Capítulo 2

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Annabelle acompanhou o caminho que ele fez debaixo de chuva até a loja de conveniência do posto lamentando por, apesar de ser tão prevenida, estar sem uma sombrinha para emprestar ao amigo. Observando o local com mais atenção, ela deduziu o motivo mais provável para ele não estar no mapa.

As bombas de combustível estavam com vários pontos de ferrugem e o mostrador exibia uma moeda diferente da corrente. Até o estado da própria loja de conveniência, com as vitrines muito sujas, iluminada por lâmpadas amarelas e poucos produtos em exposição, dava sinais de que poucas pessoas paravam por ali. A mulher ainda estava observando a deterioração do posto quando Felipe entrou no carro.

— O cara lá dentro disse que tem um daqueles hotéis para viajantes aqui perto; Rosa do Deserto — declarou ele tentando se livrar da água que escorria pelo seu rosto. — Segundo ele, a casa principal era uma fazenda e os cômodos anexos foram convertidos em suíte para pernoite ou algo assim. Sem refeições ou qualquer outro atrativo. Só camas e banheiros.

— Parece o suficiente para mim. — Ela pegou uma toalha de mão na sua mochila no banco de trás da cabine dupla da picape e entregou a Felipe para que ele pudesse secar pelo menos o rosto. — E onde estamos?

— Riacho Encantado, conhece?

— Nunca ouvi falar.

— Bom, de qualquer forma, a gente passa a noite por aqui e assim que amanhecer, voltamos para Juiz de Fora. — Felipe devolveu a toalha para Annabelle.

— Vou mandar uma mensagem para o seu pai explicando o que está acontecendo.

Enquanto a mulher digitava no aplicativo de mensagens do celular, admirada por ainda haver sinal da operadora, o homem ligou o carro e seguiu as coordenadas que recebeu na loja do posto.

Um pouco mais à frente na rodovia, Felipe visualizou com um pouco de dificuldade a entrada pela qual deveria seguir. Ele achou estranho o ponto de referência ser um lampião velho e enferrujado sobre um toco de madeira, e chegou a duvidar que fosse conseguir visualizar, mas assim que o encontrou sentiu segurança de que iria encontrar o hotel.

O chão estava coberto por cascalho, o que garantiu uma viagem sem derrapagem, mas não evitou que o Fiat Strada sacolejasse muito exigindo o máximo de seus amortecedores para garantir o mínimo de conforto aos passageiros. Para completar, galhos de árvores caíam a todo o momento sobre o carro dando a impressão que a tempestade agora era de granizo.

Annabelle prendeu a respiração quando eles precisaram passar em cima de uma pequena ponte de madeira que rangeu com o peso do veículo, mas aguentou firme. Felizmente essa pequena aventura acabou rápido e em menos de 15 minutos eles estavam entrando em um pátio amplo com uma árvore grande e alta de copa larga no meio. Apesar de a chuva continuar intensa, a dupla sentiu que o pior já havia passado.

As construções em volta deles seguiam o mesmo padrão, com uma janela e uma porta, e estavam enfileiradas umas ao lado das outras, com uma varanda compartilhada na frente formando um semicírculo que convergia para uma casa muito maior e com uma escada de três degraus na frente da porta. Foi na direção dela que Felipe dirigiu.

Dessa vez os dois desceram do carro e correram para tentar não se molhar muito. Enquanto sacudiam as roupas sob a proteção da beirada do telhado, já que a construção maior interrompia a varanda. Os dois sorriram ao notar a placa onde se lia: "recepção" e perceberem que estavam no lugar certo.

— Boa noite — disse Felipe para chamar a atenção da mulher que lia um pequeno livro de salmos, sentada atrás do balcão de madeira. — Nós gostaríamos de alugar dois quartos para passar a noite.

Os móveis que compunham a decoração tinham estilo antigo, ou eram realmente de décadas passadas, tudo de madeira escura e maciça. Do balcão na frente deles, ao painel com ganchos para as chaves dos quartos na parede à direita da mulher, a cadeira onde ela estava sentada e a poltrona atrás deles.

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