Mas é só porque eu não sabia de toda a história. A tia Dalila contou que o papi machucou você. E eu não gostei de saber disso e também se eu soubesse, eu não tinha falado que queria ir morar com ele. É que eu não sabia... Eu achei que vocês só tinham brigado." Lorena estava preocupada, a ponta de seu nariz estava vermelha, como sempre ficava quando ela estava prestes à chorar.

Valéria por sua vez já estava com lágrimas nas bochechas. Ela passou os dedos pelo nariz, tentando eliminar as gotas de água salgada fugitivas. Olhou para a rua, pensou e depois olhou para sua filha, sem dizer nenhuma palavra.

"Me desculpa, mamãe. Eu não sabia."

"O que você vai falar pra juíza?"

"Eu vou falar a verdade... Vou falar o que eu acabei de te falar e ela vai ter que deixar eu ficar com você. Eu quero continuar vendo o papai, mas você não precisa ver ele. Eu vou contar tudo pra ela e a gente vai ficar juntinha." A menina agarrou a mãe num abraço que a ruiva correspondeu, mas desviou o rosto ainda magoada.

"Você tá brava comigo, não tá?"

"Eu tô triste, só... Todo mundo mentiu pra mim. Você mentiu pra mim e foi grossa comigo várias vezes. Eu quase fiquei sem a sua guarda e eu achei que era por qualquer outra coisa, menos por sua vontade própria. Tudo bem, você não sabia de tudo e a culpa foi minha de não ter te contado, porque eu não queria que você soubesse da briga, mas eu achei que... Sei lá o que eu achei..." Valéria desistiu de falar e deu um beijo no topo da cabeça de Lorena. "Volta lá pra trás." A menina voltou para seu assento cabisbaixa e elas finalmente fizeram o caminho para casa.

Sexta-feira, 2 pm – Tribunal de Justiça Vara Cível de São Paulo

Dalila quem passou buscar a amiga em sua casa. Ela queria estar segura de quem Valéria estaria recomposta de tudo o que estava acontecendo para chegar no tribunal e ganhar aquela causa como tinha ganhado na reunião de venda com os investidores da nova filial, queria fazer seu papel de amiga e oferecer a força que saia que Valéria ia precisar. Tanto a ruiva quando a filha já estavam prontas no sofá, ambas caladas. Valéria por nervosismo e Lorena por culpa. Desde quando contara para sua mãe, se sentia culpada e triste por ver sua mãe naquela situação, mesmo que não entendesse direito o desfecho da coisa. Chegando no fórum, a dra. Aline já estava sentava com as pastas no colo, acompanhada de Norberto. Só faltava Camila chegar.

Todos notaram quando Bruno adentrou no local e sentou-se do outro lado do corredor com seu advogado e a irmã. Ele deu um sorriso cínico para Valéria e acenou mandando beijos no ar para a filha, que apenas acenou com a mão e olhou para o chão.

No momento em que o promotor apareceu para chamar os convocados, Camila chegou. Foi direto com todo o resto para a sala do tribunal.

"Declaro aberta esta sessão." A juíza foi direta. "Eu gostaria de começar pedindo a apresentação dos novos fatos de ambas as partes, começando pelo senhor Bruno Araújo."

She keeps me warmWhere stories live. Discover now