۪۫❁ཻུ۪۪⸙͎ Capítulo 6 - Reescrever

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DE ONDE NASCEM
OS TRAUMAS

Chegar em um lugar como aqueles, que nos recebem de braços abertos parecia mesmo uma salvação e embora eu quisesse me divertir ou ser feliz, alguma coisa me impedia

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Chegar em um lugar como aqueles, que nos recebem de braços abertos parecia mesmo uma salvação e embora eu quisesse me divertir ou ser feliz, alguma coisa me impedia. Talvez só o fato da minha existência era preocupante.

A história da minha vida se espalhava por aí, as pessoas me chamavam de criança amaldiçoada e coisas do tipo e dessa forma, era um pouco complicado conseguir uma família. Tudo bem, eu estava bem. As crianças eram gentis, as merendas eram deliciosas mesmo que não fossem tão finas. As pessoas que trabalhavam lá, lutavam por nosso bem estar, e eu sinceramente não queria ter uma família naquele momento.

⇀Vamos brincar lá fora? ⇀Benedito sempre estava disposto a tentar, mesmo que eu jamais tivesse brincado com ele nos quatro meses que eu estava ali.

⇀Tudo bem, não posso. Vou ficar olhando da janela. ⇀Eram sempre as mesmas desculpas, e ele sabia disso.

⇀Tudo bem, quando se sentir segura, brinque conosco. ⇀Ele sorria fofo.

Benedito era diferente das outras crianças. Ele tinha uma personalidade engraçada e não tinha vergonha de nada. Tinha umas exigências gritantes, como por exemplo, se sentar no mesmo lugar. Comer usando os mesmos pratos e com as mesmas pessoas. Se não fosse do seu jeito, não seria de jeito algum.
Ele era baixo, tinha uma pele negra escura e um sorriso sem as presas, era de fato algo comum para jovens de doze anos.

As vezes falava tão alto em momentos de silêncio que ninguém jamais o perdera de vista. Ele só ficava ali para acompanhar sua mãe merendeira, mas sempre ao final das tardes, eles voltavam para suas casas.
Durante as noites eu até sentia falta da sua compulsão por falar sem parar, ele realmente era muito entusiasmado.

Todos diziam que Benedito era especial, e de fato ele era, uma criança que despertava em todos um desejo grande de atenção. Todas as crianças queriam estar ao redor dele, pois o garoto criava as melhores brincadeiras e histórias, sua companhia era digna de verdadeiras aventuras. Desde os céus aos mares, sem sair de um único cômodo.

Em uma manhã um tanto quanto comum, recebemos uma ligação e a expressão de Carla que era uma atendente do orfanato, mudou completamente.

⇀Eles estão livres...

Ela falou olhando Pedro que fechou o cenho imediatamente e olhou as crianças brincando até que parou sua expressão em minha direção. Nesse momento eu já sabia que o problema eram os velhos.

Meu coração pulsou forte, e inevitavelmente as lembranças de uma grande confusão me veio à tona.
Corri até o banheiro feminino e me tranquei em um dos espaços. Abaixei a tampa do vazo e abracei os joelhos. Minhas mãos tremiam e eu não queria estar ali, era fácil de me encontrar. Fugir, também, não era uma opção viável, ainda mais após todos os casos que acompanhei naquele orfanato. Histórias de crianças que sinceramente me deixavam no chinelo.

Em meio a todos aqueles pensamentos, um barulho me tirou de meu transe. Passos largos e rápidos que pararam na frente da minha porta. E uma voz doce de mulher ecoou ali:

⇀Está tudo bem Cecília, você virá para casa, comigo e com o Ben. ⇀Era Joana, a merendeira mãe de Benedito.

Minhas mãos pararam por um segundo, e mesmo que eu não emitisse sons de choro ou algo do tipo, ela notou que eu não estava totalmente confiante.

⇀Não fique tão preocupada, você não tem culpa de nada disso. Se deixar, vamos levar você para casa e você vai se sentir melhor depois, ninguém vai te encontrar lá e então, poderá ser uma criança normal novamente.

Suas palavras eram doces e gentis, mas só de pensar em tornar o lar deles em um inferno, eu não estava pronta para aquilo. Será que talvez fosse justo com eles? Me dar carinho e afeição e então eu os amaldiçoá-los com toda essa tragédia que me rondava?

⇀Sinto muito, não posso botar vocês em risco. Eles são assassinos, e não vão me deixar em paz. Não sei como seria se eu destruísse mais um lar com essa praga que me persegue ⇀ As palavras definitivamente saíam de minha boca com ódio e tristeza.

⇀Cecília, você precisa entender que o mundo está cheio de pessoas ruins, e que infelizmente as pessoas boas tem a sina de encontra-los primeiro, como uma missão de tornar suas almas puras de novo ⇀ Soava esperançosa, de uma maneira como eu não havia visto.

⇀Suas palavras são doces... Mas nada disso vai me fazer mudar de ideia sobre o que sou e o mal que eu carrego.

⇀Anda, abra logo essa porta, meu anjo. Sou velha demais para ficar agachada falando por uma brecha ⇀Ela ria e eu conseguia ouvir ela se levantar com dificuldade.

⇀VAMOS, CECÍLIA! ⇀Gritou Benedito ⇀Preciso te mostrar os meus trenzinhos...

A alegria do garoto me deixava entusiasmada, e eu com toda a certeza não queria voltar a ver aqueles velhos mentirosos. Meus olhos choravam com ódio só de me lembrar de como eles eram asquerosos.

⇀Eu posso cozinhar coisas deliciosas em casa, tenho ingredientes e você fará companhia ao Ben para me ajudar... Que tal? ⇀Ela era um doce de pessoa, e por mais que eu temesse por levar essa praga comigo, eu estava disposta a sumir.

⇀Tudo bem, tia.

Desdobrei meus joelhos e pus os pés no chão, de maneira sorrateira e silenciosa. Abri o trinco da porta e pude vê-los bem a minha frente com um sorriso extravagante no rosto.

⇀Finalmente, eu já tava cansado de ficar em pé a noite toda. ⇀Ben era sincero e sua expressão de impaciente me fez rir baixo.

⇀Seja o Benedito, não é mesmo? ⇀Sua mãe zombava a todo o momento das peculiaridades do garoto, e ele aprendera desde sempre que era assim que deveria levar as coisas... Na brincadeira.

⇀Bom, então apenas me deixem buscar as roupas que me doaram, assim estarei pronta para ir.

Sorri fraco caminhando na frente um tanto quanto apressada, enquanto Benedito e Joana me aguardavam na porta da frente.

Eu não sabia o que me reservava dali para frente, mas de uma coisa eu tinha certeza absoluta... Aqueles velhos não iriam parar até que descobrissem minha estadia e me arrastassem de volta para a fazenda, convivendo com os assassinos dos meus pais como se nada tivesse acontecido.

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