Capítulo II - Núpcias

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Outono

Tudo aconteceu muito rápido.

Nossa união não era um segredo, como também não era tema de fofoca da vila. Mesmo sendo discretos, algumas pessoas já tinham percebido que eu estava pegando outro caminho para casa que não era um atalho, era a alameda que seguia até os distritos dos clãs.

Nas primeiras semanas, eu ainda voltava do hospital sozinha, até o dia em que cheguei muito tarde em casa e Sasuke não gostou. Desde então, ele me busca quando não está em missão. Não era como se fosse meu namorado ou esposo me aguardando na saída, ansioso pelo meu retorno, era apenas o Sasuke, uma presença imponente e taciturna que me guiava de volta pra casa como se eu pudesse me perder no caminho.

O trajeto era silencioso. Eu o cumprimentava da forma mais cordial possível e ele saía na minha frente sem dizer uma palavra. Quando chegávamos em casa, não mudava muita coisa. Sasuke tomava banho enquanto eu jantava, e jantava enquanto eu tomava o meu banho.

Eu já o encontrava na cama quando terminava minha rotina, mas ele não ficava lá me esperando deitar também, e sim, tentando dormir. Eu me acomodava ao seu lado e lhe desejava um bom descanso. Como os cumprimentos à porta do hospital, raramente eu tinha resposta, então também me virava para o lado oposto e tentava dormir. Às vezes a ansiedade me deixava insone de tanto que pesava minha cabeça com dúvidas. O que eu estava fazendo ali mesmo?

Era uma vida dupla de desencontro e conversa muda. Fria e ressecada como aquele estranho outono, murcha de toda a suposta beleza da união entre um homem e uma mulher. Éramos uma farsa.


_._


Na primeira noite em que dividimos a cama, assim que me mudei para o Distrito Uchiha, eu me aprontei como uma noiva para a "noite de núpcias".

Tomei um banho prolongado com essências aromáticas, penteei os cabelos e vesti uma camisola branca de seda. Antes de abrir a porta, eu estava rubra de vergonha. Sasuke era meu marido, finalmente. Teríamos nosso primeiro contato íntimo. A expectativa se mesclava com a aflição pelo desconhecido.

Por sorte ou azar, encontrei o quarto vazio e não tive coragem de procurá-lo pela casa e chamá-lo para se deitar, pois já passavam das onze. Me sentei na beirada da cama e esperei que ele viesse ao meu encontro enquanto passava creme nas pernas com uma concentração exagerada, para não dizer falsa.

Finalmente ele apareceu. Notei-o encostado no batente da porta, sem a armadura da ANBU, com os braços enfaixados e uma calça fina de cintura baixa. Me informou as horas depois de prolongar o olhar sobre mim, me analisando. Estava tarde, ele quis dizer, eu não devia estar acordada. Ele também não deveria.

Dei os ombros e coloquei o pote de creme no aparador da cama e me deitei olhando de soslaio para o seu rosto. Ele apagou a luz e fechou a porta do quarto no mesmo momento em que fechei meus olhos. Meu coração errava as batidas no meu peito: medo, ansiedade, excitação e constrangimento. As minhas mãos ficaram trêmulas e suadas, pegajosas de creme; minha mente a todo vapor quando o lado oposto da cama afundou com o peso do corpo dele. Estávamos mais próximos e íntimos do que nunca estivemos.

Ele se mexeu um pouco antes de se acomodar. Depois do silêncio, não houve mais nada. Virei para observá-lo e o vi deitado de barriga para cima com o antebraço sobre os olhos, seu peito nu subia e descia com uma calma admirável, enquanto ao seu lado, meu coração estava prestes a explodir.

Lembro que adormeci com a sua imagem sonolenta. Levei aos sonhos o meu desejo frustrado de ser tocada por ele e carreguei isso comigo por dias.

No dia seguinte, acordei cedo e preparei o café da manhã do jeito que ele gostava. Lavei a louça acumulada do dia anterior e aprontei seu uniforme. Ele surgiu pouco depois deixando respingos do seu cabelo molhado pelo assoalho. Já anotava mentalmente que ele gostava de andar descalço e sem camiseta, que deixava o cabelo secar naturalmente e usava sabonetes sem perfume. Coisas bobas, mas que para uma "recém-casada", eram informações cruciais para impressionar aquele tipo de marido.

Pilares de Areia [em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora