the post-it girl

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Max se sentava na penúltima carteira da segunda fileira, Jane se sentava na terceira carteira da primeira fileira nas aulas de literatura inglesa, e, vez ou outra Max se pegava olhando para Jane. A ruiva as vezes parava pra pensar como um ser humano podia ser tão bonito, já até criou teorias sobre Hopper ser uma espécie de anjo ou extraterrestre dotado de beleza.

De tanto observa-la acabou percebendo alguns costumes da garota, como, por exemplo: que ela morde a tampa da caneta quando presta atenção na aula, ou que bota a língua entre os dentes quando sorri, ou até mesmo o fato de ela estreitar os olhos para ler o que está escrito no quadro (Max tinha quase certeza de que a garota tinha miopia, mas não queria contar para não ter que usar óculos).

Muitos invejavam as características físicas da garota; sua cintura pequena; seus seios fartos; a bunda grande; as pernas longas; seu narizinho arrebitado; os lábios rosados e carnudos; o cabelo... Tudo que agrade os olhos alheios. Mas Maxine não, a única coisa que Max invejava era a facilidade com que a garota fazia amigos e como era cativante ficar ao lado dela.

Alguns diriam que Max era obcecada pela El, mas ela apenas se considera uma observadora. Uma das consequências de ser uma pessoa quieta: perceber tudo o que acontece a sua volta.

××

"Beep beep Maxine, diga-nos qual seus planos para esse final de semana" Richie falou, com uma de suas vozes, abraçando Max e a puxando para perto.

Max riu do amigo e retirou o braço que estava sobre seu ombro. Richie sempre a abordava com uma voz diferente e sempre lhe causava risada. já Eddie, que sempre acompanhava Richie, nem sequer dava um "oi", já chegava reclamando de algum professor ou de algum colega de classe.

"Não sei, estava pensando em assistir algum filme no shopping" a ruiva disse apertando o livro que estava em sua mão "O que acham?"

"Acho bom, eu realmente queria uma desculpa para fugir da minha mãe" Eddie riu sem humor.

"Eu estava pensando em ir na festa da Beverly" o garoto ajeitou seus óculos em seu rosto e olhou para os amigos para ver o que achavam sobre a ideia.

"Beverly? Beverly Marsh?" Max indagou intercalando o olhar entre Richie e Eddie.

"Acho incrível sua capacidade de falar merda, Richie. A Beverly nem fala mas com a gente" Eddie resmunga.

Eles eram grandes amigos quando moravam em Derry, mas quando mudaram para Hawkins a garota começou a ficar popular e depois se esqueceu de seus antigos amigos.

"Ela ainda gosta da gente, eu sei que gosta. E além do mais, ela convidou quase todo mundo, vai nos convidar também."

"Eu vou ir ler, gente." Max disse se esquivando do assunto "não se matem." parando em frente a porta do banheiro a ruiva se despediu dos garotos.

"Não prometemos nada" disseram em uníssono.

A ruiva revirou os olhos e entrou no banheiro, sumindo da vista dos garotos.

"É muito anti-higiênico ela ler no banheiro. Será que ela já ouvir falar em biblioteca? Quer dizer, em banheiros acontecem acidentes, tem milhões de bactérias..."

Richie fecha os olhos, procurando paciência para lidar com o menor e seus discursos.

××

Jane não gostava do refeitório, na verdade, não gostava de nada que envolvesse comida. O cheiro da comida, ouvir as pessoas mastigando, ver os diversos alimentos nas bandejas dos amigos fazia seu estômago roncar e implorar por comida.

Hoje quando El chegou no refeitório teve uma surpresa. No cardápio de hoje tinha pizza, a maior fraqueza da garota.

"Pizza! Em Derry não tínhamos essas mordomias" Ben disse, os olhinhos brilhando de felicidade.

"Vai comer El?" Bev perguntou, colocando a mão sobre o ombro da amiga.

"Acho que vou" forçou um sorriso "Quer dizer, um pedaço não vai fazer diferença". Ela queria acreditar em suas próprias palavras, queria mesmo, por isso as disse em voz alta.

Quando Jane era menor, ela vivia em um orfanato, a garota tinha o mau costume de despejar suas mágoas na comida, tendo como consequência alguns quilinhos a mais. Crianças são cruéis, pessoas mais velhas também, ela cresceu ouvindo sobre o quanto estava gorda e que, se um dia quisesse alguém que realmente a amasse, deveria emagrecer.

A cada pedaço que a garota comia seu estômago implorava por mais, todos os dias, horas e minutos que Jane ficou sem comer foram compensados em apenas alguns minutos naquele refeitório.

"Wow, vai com calma. a comida não vai fugir" Beverly da um soco no braço do namorado, o fuzilando com os olhos.

Bev era a única que sabia sobre os problemas de El, ela sempre tentava ajudar a amiga e fazia o possível para vê-la bem.

Jane sorriu para Ben mas Beverly viu seus olhos ficarem brilhantes e cheios de lágrimas. Xingando mentalmente seu namorado Bev disse:

"Não liga pra ele, El. O senhor Benjamim não sabe medir suas palavras" disse aumentando seu tom de voz na última frase.

Um sentimento ruim tomou conta do peito de Jane, algo como desespero misturado com culpa e tristeza. Aquilo foi tomando conta dela e fazendo-a se sentir horrível, como se o fato de ela ter comido a transformasse na pior pessoa do mundo. Jane se levantou em um pulo do banco e correu na direção do banheiro, com os refluxos queimando em sua garganta.

Ela correu rapidamente pelos corredores, esbarrando toda hora em alguém e não podendo pedir desculpas para ninguém, pois ela só queria chegar logo ao banheiro e tirar a comida de seu estômago o mais rápido possível.

Com um empurrão ela abriu a grande porta e entrou na primeira cabine que viu que estava vazia, trancou a porta, se debruçou sobre o sanitário, colocou dois dedos contra a garganta e vomitou seu almoço.

Os sons eram altos e, como o banheiro estava quase vazio, era possível ouvir tudo o que acontecia na primeira cabine do banheiro feminino.

Max estava concentrada em seu livro quando ouviu os sons terríveis da cabine ao lado. Sons de tosse, ânsias vazias e algo forçando contra a garganta da garota. Franzino o cenho a ruiva fechou seu livro e prestou atenção no que acontecia do outro lado da parede de gesso. Após alguns minutos os sons pararam, mas um choro baixinho pode ser ouvido.

Jane se encostou na parede e jogou a cabeça para trás, sentindo vergonha por ter feito o que fez. El estava perdida em seus pensamentos mas uma batida na parede a fez despertar, ela olhou em direção ao som e viu um pequeno post-it amarelo colado no chão. Nele tinha uma letra delicada escrito "Você está bem?"

Jane franziu o cenho, mas sorriu, uma mão atravessou o pequeno espaço entre as cabines. Era uma mão pálida, com algumas sardas, dedos longos e as unhas pintadas de um verde claro, seus longos dedos estavam segurando uma caneta azul. Ela queria que Jane escrevessem uma resposta no post-it.

broken poetry || elmax {HIATUS}Onde histórias criam vida. Descubra agora