Prólogo. {Jungkook}

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Nunca mais beberei.

Esse é o meu primeiro pensamento, assim que abro os olhos.

Minha boca está tão seca que parece a porra do deserto do Saara. Sinto a cabeça latejar, tento me levantar para buscar um analgésico e aplacar a dor infernal, mas sou impedido porque algo está me prendendo a cama. 

Que porra é essa?

AI, MEU DEUS!!

Alguém está me abraçando.

Será que algum maluco estuprador entrou no meu apartamento? Não pode ser...

Com o coração quase saltando pela boca, tateio o criado-mudo em busca dos meus óculos de grau, mas não o acho. Droga! Onde será que eu o deixei?

Um gemido alto, rouco, de homem toma conta do ambiente e percebo que não saiu de mim.

Ele, seja quem for, afasta o corpo do meu. O vulto — que é tudo o que vejo sem óculos — se senta na cama e coça os olhos. Me levanto num pulo, mas tropeço em algo e acabo caindo no chão.

— Quem é você? — o invasor pergunta, como se não soubesse a resposta.

— Eu é que pergunto! Que porra você está fazendo no meu quarto. NA MINHA CAMA! — levanto-me do chão, com os punhos erguidos, caso ele queira me atacar. O que é inútil, já que nem sei em que direção bater.

— É aí que se engana. Essa casa é minha, e ao que parece o invasor não sou eu. Parece que você entrou no meu quarto enquanto eu dormia.

Olho ao redor e começo a perceber, envergonhado, que as paredes desse quarto não são roxas como as do meu. É tudo clarinho, quase como neve.

Ai, merda!

Entrei em algum apartamento errado.
O que eu fiz? Como vim parar aqui?!

Minhas bochechas pegam fogo. Engulo em seco e tento fazer a voz soar o mais doce possível.

— Eu... Não sei como vim parar aqui... Você pode me ajudar a achar os meus óculos? Eu não enxergo nada sem eles.

Uma gargalhada alta ecoa pelo ambiente e bufo de raiva. Ele está achando essa situação engraçada? Isso é humilhante, isso sim!

— Senhor...?

Quem usa senhor nos dias de hoje? Decido, por educação, não fazer esse comentário em voz alta.

— Jungkook. Eu me chamo Jungkook.

— Eu não sei quem é você. — A voz ecoa com repulsa. — Mas quero que dê o fora daqui. AGORA.

A grosseria me fez estremecer, de raiva e vergonha.

Que porra bebi ontem a ponto de parar em uma casa estranha? Se não me lembro disso, tenha até medo do resto...

— Nós...?

— Nem ouse insinuar isso. Sua existência na cama foi descoberta no momento em que acordei.

Suspiro de alívio. Graças aos céus! Pelo menos tinha sido salva do sexo com o desconhecido.

— Bom, me desculpa pelo ocorrido. Não acontecerá novamente.

— Pode ter certeza. Agora verificarei a porta todas as vezes antes de ir dormir. Caso contrário, posso acordar com um maluco comigo na cama, achando que sou um estuprador.

— Eu não... — Tento me defender, mas ele nem me dá tempo de terminar.

— Mas pensou. Sei ler bem as pessoas. — ele faz uma pausa e pega algo do chão. Estende a mão para mim e percebo que são os meus óculos.

Coloco-os e olho para frente. Puta merda... De onde saiu esse homem?

Toda raiva, vergonha e humilhação vão embora diante da visão diante de mim.

O homem é o pecado em pessoa. A barba rente ao rosto, os lábios, os olhos escuros penetrantes, os cabelos desalinhados... Minha nossa senhora! Um tanquinho que faz o meu queixo cair. É um conjunto completo, que o torna um pedaço de mau caminho.

— Vejo que agora está enxergando.

Tiro os olhos do corpo dele e as minhas bochechas mais uma vez incendeiam. Tento me recompor.

— Sim, obrigado. Bom, já vou indo.

Pego minha mochila, que de alguma forma acabou caída ao lado da cama. Coloco meu All Star e saio dali. Mas não antes de constatar que esse é o apartamento mais organizado que já vi na vida. Na sala e no quarto, há poucos itens de decoração. Tudo nesse apartamento é minimalista e limpo, completamente diferente da minha bagunça habitual.

Ele coça a garganta e eu apresso o passo.

Espero nunca mais vê-lo. A humilhação de hoje já foi o suficiente para a vida toda.

Como fui parar em seu apartamento, pelo jeito, será uma eterna incógnita. Havia saído para beber sozinho em um bar perto de casa, após ser demitido, mas o que aconteceu depois? Não faço ideia.

Só quando puxo a maçaneta e vejo o corredor é que me dou conta de onde estou.

O destino tem um senso de humor estranho... Porque o homem que eu desejo nunca mais ver, é o meu novo e odiável vizinho.

Odiável Vizinho. {kth+jjk} {taekook/vkook} Onde histórias criam vida. Descubra agora