Há convites que não devem ser aceitos.
Há acordos que não devem ser selados.
Yeji e seus amigos não sabiam disso até ser tarde demais para voltar atrás.
Por isso, alerto-o, caro leitor: se um dia vier visitar a cidade de Coimbra, na noite de Hallowe...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Coimbra, 24 de outubro, atualmente
❃
Aviões de papel voampela classe enquanto o professor explica a lição do quadro negro. O homem ajeita os óculos de aro redondo, irritado.
A presença dele é uma piada para os alunos do 3°D, a menor turma do Colégio Veiga, que abriga os cinco piores alunos do colégio.
O sinal toca. Todos saem em disparada, mais uma vez ignorando o professor.
Com um longo suspiro Yeji encosta a testa no metal frio do armário. Ao longo do corredor as conversas ecoam, incomodando-a.
─ Você está com uma cara horrível ─ a figura franzina de Lia para no armário ao seu lado. ─ Brigou com seu pai de novo?
─ Gostaria de dizer que foi o de sempre ─ ironiza ─ mas tive um sonho estranho. ─ A menina aperta as têmporas, fechando os olhos.
Uma casa escura. Silenciosa. Os móveis de madeira antiga cobertos por lençóis que mais pareciam fantasmas assombrando a velha construção. Papéis amarelados espalhados pelo piso. Um homem alto, de pele acobreada, a encarando. Um sorriso, aleijão de boca torta, em seu rosto medonho.
Gritos. Gritos desesperados vindo de algum lugar da casa cujo sangue fresco manchava os lençóis.
─ Terra para Yeji! ─ Lia balança os ombros dela ─ Ouviu o que eu disse?
─ Não... Sinto muito.
─ Como foi o sonho?
─ Esquece ─ Afasta o assunto com um aceno.
─ Aff ─ a menina revira os olhos ─ Recebeu o convite para a festa da novata?
─ Novata? ─ Yeji franze o rosto. Quem muda de escola em outubro? ─ Não. E não me importo. Preciso estudar se quiser sair desse fim de mundo.
Lia bufa revirando os olhos:
─ Ela entrou essa semana. Ticê, o nome dela, chegou na segunda. ─ Ela fita os olhos azuis profundos da amiga ─ E acha mesmo que pode recuperar tudo que perdemos faltando menos de dois meses para acabar o ano letivo?
─ Talvez eu deva deixar para o próximo ano? ─ Yeji ri, recuperando um pouco do bom humor e abrindo o armário.
Assim que troca os livros para a próxima aula, um pequeno envelope preto cai de suas coisas.
─ Você recebeu! Temos que combinar nossos looks!
Torcendo o nariz para a empolgação de Lia, a menina se abaixa para pegar o papel.
''Para Yeji''
Seu nome está escrito em letras elegantes e cursivas. A apreensão que sentia antes a arrebata mais uma vez. Com o coração inquieto, abre o envelope.
''Você foi selecionada para participar da Colheita, a maior festa do ano!Dia: 31 de outubro. Onde? Subindo a Colina ─ o único casarão, bobinha!''
O estômago dela se contorce com um frio incômodo ao bater à porta do armário crispando os lábios.
O casarão da colina... ninguém jamais se aproxima daquele lugar. Por que alguém, de repente, se mudou para lá?
Um arrepio percorre sua espinha.
As lembranças do sonho invadem a mente dela. O homem com o olhar doentio. O sorriso medonho.
E o que lhe comprimia as entranhas desde que abriu o armário... o convite.
As abóboras e aranhas pintadas nas pontas amareladas são iguais aos dos papéis espalhados sobre o piso em seu sonho.