capítulo 14

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"Ci, eu vou dar um pulinho na casa do Paul, tá?" Camila deixou a sobrinha na frente de seu prédio.

"Beleza, eu acho que vou sair também."

"Tá bom. Beijo."

Camila ligou o rádio de seu carro e seguiu até a casa de seu amigo. Tocou o interfone do prédio e ele abriu o portão de entrada, liberando sua passagem. Ela subiu dois lances de escadas e encontrou a porta do apartamento de Paul aberto.

"Oi, Mila." Ele disse sem tirar os olhos do que estava fazendo. Estava sentado à mesa de madeira, usando apenas uma samba-canção, descalço e sem camisa. O ventilador pequeno estava ligado em sua direção na menor velocidade. "Senta aí, eu tô corrigindo umas provas pra amanhã. Tem café na garrafa, acabei de fazer."

Camila foi em direção à cozinha e já se serviu, encostando-se no balcão que separar a cozinha da sala de seu amigo.

"Que foi? Sua cara não tá boa..."

"Paul, eu fiz uma coisa tão errada, mas tão errada que eu nem consigo pensar direito."

"Se for sobre a ruiva lá, Valéria, né? Se for sobre ela, ok, não era o mais correto, mas relaxa. Acontece... Só transfere o caso dela se isso estiver te deixando mal... Você não ia falar com aquele seu professor?"

"Eu falsifiquei a assinatura dele no laudo que eu mandei pra justiça." Ela confessou.

"Como é que é?" Paul largou a caneta vermelha que tinha nas mãos e encarou sua amiga. "Camila, você falsificou uma assinatura que foi pra justiça? Camila, isso é crime de identidade, pelo amor de Deus."

"Eu sei! Eu sei disso. É por isso que eu tô com medo!"

"Camila, meu, porque você fez isso?"

"Eu fiquei nervosa. Eu não sei! Eu fiquei muito nervosa. Eu não queria passar o caso pro Norberto naquela hora, porque ele ia falar que a Lorena estava relativamente bem até o dia de entregar o laudo. Eu sei que ela não estava, assim, ela tá bem, mas instável, sabe? Não tá lidando bem com a situação. E se ele falasse que tava tudo bem, eu sabia que a Lorena ia querer ir com o pai dela, e a Valéria ia ficar arrasada e ia sei lá, brigar comigo, nem ia querer saber de olhar na minha cara. Ok, é besteira, visto que eu acabei de conhecer ela, mas sei lá, eu gostei dela. E eu não queria acabar com a família dela desse jeito. Ia ser culpa minha, sabe? Então eu escrevi o laudo, mas assinei como se fosse o meu professor. Dei um parecer no final, com a minha assinatura, mas a assinatura principal eu coloquei a dele. Mas a minha intenção era realmente de passar pra ele o caso, depois da audiência. Eu consegui ganhar tempo pra Lorena e pra Valéria. Só que o meu professor apareceu lá no meu consultório hoje e ele disse que se aposentou, parou até de pagar o conselho. Sabe o que isso significa? Que ele não tem mais CRP, ou seja, que ele não pode mais estar vinculado com o exercício de psicólogo. Se alguém pegar esse laudo, e vão pegar porque em um ano via ter outra audiência, eles vão questionar o Norberto e ele vai descobrir, e todo mundo vai descobrir, além de eu fazer ele se enroscar por ter "assinado" algo que ele nem poderia ter assinado, eu vou pra cadeia. Eu vou ser presa, vou perder minha licença e ser presa. E a Valéria ainda vai perder a guarda da filha dela porque vão achar que eu fiz isso pra proteger ela. Vão descobrir tudo e eu vou estragar tudo e apodrecer na cadeia."

"Caralho, Camila." Paul ficou em pé, passando as mãos no cabelo em nervosismo. Camila nem conseguia chorar de tão nervosa que estava. "Caralho, como é que você fez uma coisa dessas? Puta merda, eu nem sei como eu vou te ajudar..."

"Não tem como me ajudar."

"Não. Calma. Tem sim. Calma." Paul ficou quieto. "Você tem que contar pro Norberto isso. Sei lá, explica tudo. Você já tinha ido conversar com ele, não foi? Conta isso pra ele. Ele sabendo da história, pelo menos, ele pode sei lá, dar um migué de que não sabia que ia se aposentar. Ele pode querer te ajudar e dizer que foi ele quem assinou o laudo."

She keeps me warmWhere stories live. Discover now