A jovem deusa se sentou a frente de sua esfera, esticando uma de suas mãos e mostrando uma cena que não ocorria muito longe, e que apenas ela era a testemunha do que ali era falado. Os sentimentos em seu peito eram conflitantes, sua mente sabia que era algo necessário, tanto para a morena quanto para o mundo, mas seu coração sangrava por ambas as pessoas que ali se encontram, distantes apenas por uma fria esfera de vidro, que a tornava apenas uma observadora, lhe impedindo de entrar e impedir o que ia acontecer e o tomar para si todo o peso.
O criador, assim como o era chamado O Deus, pai de todos os outros deuses e daquele mundo, que apenas tinha alguns traços de branco seus cachos castanhos avermelhados, que faziam seus olhos cor de ouro parecerem brilhar enquanto sorria para a jovem que adentrou o salão descalça e voou para os braços do pai.
Elina, a mais jovem e mais bela dos deuses, os cabelos do mais profundo negro e os olhos do pai, com uma pele beijada pelo sol e asas como nunca foram vistas, era conhecida tanto por sua beleza como sua crueldade, que na verdade não passava de uma menina mimada pelos pais.
Sua mente retorna para os acontecimentos presentes, onde ambos já aparentavam falar de modo mais alto e a morena lamuriava aos berros, suas asas se agitando com a intensidade de suas emoções, e ela só podia permanecer como uma observadora, apenas imaginando o que era falado lá, tomando as palavras que foram ditas para si e as moldando.
Foi necessário fechar os olhos, evitando de sua mente de viajar para o dia anterior, que se lembrava com uma tristeza precisão e seu peito se contorcia com as memórias e sua língua estava áspera, e se forçou a abrir os olhos. Sabia o que aconteceria a seguir, mas mesmo assim não estava preparada.
Viu o Criador se aproximar de Elina e puxar delicadamente as mãos que escondiam a face dela, e sorri com muito carinho antes de falar algo que a fez arregalar os olhos antes de seu corpo parecer que tinha levado um soco no estômago e ela desfalecer. Elina, inerte, estava nos braços do pai, que a carregou como se fosse a coisa mais delicada do mundo até deita-la sobre uma superfície mais alta, e ao soltar ela, o Criador se desfez ao ar, como um dente de leão ao vento.
Não aguentando mais ser apenas mais uma observadora, se levantou, a cadeira deslizando pelo piso enquanto ela já estava longe a correr e escancarou as portas do salão do rei, sentindo apenas um calor em seu rosto, como quando ficava tempo demais no sol, e passou por todo o seu corpo, e então ela soube.
E chorou. Chorou pois seu pai já não mais existia. Chorou por sua irmã, que jamais lembraria. E principalmente chorou por si, que agora carregava o mundo sozinha.
E agora, Amirah, a deusa do destino e do conhecimento, a eras esquecida, era a solitária regente deste mundo.
Elina flutuava.
Não sabia se estava no céu ou nas águas, ou até mesmo se estava no vazio, mas tinha a sensação que flutuava. Seu corpo não lhe respondia, desejava abrir os olhos, ou até mesmo mover um braço, mas nada lhe ouvia.
Era uma prisioneira em seu próprio corpo.
Sentiu algo em sua face, parecia mãos, que tremiam e eram levemente geladas, mas lhe deram a sensação de paz, o calor penetrando sua pele, invadindo sua mente e percorrendo levemente por todo o seu corpo.
"Durma" o calor parecia comandar em sua mente.
Algo estava faltando, ela sentia isso, mas o que?
"Durma" ele repetia suavemente.
Queria gritar, sentia como se uma parte de si estivesse sumindo, sentia como se algo seu já tivesse desaparecido, e que ela não tinha como recuperar.
"Durma."
Desta vez foi mais forte, como se soubesse que ela lutava contra, e ela tentou, sabia que tinha tentado, mas estava tão cansada...
Sua mente já não tinha forças para lutar contra o doce feitiço em sua mente, sentindo apenas sua consciência e parte de si desaparecer cada vez mais, até que sentiu.
Sentiu o vazio dentro de si, e jurou preenchê-lo de volta.
Porque essa era ela.
E ela não se perderia sem lutar.
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ℂ𝕣𝕪𝕤𝕥𝕒𝕝 𝔸𝕟𝕘𝕖𝕝 - 𝕋𝕙𝕖 𝔹𝕣𝕠𝕜𝕖𝕟 𝕎𝕠𝕣𝕝𝕕
FantasyUma garota há muito adormecida que de seu sono despertou. Pouco lhe resta de suas memórias, que insistem e surgir apenas quando lhe convém, e que lhe causa dor. O continente de Olyrum está a beira da destruição, e ela sabe disso. Mas seria ela capa...