Depois de uns 5 minutos encarando um ao outro, nós dois decidimos ouvir a explicação do professor sobre o texto.
- ... e é claro que naquela época os cavaleiros tinham suas armaduras, brilhantes e que os protegiam..
- FRANCISCA! - eu gritei, mirando o teto. Todos me olharam e eu continuei, sem perceber que estava em aula. - Era esse o nome da Lula Gigante! Sofia, era Francisca! Meu Deus, como eu não lembrei antes, ela brilhava, brilhava no escuro e..
- Sr. Rachelly, pode se retirar da minha aula.
- O-o que? - falei, percebendo agora o ocorrido e me sentindo estúpida.
- Carol Rachelly Silva, - ele disse, consultando uma tabela. - eu disse pode se retirar da minha aula.
Sofia tampava a boca com as mãos, mas ainda sim, todos puderam ouvir seus risos no meio do silêncio da sala.
- Sofia? - disse o professor.
- Sim?
- Gostaria de se retirar também?
- É um convite atentador mas não. - ela respondeu em tom formal.
- Posso aceitar o convite no lugar dela? - perguntou uma voz no fundo da sala. Eu virei e vi que era Luís.
- Pode sim. Aliás, quem quiser se retirar dessa aula pode se levantar e sair agora mesmo.
Raquel levantou da cadeira e se dirigiu a porta. Mas, no meio do caminho, desviou para a lixeira e cuspiu seu chiclete lá. Depois, tornou a se sentar. Eu ri e alguns da sala também.
- Carol, por gentileza, saia logo. Acompanhada pelo seu coleguinha novato, o sr...?
- Luís, obrigado. - ele disse.
Eu me levantei e sai da sala. Logo atrás de mim vinha o Luís, apressando o passo pra me alcançar.
- Por que você fez isso? - eu disse.
- Isso o que?
- Pedir pra se retirar da sala.
- Ah. Tenho certeza que ficar na secretaria com você vai ser mais agradável do que ficar naquela sala ouvindo o professor. - ele disse, parando de andar e olhando pra mim, com um sorriso aberto no rosto. Eu parei e o olhei, como que o avaliando. Ele começou a se dirigir ao lugar onde eu tinha parado. Então eu comecei a encarar aqueles olhos castanhos mais uma vez. Eles iam se aproximando dos meus. Ou seriam os meus que iam se aproximando? Confuso. Eu acordei, estávamos há uns 5 centímetros de distância um do outro. Eu podia sentir sua respiração, quando..
- Por que vocês dois não estão na sala de aula? - Nísia, a coordenadora, se materializou no fim do corredor dentro de segundos. - E o que vocês estão fazendo aí?
Eu rapidamente me distanciei do Luís e andei até onde ela estava. Ele ficou parado, imóvel. Olhando para Nísia, agora seus olhos haviam perdido o brilho.
- O professor me tirou da sala porque eu tinha lembrado o nome da lula gigante que piscava dentro do mar, e eu tinha até galopado nela. Era Francisca. O nome.
- Carol, meu amor, você está sob o efeito de drogas?
- O que?! - perguntou Luís, parecendo indignado.
- Carol..?
- Girafa.
Luís começou a se contorcer, rindo alto. Eu fiquei me perguntando por que tinha dito "girafa" se não estava sob o efeito de drogas e nísia me encarava, preocupada e com a mão na boca. De repente, o sinal tocou e era o intervalo. Nísia correu para a secretaria, para pegar um termômetro, conclui, e eu puxei o Luís pelo braço correndo.
- Vamos, antes que ela volte.
- P-pra onde?! - ele falou, sem obter resposta, tentando me acompanhar enquanto eu corria.
Chegamos no parquinho da escola, eu parei e ele continuou segurando minhas mãos. Pela terceira vez, eu vi seu rosto se aproximar do meu, aqueles olhos calmos olhando no fundo dos meus. Tentei buscar algo neles. Algo que me desse apenas uma dica de como ele é. Eu mal o conheço. Eu mal o conheço. É, eu devo estar louca. Agora menos de dois centímetros separavam nossos rostos. E dessa vez não teria professor de história. Dessa vez não teria Nísia. Ele deu um sorriso e me beijou.
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Buscando razões
RomansCarol é uma adolescente um tanto tímida, que tem amigos carismáticos. Em seu último ano na escola, ela conhece alguém que mexe com seus sentimentos e visão de mundo e descobre coisas que ela nunca imaginara. Seu mundo vira de cabeça para baixo. Será...