Quem entrou foi o garoto o qual tinha visto na sala, sentado e entediado. Ele olhou para mim de um jeito meio tímido, e eu tinha uma expressão de indignação, surpresa e medo. Nunca tinha ficado a sós com um menino em um quarto. Tão pouco numa festa! Ele pareceu ler meus pensamentos, pois deu um sorriso que tranquilizou meu medo um pouco.
- Não é estranho pra você vir para uma festa e ficar em um quarto, sozinha? - ele disse, olhando o quarto todo. Seus olhos pousaram em algo, mas eu nem vi no quê, estava respondendo a pergunta.
- Eu não sabia que era esse tipo de festa, me puxaram para vir.
Depois eu percebi que eu não tinha falado aquilo. Eu não consegui falar, apenas imaginei eu falando. Fiquei zangada comigo mesma quando vi em quê seus olhos tinham parado. Ele pegou um violão que estava no canto do quarto.
- Acho que é do irmão da Raquel, esse quarto.
Eu não conseguia falar nada. Vez ou outra dava alguns sorrisos, que eram minúsculos também. Então ele começou a tocar no violão. Eu não sabia a música, mas era linda. Ele não cantou, portanto eu só ouvia a melodia. Eu ia abrir minha boca para falar algo como "você toca muito bem" ou qualquer outra coisa, para ele saber que eu conseguia falar. Ele estava sentado na cama também, quando a maçaneta abriu de novo. Era a Sofia. Ela entrou falando "Vamos vol.." e depois seus olhos bateram no garoto com o violão.
- Opa, bem.. Carol, a Raquel tá chamando todo mundo, só não me pergunte pra quê. - Sofia falou.
- Uhum. - eu ainda não conseguia falar uma palavra concreta. Parecia que meus lábios estavam colados com cola. Então eu me levantei, lancei um olhar para o garoto, ele olhava para o chão. Segui Sofia até a festa e Raquel tinha pegado o microfone, estava meio bêbada pelo que percebi, mas nem tanto. Estava falando umas coisas. Peguei a frase pela metade.
- ... e também agradecer por terem vindo a essa festa aqui. Vou propor que façamos o seguinte: vem todo mundo aqui pra o meio e vamos dançaaar! - ela falou, tombando para o lado, uma amiga a segurou. Começou a tocar uma música eletrônica bem alto, que eu não conhecia. Eu pensei "sem chances. Não vou dançar. Sou esquelética demais pra isso"
Procurei com os olhos o garoto que havia "conhecido", mas ele não estava em lugar algum. Sentei na cadeira que ele estava antes e balancei o pé direito também. Fiquei admirando o chão escuro piscar de roxo para amarelo. Comecei a pensar em ir pra casa, aquilo estava entediante demais. Ouvi Raquel gritar mais uma vez no microfone.
- Agora peguem seus pares e vamos dançar música lenta!
Olhei finalmente para cima. Sofia estava dançando com um cara dos olhos azuis, mas acho que ela já o conhecia, porque ainda estava triste demais por Pedro para arriscar de conhecer outro garoto. Eu me perguntei se Sofia já teria notado a presença de Camila ali. Mesmo assim, achei que não era problema meu e voltei a olhar para baixo. Até que surgiu um outro par de pés, com um sapato all star azul. Olhei para cima e vi que era aquele garoto. Eu me perguntei "mas que por.." e ele disse:
- Você não gosta muito de se introzar, né?
- Acho que não.. - eu disse, voltando os olhos para os meus pés.
- Ahá, ela fala! - ele disse, sorrindo. - sabe dançar?
- Nunca precisei aprender. - respondi, olhando para seus olhos em expressão de desafio.
- Vamos lá, eu te ajudo. - ele falou me puxando para fora da cadeira. Assim que começamos a dar os primeiros passos, ouvimos uma discursão.
Todos na festa voltaram os olhos para Camila e Sofia. As duas discutiam, a berros, sobre o Pedro.
- Aaaah, sua vaca promíscua! Pare de se meter na felicidade dos outros! - Sofia gritava de um lado, de forma que sua voz agora era mais alta do que a música.
- Não tenho culpa se o Pedroca veio me procurar. Ah, coitadinho. Estava tão mal com você... - Camila falava, em tom neutro. O que não era problema, porque agora o DJ já havia parado de tocar para ouvir também.
- Como você ousa mentir desse jeito?! Ele me amava! Ele jurou que me amava! - Sofia gritava, começando a chorar.
- Parece que ele não é tão fiel às suas promeças, ein...
Eu não esperei mais. Corri até onde Sofia estava, dei um abraço forte nela. Ela desabou no meu ombro.
- Ah, vai se danar! - eu gritei para a Camila.
Fui com a Sofia até o quarto que estava vazio. Ela chorou por mais uns 3 minutos.
- Você quer ir pra casa? - eu perguntei baixinho. Ela fez que sim com a cabeça. Dei mais um abraço nela e fomos levantando, quando a porta se abriu. Era a Raquel.
- Oww, Sofia! Não liga não. Eu sei que ela tá mentindo. Eu conheço a Camila, adora uma briga - ela falou delicadamente. - vou chamar um táxi para cá. Bebe essa água aqui. - ela deu o copo que carregava para a Sofia.
A gente saiu do quarto e foi se dirigindo à porta. Eu olhei para trás, vi os olhos vazios e castanhos do garoto que eu nem sabia o nome. Eu pensei "que festa ein".
Saímos e fomos para o elevador. Eu vi que meu cabelo estava todo assanhado, mesmo sem eu ter dançado. E percebi que ainda estava com o casaco verde escuro por cima do vestido. Tirei ele rapidamente me sentindo uma tonta e olhei para a Sofia. Sua maquiagem estava toda borrada e ela ainda soluçava.
Chegando em casa, liguei para os pais da Sofia dizendo que ela tinha pegado no sono e que eu achava que seria melhor ela dormir aqui.
- Tudo bem, tudo bem. Vou passar aí para deixar a bolsa dela e os materiais.
Sofia estava deitada no sofá comendo batatinhas, assistindo south park.
- Quer que eu peça uma pizza ou algo assim?
- Por mim uma de mussarela cairia bem.
Pedi a pizza e sentei na beirada do sofá, olhando para ela, como que esperando ela falar algo sobre a festa. Ela não falou nada.
- Sofia... você quer conversar sobre o que aconteceu na festa? - eu perguntei com cuidado.
- Bem.. ok. Diz uma coisa, quem era aquele esquisito com você no quarto do Thomas? - ela perguntou, tirando os olhos da TV e olhando para mim.
- Eu queria poder responder a isso. Ele não se apresentou. Conversamos umas coisas bestas mas eu mal falei.
- Hum.. Certo.
- Minha vez agora. O que fez você começar a discutir com a Camila daquele jeito?
- Eu tava dançando com o Tadeu, meu amigo há muito tempo, e ela esbarrou propocitalmente em mim, fazendo com que eu caísse em cima de uma garota.
- Que nojo, cara. Como é que a pessoa é mal amada a esse ponto? - perguntei, repulsa.
A campainha tocou, Sofia fingiu estar dormindo e eu fui abrir a porta.
- Relaxa, é a pizza. - eu falei para Sofia enquanto olhava no olho mágico. Comemos e tomamos um suco que tinha sobrado do almoço e depois meus pais chegaram do trabalho.
- Olá, Sofia - disse meu pai, apertando a mão dela.
Minha mãe passou direto para o quarto, mirando o teto, como se fosse superior ao mundo todo.
- Por que vocês estão com essas roupas de sair? - ele perguntou desconfiado.
Olhei para Sofia, ela parecia tão sem resposta quanto eu.
- Bem.. nós..
- Estávamos tirando fotos - disse Sofia, calmamente. - esquecemos de trocar as roupas.
- Ah sim, entendo. Bom, vou tomar um banho e dormir. Vocês deveriam fazer o mesmo. - ele me lançou um olhar que dizia "Vá! Agora!" - Sofia, sua mãe me entregou essa bolsa aqui, ela estava lá fora.
- Obrigada, tio. - Sofia disse, e apanhou a bolsa.
Eu puxei ela para o quarto, tomamos banho e fomos dormir em silêncio. Amanhã seria um novo dia.
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Buscando razões
RomanceCarol é uma adolescente um tanto tímida, que tem amigos carismáticos. Em seu último ano na escola, ela conhece alguém que mexe com seus sentimentos e visão de mundo e descobre coisas que ela nunca imaginara. Seu mundo vira de cabeça para baixo. Será...