20 - Brasa infindável

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Dan/ Okin Amude

Eu via uma garota, seu rosto carregava uma tristeza. Ela me encarava como me conhecesse há muito tempo, como fizesse parte de mim. Não sei quem ela é, não sei seu nome, mas todo meu ser grita para encontrar ela. Um símbolo nos molda, vejo a agonia e a glória que a transparece. Um símbolo que apesar de todo meu conhecimento, não o conheço, não sei de onde se originou. Percebo que é algo novo, desenhando algo novo. Que mudará tudo, seremos farões, todos os seres verão quem ela é, sinto seu poder. A descendente... e no mesmo segundo que tudo começou, tudo se cessou. Uma luz com fogo queima tudo e se vai. A última coisa que escuto é sua voz sussurrando meu nome.
"- Adeus Dan..."
E como todo fim e começo, tudo se escorre e some na tênue linha da vida.

- Dan, acorda!! Ei, acorda!!!

Abro meus olhos com Steve em cima de mim, gritando meu nome. Kat do meu lado, todos pálidos e suando. Percebo que também estou, vejo que estava gritando enquanto dormia, não só gritando, mas também queimando tudo, minha blusa está rasgada e queimada, a cama também. Não era só um sonho... ou uma visão.
Minha língua está pesada e meu corpo todo dolorido.

- Graças aos deuses - exclama Kat, soltando uma lufada de ar.

Steve desaba ao seu lado, todos ofegantes.

- Eu a vi, e como tudo que não pode ser negado e esquecido - digo entre suspiros cortados

Os dois voltam o olhar para mim, aterrorizados, me levanto lentamente e me viro em direção a janela, ficando de costas para eles, e uma brisa gelada adentra o quarto. Sinto meus filhos de coração me observarem,
meus dois em comando. Consigo sentir a incredulidade deles, e sei exatamente o porquê.

- PUTA QUE PARIU, o que é isso? - Katherine diz espantada.

Vejo Steve observando de boca aberta, tentando decifrar ou ver qualquer lógica em tudo.

- O fogo que jamais se apaga, o que não pode ser quebrado, nem escrito. As luzes e as trevas, o começo e o fim. A tênue linha que não foi feita. A verdade escondida, a vida e a morte. O que não pode ser ocultado, nem roubado. É isto que está escrito, até onde consigo traduzir - digo solene.

Minha tia e minha prima surgem a porta, chocadas, piscando incrédulas ou sobre a marca pelo meu corpo ou pelo lençóis queimados e minha pele intacta. Apenas sorrio.

- Isso é bem mais complexo do que imaginávamos - diz Steve com um meio sorriso. - É impossível, ou quase, desvincular vocês dois...

Me volto para todos eles e solto um sorriso afiado
- Sim, é impossível, até porque eu me lembro. Eu me lembro de tudo - digo seriamente.

Vejo as peças se encaixando na cabeça de Kat e em seguida ela diz:
''- O que não pode ser roubado"

Todos encaram uns aos outros, minha tia e minha prima parada ao parapeito da porta, tensas e ainda sonolentas.

- Belo pijama - solta Steve se dirigindo a Kalenna

Kalenna apenas solta um grunhido e revira os olhos. Vejo que ela ainda segura uma longa adaga, logo sua mão começa a se afrouxar e ela fica a girando em círculos.

- Partimos antes do almoço, preciso pegar uma coisa antes - digo os observando.

- Para onde vamos? - indaga Steve

Me viro para ele e solto mais um sorriso perverso digo:
- Para a toca do Dragão.

Vejo a perplexidade em seus rostos, esperando, ou tentando desvendar o que quis dizer. A incredulidade começa brotar e vejo Kat abrindo a boca e em seguida fechando novamente.

Contos que jamais serão lidos (Livro I )Onde histórias criam vida. Descubra agora