00. o sol e suas flores.

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Desde pequeno me disseram que garotos só poderiam amar garotas. Que o amor era bobo, e de facto não existia. Que os adolescentes somente criavam uma linha tênue entre o tesão e desejo momentâneo; fazendo com que a saliva e carinho trocados fossem fruto da nossa imaginação.

Mas mesmo eu sendo somente uma criança de seis anos, um sentimento de discordância sempre martelou o meu peito. E sempre que possível, a minha mão se pousava no lugar do meu coração, me fazendo pensar no quão aquilo parecia errado.

E de facto era pois veja o homem que eu sou agora.

Agora eu estava apaixonado e não era por nenhuma mulher. Eu era lindo e tinha um corpo maravilhoso, e gostar de um cara do mesmo sexo que eu, não me fez menos másculo. Fazia cafuné sempre que terminava uma transa, e sempre que podia, preparava um belo café da manhã e levava até à cama do meu namorado.

Eu tracei a minha própria linha de vida, mas desta vez era sobre o que estava certo e errado.

E melhor, não existia, porque eu definitivamente amava Minhyuk com todos os pedaços que me construíam. Estava tudo bem, arriscaria até em chamar o amor de algo perfeito.

Se sentir desejado era bom, mas pertencer na vida de alguém que tambem pertence à sua, ambos compartilhando do mesmo sentimento todos os dias sem falhar, era incrível.

Eu nunca procurei relacionamentos perfeitos para mim. Eu procurava um homem que brigasse comigo de vez em quando, mas que conversasse comigo depois disso. Procurava alguém que se abrisse comigo durante um momento difícil, e que ambos pensassemos numa solução para ajudar. Procurava confiança, pois essa era a base de um relacionamento saudável. Procurava quem me deixasse encharcar a sua blusa com todas as lágrimas possíveis que escapassem dos meus olhos, procurava todo o tipo de ombro para puder descansar a minha cabeça depois de um longo e exaustivo dia. Procurava fogo durante o sexo, mas procurava o afecto depois dele. Procurava alguém que me avisasse sobre a erva no meu dente, alguém que não me enxergasse como uma máquina de qualidades, mas que apontasse os meus defeitos para futuramente os melhorar. E era isso, eu não esperava nenhum cavalo branco ou algum tipo de diamante puro.

Queria o simples, porque eu era simples também.

Namorar com Minhyuk me fez ter essa sensação de preenchimento diário. Com ele eu poderia ser o próprio Jeon Jungkook, mesmo que ele não fizesse metade das coisas na minha 'lista' de relacionamentos inacreditáveis. Mas estava tudo bem outra vez, porque ninguem sempre tem o que tanto almeja.

Os meus pais não tiveram uma reação boa, para ser franco eles passaram a me repugnar e a ter nojo de mim. Eu me descobri gay aos catorze anos, e eu pensei que quanto mais jovem admitisse algo assim, mais compreensiveis eles fossem comigo. Mas não foi isso que aconteceu. Eles disseram que eu era jovem demais e estava pensando em besteira, por isso eu somente me entristeci. Mas quando resolvi admitir denovo, dessa vez com vinte, eles me bateram muito e eu não perdi tempo em sair de Busan.

Passei a viver num mini- apartamento com a minha tia Jihyun, e todas as noites por um ano e meio, eu chorei na barriga dela. Mas estou grato por isso, porque ela me apoiou mesmo sabendo da minha situação. Me alimentou e arrumou o meu quarto. E estava tudo bem.

E foi numa manhã de sábado, onde a brisa refrescante de um começo de primavera se fez presente, que eu cheguei na etapa das coisas ruins que nunca pensei que viriam para o meu lado. Dos pesadelos que trancava na minha garganta para poder engolir e despejar futuramente.

Minhyuk estava beijando um homem, mas um homem que não era eu. E a sensação de ter um coração despedaçado e um psicológico destruído era mais difícil do que eu pensei que fosse. Doía pra caralho.

E infelizmente eu não poderia encerrar com um "estava tudo bem", porque sabia que era mentira.

o sol e os seus taehyung's. [taekook]Onde histórias criam vida. Descubra agora