Há convites que não devem ser aceitos.
Há acordos que não devem ser selados.
Yeji e seus amigos não sabiam disso até ser tarde demais para voltar atrás.
Por isso, alerto-o, caro leitor: se um dia vier visitar a cidade de Coimbra, na noite de Hallowe...
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Coimbra, 31 de outubro de 1819
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A densa neblina cobria os arredores do casarão da colina mais alta de Coimbra, o único casarão avantajado da pequena cidade, de modo que os moradores não conseguiam apreciar sua magnitude na noite quente e festiva que se iniciava.
Uma mulher de cabelos compridos e pretos se aproximou das vidraças da sala. A pouca luz fazia sua pele alva parecer fantasmagórica.
Através da neblina tudo que conseguia enxergar eram as lanternas acesas abaixo da colina, nas ruas da cidade que a cercavam.
Uma comemoração. A primeira do acordo selado entre o prefeito da cidade e ela.
Ninguém, jamais, se aproximou daquele lugar. O alto da colina era evitado desde o primeiro assentamento, em 1519; o ar tenebroso que o local irradiava era capaz de afastar até as almas penadas ─ que temiam acabar presas em uma armadilha.
Claro que nenhum povo jamais ficou naquela cidade por mais de um ano, pois esse era o tempo que levavam para perceber que o solo era infértil, que a chuva jamais caia. Era uma terra árida. Há muito usada pelos indígenas como cemitério, e após a colonização, abandonada.
Mas Marcus Da Veiga, o primeiro prefeito da cidade, era ganancioso. Ele jamais abriria mão do poder que possuía sobre a pequena cidade. Por isso, apesar dos rumores, se aproximou do casarão da colina há alguns dias.
Seres humanos são frágeis e gananciosos. O homem não hesitou ao assinar o contrato, nem ao menos questionou o que uma jovem mulher poderia fazer para tornar uma terra árida em fértil.
Ou mesmo se preocupou sobre o que precisaria dar em troca de ter seu desejo concedido.
Tão menos se perguntou como alguém podia viver ali, naquela colina, com árvores secas e grama morta ao redor.
Ele teria aceitado suas exigências se soubesse quem era ela?
Um sorriso macabro surgiu nos lábios pintados da mulher. Suas unhas batucaram a janela de forma rítmica.
─ Tem certeza de que eles virão? – indagou a voz rouca vindo de algum lugar na escuridão atrás dela.
Não precisava se virar para saber quem era. Os olhos vermelhos cor de fogo fitaram os negros como a noite através do reflexo da janela.
─ É claro que virão. A ganância do homem vale alguns sacrifícios.
O salão estava pronto. A decoração estava feita. Agora só faltavam os convidados chegarem.