Sabe aqueles momentos em que um sentimento de inquietação se estabelece em seu peito, onde não importa o que faça você não consegue o afastar e tem um leve caso de claustrofobia? Esse sentimento lhe é caracterizado como o desenrolar do destino, e ele fielmente acreditava que a deusa do destino fazia tudo por um motivo, e talvez, por isso, naquela manhã, saiu de sua casa e antes do sol despontar no horizonte, estando no campo de treinamento, usando um dos bonecos feitos de madeira para treinar luta corporal.As luvas de couro, gastas pelos anos de uso, permaneciam firme ao encontro da madeira, enquanto ele intercalava os passos, como se dançasse ao redor do boneco, suas asas se movendo instintivamente para lhe equilibrar. A camada de suor em sua pele, assim como o sol subindo perigosamente os muros externos do castelo lhe dizia que fazia horas que estava ali, mas não se importava, o aperto no peito do ruivo permanecia.
Com raiva, socou o boneco, partindo ele em dois pedaços que caíram no chão, deixando o ruivo abrindo e fechando as mãos, inquieto, cogitando buscar um dos bonecos giratórios com barras transversais, o forçaria além do limite com seus reflexos.
—Mais uma manhã em que sou arrancada da cama pois vieram me relatar que meu primo está no centro de treinamento tentando colapsar novamente. Se quer se matar, não faça isso na minha área por favor, Marquês
A voz levemente irritada o obrigou a olhar por cima do ombro, abaixando as asas para que conseguisse encarar sua prima. Quase poderiam ser irmãos, ambos eram ruivos, apesar de os cabelos presos de modo desleixado no alto da cabeça de Kethellyn lembravam mais a chama selvagem de uma fogueira enquanto seus próprios cabelos lhe lembravam mais o sol poente, e ela tinha a pele mais branca, ainda mais evidente em contraste com as asas negras imóveis atrás dela, enquanto ele possuía um forte bronzeado junto com a leve coloração mais escura que recebeu por parte de mãe e as asas brancas com um leve tom de dourado, era o único na família com asas claras, mas nunca tinha visto isso de forma negativa, pois isso o diferenciava de seus primos e tios, mas na infância, tinha lhe rendido um leve complexo de inferioridade
—Fala isso, mas me ama demais para me deixar treinar aqui sozinho. Que tal uma luta de aquecimento para começar o dia bem, capitã?
Erguia levemente os ombros enquanto um sorriso de deboche tomava lugar em sua face, se virando para a prima, reparando na simples túnica preta que usava sobre as calças velhas de treino e botas gastas pelo tempo. Sua prima não era uma pessoa que se dava bem com acordar cedo, quem dirá fazer exercícios logo após o sol nascer, o frio da noite ainda estando no ar.
—Se eu não vier você não vai parar até ter um colapso e termos de arrastar você até a Alexia - um suspiro escapa de seus lábios enquanto descruza os braços e se aproxima dele - Mas não foi só por isso que vim. Alguns de nossos jovens saíram para uma varredura, nada demais além de sobrevoar as ilhas desocupadas, e ainda não voltaram.
—São jovens que mal completaram a maioridade, provavelmente pararam na ilha Mykes e estão esbanjando que são da guarda imperial. Sabe que mesmo sendo apenas cadetes, eles são aclamados.
A capitã ergue a mão até o cabelo, afundando nas mechas e soltando o coque já frágil pelo vento do voo, caindo preguiçosamente ao redor de seu rosto, os olhos fundos pela falta de sono.
—Estão sem retorno desde ontem, e não posso enviar outros soldados atrás deles pois hoje é a seleção de novos recrutar, e você só tem de começar a trabalhar a partir de amanhã, então....
O rapaz se vira, cruzando os braços com uma sorriso ladino em seus lábios, tendo certeza do motivo pelo qual sua prima não iria ela mesma atrás de membros de sua tropa, pois ela os puxava para debaixo de suas asas e se considerava a protetora de cada um deles, e mesmo com a família sendo criada militarmente, ela construiu seu próprio caminho desde o início e se tornou a primeira capitã mulher do exército, o que o fazia se sentir orgulhoso dela e principalmente feliz em deixar o papel administrativo e chato de ficar trancado em uma sala o dia inteiro para ela.
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ℂ𝕣𝕪𝕤𝕥𝕒𝕝 𝔸𝕟𝕘𝕖𝕝 - 𝕋𝕙𝕖 𝔹𝕣𝕠𝕜𝕖𝕟 𝕎𝕠𝕣𝕝𝕕
FantasyUma garota há muito adormecida que de seu sono despertou. Pouco lhe resta de suas memórias, que insistem e surgir apenas quando lhe convém, e que lhe causa dor. O continente de Olyrum está a beira da destruição, e ela sabe disso. Mas seria ela capa...