CAIR DA NOITE

Capítulo 2 - O julgamento

Alison Duarte

Eram dias confusos, pensando bem o certo seria: eram meses confusos. Minha vida tinha dado um giro de 360º, sem mais nem menos. Meu namorado de três anos e suposto Elo, por um acaso de destino tinha encontrado o verdadeiro Elo, o que o levou a terminar nosso namoro. Algumas vezes, egoistamente, eu tinha desejado nunca ter ido naquela festa, na noite em que ele encontrou o amor verdadeiro, queria nunca ter insistido que ele fosse.

Estúpida. Foi minha palavra favorita por alguns dias. Depois, observando de longe a empolgação dele e mais tarde toda a felicidade que ele parecia sentir estando ao lado dela me fizeram perceber que não me arrependia realmente de ter ido a tal festa. Ele estava mesmo feliz, de um jeito, agora era possível notar, que eu jamais seria capaz de fazer.

Além disso, era impossível ficar com raiva de Adam, ele sempre foi meu melhor amigo, desde a infância... Aos poucos fomos reconstruindo aquela amizade, voltando ao ponto anterior ao inicio de nosso namoro. Ainda era difícil, mais por minha conta. Ainda o amava, mas sabia que ele não sentia mais a mesma coisa por mim.

Quanto a Erin, bem, não tinha como odiá-la, primeiro porque ela não tinha culpa de nada, segundo porque era uma pessoa maravilhosa e estava passando por um momento difícil ao descobrir que era um lobisomem também.

Tínhamos nós encontrado apenas uma vez, mesmo assim eu já tinha ouvido falar dela, coisas agradáveis. Sabia que poderíamos ser ótimas amigas se eu me aproximasse. E eu queria isso, só que ainda não estava pronta. Vê-los juntos ainda tinha o poder de me magoar.

Andava pensando bastante sobre isso, criar uma amizade com ela, quando soube de seu sequestro. Era terrível, e só pude pensar em como Adam estaria sofrendo naquele momento.

Infelizmente aquilo não tinha sido a única coisa horrível que aconteceu na última noite de lua cheia. Astória, nosso lar, foi atacada por vampiros, com a ajuda de um irmão lobisomem. Agora me sentia estranha estando em pé no centro da Praça de Astória esperando o inicio do julgamento do traidor do nosso clã.

A lua brilhava, auxiliando os postes de luz a iluminarem o espaço. Grande parte da matilha estava reunida ali esperando o desenrolar do julgamento, o clima era de pesar, todos calados diante o que sabiam que ocorreria aquela noite.

Olhei mais uma vez para Adam que estava ao meu lado. Nenhum de nós tinha permissão para estar ausente, como filhos primogênitos do alfa e do beta era nossa obrigação estarmos presentes em momentos assim. Tal como eu, sabia que ele odiava o modo de julgar um traidor, mas não podia fazer nada, além disso, podíamos até achar a tradição cruel e arcaica, só que também tínhamos ciência do que ela representava um meio de salvação, a vida como paria era pior que a morte.

Adam tinha o olhar voltado para um ponto distante, os músculos estavam tensos na posição que assumia, altivo como um sucessor deveria ser. Aquilo era uma fachada, o conhecia bem o suficiente para saber disso, por dentro ele estava um caco. As olheiras indicavam noites sem dormir bem. Antes de decidir se puxava ou não assunto com ele agora, uma nova sensação tomou conta dos meus sentidos, muito semelhante da que sentia quando era observada, só que com uma intensidade maior.

Olhei buscando o foco de minha inquietação. Parei quando cheguei ao homem que me observava, curiosa respirei fundo tentando distinguir o cheiro dele, havia muitos cheiros naquele lugar, cada pessoa tem seu próprio perfume natural, contudo não foi difícil distinguir o dele, já que se sobrepunha a qualquer cheiro daquele lugar. Canela e alecrim.

Nossos olhares se cruzaram e assim ficaram: fixos. Os olhos dele tinha um tom castanho claro mais quente que o tom dos meus olhos, reluziam com interesse e contemplação. O rosto triangular sem barba destacava a beleza de seus traços. Era um homem bonito, seus lábios se curvaram até formar um pequeno sorriso de aprovação, meu coração acelerou com aquele simples gesto.