Capítulo 2

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Kara Danvers P.O.V

Mais um dia de trabalho. Não tinha parado para descansar, meu corpo clamava por uma noite de sono mas não poderia me dar esse luxo. Em menos de uma hora precisava encontrar com mais uma das minhas clientes. A dessa vez seria uma bancária que sempre me procurava todas as quartas-feiras após seu expediente. Ela gostava que eu agisse como se fosse seu falecido marido, lhe comprava flores e outros presentes, tudo para que ela pensasse que eu era seu marido. A bancária era uma das minhas clientes que pagavam muito bem, além de me passar pelo seu marido–morto após um assalto no banco onde os dois trabalhavam, ela como atendente e ele como gerente–tinha que ficar após o sexo e dormir com ela até por volta das oito da manhã, esse era o horário onde ela se despedia de mim me desejando um bom dia de trabalho e em seguida me entregava o envelope com o dinheiro da noite. Quando conheci ela me senti um monstro por fazer aquela mulher acreditar em algo que, com certeza, não era verdade, mas quando via o sorriso dela todas as vezes–após uma dose de sexo selvagem–que eu lhe puxava para dormir em meu peito, me sentia um pouco mais tranquila, sabendo que aquilo era mais importante para ela do que realmente era pra mim, eu era uma tábua de salvação para aquela mulher.

Tomei um banho quente, deixando meus músculos doloridos relaxarem por alguns minutos. Já tinha atendido quatro clientes desde às três da tarde. Não poderia me esquecer de colocar alguns “auxiliares” na minha maleta, não poderia deixar a cliente na mão e não tinha certeza se me “animaria” pela quinta vez naquele dia. Foi-se o tempo onde eu consegui fazer vários programas por dia sem me preocupar em manter uma ereção. Sim, uma ereção. Sou intersexual e agradeço aos céus por ter nascido em uma família que me aceitou e cuidou de mim da forma que eu necessitava. Minha mãe sempre me deixou livre para escolher o que eu quisesse da minha vida, o que me ajudou na minha adolescência, fase que eu mais me vi em meio a encruzilhadas sobre minha sexualidade. Também foi a fase que eu mais sofri por ser diferente dos outros adolescentes da minha idade. Apanhava dos garotos da minha sala quase todos os dias, os piores dias eram as sextas-feiras– as quais eu tinha aulas de educação física–onde eu apanhava nua dentro do vestiário. Foram os piores três anos da minha vida, os quais me distanciei dos meus pais–por medo de represálias caso eles tomassem alguma atitude–, passei a usar roupas mais masculinas para que assim, talvez, eles me aceitassem e parassem de me espancar, o que não adiantou nada, continuei apanhando dobrado. Já na faculdade consegui ser aceita de primeira, minha condição se tornou alvo de curiosidade para quase todas as garotas, e alguns garotos. Usei disso para tentar curar minhas cicatrizes do passado, levando todas as garotas curiosas para cama sem me importar com o que diriam de mim. Mas apenas uma garota conseguiu dizer não pra mim de primeira sem se intimidar com o que eu poderia fazer ou se encantar com o que eu poderia lhe oferecer. Lena Luthor, a nerd ricaça que possuía um par de olhos verdes que me desarmava todas as vezes que tentava investir nela. Pensei em desistir dela várias vezes mas em uma festa, realizada pelos calouros para chamar a atenção dos veteranos, roubei um beijo dela no banheiro da casa onde estava ocorrendo a festa. Desde aquele beijo não parei de pensar nela, a via nos corredores daquela faculdade mas sempre recebia sua indiferença. Depois de alguns dias sem nos falarmos meu nervosismo foi às alturas, não aguentei e agarrei ela novamente no banheiro do segundo andar da faculdade. Ficamos naquilo, beijos escondidos no banheiro, durante alguns meses até que pedi ela em namoro. Sim, eu pedi ela em namoro mas com uma condição, não poderíamos contar para mais ninguém por enquanto. Ela aceitou, tivemos nossa primeira vez juntas–ela era virgem antes de se entregar para mim–, apresentei ela para os meus pais, que logo amaram ela–minha mãe chamava ela de filha– e juramos viver juntas pra sempre. Mas nem tudo foi flores, meus amigos começaram a desconfiar de mim por ter parado de levar várias garotas para a cama. Aceitei fazer uma festa no meu apartamento e nesse mesmo dia traí Lena com metade das calouras. Ficamos por meses sem nos falarmos, meses esses que me deixaram tão pra baixo que me apeguei as bebidas. Quando estava quase morrendo de overdose, Lena me salvou–tanto no sentido literal da palavra quanto no emocional. Voltamos a namorar com condições que estipulamos para que os outros não descobrissem, eu namoraria Alina, uma professora de literatura que eu conheci em meio a festas. Em um momento de raiva acabei com a única coisa que fazia sentido na minha vida, meu relacionamento com Lena. Alisson, a garota que estava desconfiando de mim e me odiando por ter rejeitado-a, nos pegou transando na biblioteca–ideia essa vinda de Lena. Acabei nosso namoro e transei com Alisson na minha caminhonete. No dia seguinte os boatos de que eu havia traído Alina com Alisson se espalharam, chegando aos ouvidos de Alina que acabou nosso “namoro”. Me formei mas um vazio enorme ficou dentro de mim, um vazio do tamanho de Lena.

The DealOnde histórias criam vida. Descubra agora