Capítulo III - Convite

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Inverno

Sasuke aprendeu a ceder muitos de seus caprichos e eu aprendi a aceitar o restante imutável deles.

Estávamos morando juntos há quase meio ano e nesse tempo todo evoluímos o bastante para termos uma relação amena. Conversávamos regularmente, embora o assunto fosse breve; sempre sobre o trabalho e as despesas da casa.

Naquele sábado, a vila inteira estava eufórica, pois logo seria o Festival de Inverno. Aldeões já decoravam as ruas, as mulheres lotavam as casas de costura em busca do kimono perfeito para a noite de fogos de artifício. Eu não fazia parte da maioria massiva, afinal, as chances de eu ir à festa eram remotas. Mesmo assim, os nossos amigos celebravam a boa colheita, a melhor dos últimos anos.

Depois da guerra, era comum haver três ou quatro convites de almoço ou jantar sob a porta, convites que Sasuke não hesitava em descartar na minha ausência. As pessoas adotaram um estilo de vida agitado, beirando ao hedonismo. Qualquer acontecimento era motivo de festa, celebravam diariamente a nova era de paz que parecia ser duradoura.

Sasuke ainda estava tomando banho quando encontrei alguns convites intactos na lixeira da cozinha, uns de casamento, outros de batismo, e o mais interessante que era da Ceia de Nomeação do Clã Hyuuga.

Corri os olhos pelo convite absorvendo pouco da descrição pomposa do evento que prometia ser grandioso, já que há anos a sucessão do líder do clã tem sido alvo de discussões e cobranças por Hiashi estar tempo demais no cargo e pelos herdeiros diretos não se posicionarem sobre isso. Sabia pouco sobre o caso e sobre as normas do clã Hyuuga, contudo, para uma mulher liderar, ela precisaria casar-se com um membro da sua mesma linhagem assim que atingisse a maioridade.

Hinata recusava o convite com veemência por razões óbvias e Hanabi ainda não completara seus vinte anos. Com a indisponibilidade das duas herdeiras principais, a "coroa" sobraria para o primogênito da segunda ramificação do Clã Hyuuga, este seria Neji, caso tivesse sobrevivido à guerra.

Acompanhei de perto as cobranças de Naruto à Hiashi, ele vive com com receio de que clãs inimigos aproveitassem o enfraquecimento dos Hyuuga para planejar um ataque por conta de território. Como há meses venho servindo apenas o Hospital, me desatualizei dessas pendências políticas de Naruto e seus aldeões.

— O que é isso? — eu estava tão envolvida nos meus devaneios que mal pude perceber a sua aproximação.

Chegou para o jantar como sempre: água escorrendo dos cabelos, pingando no assoalho que mais cedo eu tinha encerado. Aquilo me irritava profundamente, mas era mais uma das coisas que eu havia deixado pra lá, justamente para evitar intrigas.

— Uns convites que resgatei da lixeira. Estou aqui me perguntando quem os jogaria no lixo sem ao menos abri-los antes — o olhei com ironia.

— Não sei por que ainda insistem em me enviar isso.

— Talvez porque sua presença seja importante.

— Tanto faz, jogue fora — insistiu, indo sentar-se à mesa.

A tampa da lixeira já estava aberta quando parei e me perguntei por que deveria abrir mão daquilo também.

Contrariando o jovem ranzinza, sentei-me à mesa com o convite dos Hyuuga ao meu lado. Sasuke revirou os olhos, mas não disse nada. A comida já estava em nossos pratos quando decidi que estava na hora de reivindicar isto também.

— Posso até concordar que os outros convites são tão desinteressantes quanto deslocados, já que mal conhecemos os remetentes, mas este aqui — balancei no ar — é uma exceção — o garanti com um sorriso.

Pilares de Areia [em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora