Capítulo I - Proposta

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Honestamente, eu não esperava me casar com o Sasuke.

Depois da guerra, todos traçaram o seu próprio caminho em paralelo com a reconstrução das vilas. Alguns se dedicaram totalmente para isso, outros resolveram partir, aproveitar a vida que quase perderam. Muitos se estabeleceram, se casaram, ou simplesmente se dedicaram completamente à vocação que escolheram. Eu fui desses casos. Mergulhei inteiramente em trabalho para recuperar o que foi perdido, inclusive, dentro de mim.

Passo boa parte do meu dia no Hospital de Konoha auxiliando as enfermeiras da Ala-Verde com os pacientes estáveis, em sua maioria, crianças e idosos gripados. Antigamente, eu trabalhava na Ala-Vermelha de atendimentos emergenciais e graves, mas nos últimos anos, aquele setor não costumava ser muito movimentado, felizmente.

Eu também ajudava como podia na organização das outras alas ou no escritório com Shizune, batendo os controles do hospital, validando orçamentos, estoque, plantões... Às vezes até fazia alguns estudos e tinha pacientes fixos. Adorava aquele trabalho. Era algo do qual me orgulhava de ter escolhido. A responsabilidade podia ser assustadora, mas a felicidade era maior. Uma bomba de serotonina para uma mente que andava vazia demais.

Já havia conquistado um prestígio na área da medicina, ainda mais depois da Quarta Grande Guerra. Entretanto, ainda sentia uma resistência no Hospital, principalmente vinda dos médicos mais velhos ou que não eram iryo-nin como eu. Afinal, a função que eu tinha aos vinte anos geralmente era atingida aos quarenta.

Sabia que especulavam que eu, por ser a pupila da Tsudade-sama, tinha privilégios acima das minhas habilidades, mesmo que ela tenha explicado que o cargo honorário havia sido uma bonificação pelo meu excelente desempenho em campo de batalha. A impressão que eu tinha era que eles achavam que o meu lugar só poderia ser lá, em meio à missões e guerras, agindo mais como kunoichi e menos como médica. Eu conseguia entendê-los, mas eu não queria isso.

Eu era feliz, se felicidade significasse paz. E eu tinha muita paz antes de tudo. Também tinha os meus amigos que eram muito presentes, especialmente depois que minha mãe ficou doente. Sempre que podíamos, nos encontrávamos para conversar, mesmo que nossas vidas fossem muito diferentes e os assuntos colidissem.

Quando as perguntas chegavam, nunca eram diferentes, "e o coração, como tá?". "Batendo", costumo responder, esperançosa de que ele não inventasse nenhuma outra função além daquela.

Era outono e Konoha já havia nos presenteado com temperaturas mais agradáveis. Não chovia, muito menos nevava, mas o frio que fazia parecia trincar a pele como se estivéssemos dentro de uma geladeira.

Depois do expediente cansativo numa terça-feira, saí um pouco além do meu horário. Como estava tarde para cozinhar, resolvi passar no Ichiraku e comer algo leve para não dormir de estômago vazio. Eles costumavam funcionar vinte e quatro horas depois que expandiram. Por mais que eu criticasse o Naruto por só comer aquilo, tinha que concordar que aquela comida nos salvava nas mais inusitadas situações e nos horários mais improváveis.

Já a alguns passos de distância da entrada, pude reconhecer o Sasuke sentado em um dos bancos do balcão. A surpresa ao encontrá-lo ali ficou estampada no meu rosto. Impossível de disfarçar. O tio Ichiraku, que me via chegar, riu de soslaio enquanto preparava algo na fritura.

Eu travava um conflito interno entre me aproximar ou sair como se nunca houvesse cogitado a ideia de parar ali para comer.

— Eu não mordo, Sakura — ele me notou.

Estremeci ao som de sua voz branda ao pronunciar meu nome. Ele sempre fazia questão de dizer o meu nome quando eu me esforçava para não pronunciar o dele. Parecia proposital.

Pilares de Areia [em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora