Prólogo

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Prólogo

Koster, Julho de 2017.

A sala estava com um clima tenso. O casal à esquerda do ambiente conversava baixinho e de maneira urgente, suas vozes reverberavam, não escondendo a conversa dos demais ocupantes do ambiente. O garoto que ajudava o pai parou embasbacado ouvindo a conversa, seu cérebro custava a acreditar no que ouvia, era surreal demais.

Contudo lá estava a prova bem diante de seus olhos. As garras animalescas que despontavam minutos antes das mãos de sua melhor amiga eram mesmo reais. Ele não queria acreditar, tão pouco poderia negar agora. O pai do rapaz ainda estava meio atordoado, os aranhões em seu braço ardiam e sangrava, ele não tinha ficado surpreso com o ataque em si, apenas com a rapidez com que ela tinha descoberto toda a verdade.

Pouco depois o casal saiu da sala, a garota nem mesmo se despediu, faria isso dias depois, na próxima vez que encontrasse com o homem mais velho. Pai e filho ficaram em silêncio por alguns segundos até que o vazio fosse rompido por perguntas.

- Que porra é essa? Que diabos acabou de acontecer?

O garoto, Lucius Montês, perguntou com a voz mais estrondosa que o normal. A porta do escritório abriu novamente, ele girou a cabeça na direção a tempo de ver a mãe passando por ela.

- Acho que não podemos adiar isso por mais tempo querido.

A mulher disse andando até o marido. Aquele momento era um dos que mais temeram, tentaram se planejar para quando chegasse, mas agora diante do filho perceberam o quanto não estavam preparados para isso.

- Sente Lucius, temos que contar algo para você. Na verdade tudo começa anos atrás...

Pela próxima meia hora homem e mulher contaram toda a sua história de vida, relatando os acontecimentos que os fizeram chegar até ali. Era até engraçado, de um jeito meio constrangedor, que os pais estivessem tensos esperando a resposta do filho. Ela demorou bastante para chegar.

- Eu mal posso acreditar em toda essa merda - a situação era tão complicada que o garoto nem mesmo foi repreendido pelo linguajar que usou – Vocês estão dizendo que Erin e eu somos... Que somos lobisomens? Até parece! Vocês quase me pegaram com essa história trágica que contaram.

- Você pode tentar negar, mas sabe que no fundo acredita em cada palavra. Você mesmo viu como Erin estava há minutos atrás.

Aquele era o ponto. O garoto acreditava, ele só não queria acreditar. Não queria dar vazão aquela loucura.

- Então eu e Erin somos primos? – até ai tudo bem para ele, era mesmo uma boa coisa, cimentava ainda mais a relação de amizade que tinham um com o outro, todo o resto parecia uma droga – Herdeiros de um sobrenome amaldiçoado.

- Os Carson foram amaldiçoados por mim e sua mãe, em conjunto de seu tio e tia, os pais de Erin. Não temos como negar. Espero que seja capaz de entender porque fizemos essas escolhas... É terrível, mas não sou capaz de me arrepender disso. Do contrário nunca teríamos tido você.

O garoto mesmo não tendo motivos para tal sentiu-se culpado pelo massacre que caiu sobre sua família, uma parte dele queria dizer o quanto os pais foram mesquinhos, a outra queria agradecer por terem lhe dado à vida.

- Então somos mesmo lobisomens?

Não achava que iria se acostumar algum dia com a palavra. Ele já tinha perguntado aquilo e aquela repetição de pergunta o fez lembrar-se da infância, quando estava na fase do "porque", sempre repetindo a mesma coisa.

- Bom, suponho que sim. – a mãe lhe respondeu.

- Supõe?!

- Quero dizer, com relação à Erin temos certeza, você mesmo viu, ela é um lobisomem. Ela ainda não passou pela transformação, mas logo vai acontecer. Acho que o que Sebastian e Catharina queriam para Erin não deu certo... Eles queriam que ela fosse capaz de ter apenas o lado bom de ser lobisomens, a vantagem física sem precisar se transformar.

Mãe e filho não notaram a reação do pai sobre as palavras ditas. Se tivessem prestando atenção a ele, teriam visto o quão tenso o homem ficou, desviando rapidamente os olhos e trincando o maxilar. Ele sabia que aquela não foi à busca de seu irmão, o mesmo tinha sido ainda mais audacioso com relação às mutações feitas na filha.

- E quanto a mim?

Mais silêncio. O casal se olhou decidindo quem contaria, por fim o homem suspirou.

- Não temos certeza. Você é um híbrido, de um lobisomem com uma bruxa. Isso nunca existiu antes. Não temos como saber os efeitos. Você pode ser um bruxo, um lobisomem ou até mesmo nenhum dos dois. Sua mãe nunca precisou enfeitiçar você como fez com Erin.

- Como posso saber?

- Nós dois achamos que a única forma de descobrir é com um Elo, ele ativaria seus genes. Isso se você despertar o Elo como qualquer lobisomem.

"Ou seja" pensou o garoto "ninguém sabe de nada. Sou uma incógnita pior que Erin. Ela ao mesmo imagina o que esperar".

O garoto deu as costas aos pais, ignorando os chamados por seu nome. Ele precisava sair daquele lugar, tinha que pensar em tudo aquilo, do contrário achava que ficaria louco. Andou sem rumo por horas a fio, parando ao chegar num motel barato, alugou um quarto e ficou lá por tantos dias quanto julgou necessário. 

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