۪۫❁ཻུ۪۪⸙͎ Capítulo 1 - Chorei

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DE ONDE NASCEM
OS TRAUMAS

DE ONDE NASCEMOS TRAUMAS

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〔 Narrado por Cecília ❳

Treze...

Era meu aniversário, aquele dia com o qual eu talvez tivesse sonhado, mas que agora já se misturava com os vastos pesadelos que acumulei.

De certo naquela manhã eu estava um pouco sentimental. Estava calor, sempre fazia calor, mas a melhor parte de estar no interior, era a vasta profundidade em que se podia correr por dentro das matas, ou as represas médias em que se podiam pescar aos inícios da manhã.

Lembro-me disso. De quando eu era pequena e meus pais ainda estavam comigo. Era fácil lembrar de coisas assim, momentos.

Eu era uma colecionadora de momentos, e eles sempre representaram a felicidade. A felicidade para mim, eram como flashes de memórias. Você só guarda os que foram bons e deixa o resto para trás. Estava dando certo, até que os pesadelos começaram a sobrepor meus momentos de felicidade.

Lembro-me de todas as vezes em que chorei. Foram poucas, mas eu aprendi desde cedo que nem tudo merece suas lágrimas, muito menos pessoas. Minha mãe sempre ditava para mim "guarde suas lágrimas para momentos importantes, pois elas jamais voltaram", e eu ouvi, e o melhor, eu me agreguei à aquele sentimento.

A primeira vez que chorei foi quando perdi meu pai. Lembro-me de correr em nossa fazenda, éramos privilegiados em abundância de terras e animais grandes como o gado. Meu pai sempre andava na roça com sua espingarda para assustar os ladrões de ouro. Naquela época boa parte do nosso terreno havia sido furado para a extração do metal, tudo isso sem o consentimento de meu pai. Acontece que quando ele descobriu, boa parte já havia sido levada, mas a maior preocupação dele era com a parte de suas terras que foram destruídas.

Em um momento um tanto quanto disperso, ouvi barulhos de tiros, foram 13 no total. Eram muitos tiros.

Corri até nossa casa, onde minha mãe me botou na prateleira de cima, dentro do guarda roupas. Eu ainda havia 7 anos quando isso aconteceu. Lembro-me de ouvir homens invadirem minha casa, e de ouvir minha mãe implorar por piedade, enquanto eles roubavam lustres de bronze e candelabros de prata, herança familiar.

O guarda-roupas era de madeira maciça, mas ao me colocar ali, uma pequena brecha fez com que o quarto de meus pais ficasse totalmente visível, mamãe estava com pressa, então não se certificou de que eu estava bem escondida.

Vi o homem atirar mamãe na cama de costas, e rasgar o seu vestido azul florido contra a sua vontade enquanto ela gritava. Meus olhos se encheram de lágrimas e então tapei minha boca com as mãos. Fechei os olhos com força e depois tapei os ouvidos. Não sabia se o que era mais difícil, ver ou ouvir ela gritar, ambos machucavam o meu coração. E essa foi a primeira vez em que eu chorei de verdade.

Naquele dia, após ela desmaiar. Os homens saíram, cheios de sacos. E eu corri até as portas e janelas e os tranquei imediatamente. Caminhei lentamente até minha mãe, e vi suas pernas cobertas com sangue.

Voltei até a porta e me certifiquei de que não havia ninguém. Era fim de tarde, e logo tudo ficaria muito escuro. Eu peguei dois baldes grandes, e busquei água no poço. A bomba estava desligada e eu não tinha permissão para mexer na caixa de energia, e mesmo que tivesse não saberia como ligar.

Fiz várias caminhadas até encher a banheira com água, e demorei mais um bom tempo para aquecer água e mornar tudo para o banho dela.

Me perguntava a todo instante onde é que meu pai estaria, e se ele chegaria logo para me ajudar com aquela situação, eu ainda podia ouvir os gritos estridentes dela e seu choro apavorante.

Assim que terminei, fui até ela que estava um pouco fria. Tentei acorda-la diversas vezes, mas foi muito difícil. Lembrei-me de que no estábulo, havia um carrinho de mão, e mesmo com medo do escuro corri até lá. Acendi as luzes por um instante para apanhá-lo e logo depois corri de volta para casa.

Por sorte minha mãe era pequena e magra, pude arrastá-la para o carrinho e depois de empurrar ela até a banheira. Cristo o que eu estava fazendo? Dando banho em minha mãe e segurando sua cabeça para não afogá-la.

Com o tempo ela ficou consciente, e ao ver ela acordar meu coração saltou aliviado, ela me olhou e sorriu, depois chorou por longos minutos. Entrei na banheira com ela e ficamos abraçadas até a água esfriar.

Ela nos fez um lanche com muito sacrifício, mas não quis me deixar fazer, disse que eu precisava ser forte. E logo depois fomos dormir, ou pelo menos fingir. Papai nunca voltou e mamãe passava todas as noites chorando, e eu sorri, para ela ter motivos para continuar lutando.

Dias depois, brincando de correr na floresta. Encontrei o corpo de meu pai. Ele estava coberto de sangue preto, e havia furos de balas em seu peito. As varejeiras haviam o encontrado primeiro que eu, e a cena fôra realmente perturbadora.

Eu comecei a gritar e me encolhi perto de uma árvore. Seu Toninho, um amigo da família, correu até mim, de certo acreditou que fosse uma cobra, mas no fim levou um susto tão grande quanto o meu.

Voltei aos abraços de minha mãe, que agora estava mais devastada que nunca.
Aquelas foram as duas vezes em que eu chorei profundamente. O que veio depois só corroeu meus sentimentos aos poucos.

A dor da perda era inevitável, minha mãe era forte, pois, tinha esperanças de que meu pai voltaria logo, mas se enganou quando formou essa teoria para si. Doeu muito mais encontrá-lo poucos dias depois e em um estado deplorável.

Ela havia se chocado tanto, que nem mais vivia, sobrevivia para me manter protegida, mas não sabia que seria por tão pouco tempo...

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