Capítulo 5

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Além do teto roçando em seus cabelos, a escuridão que não a permitia ver para onde estava indo, o chão do túnel estava apenas escavado na terra, sem nenhuma pavimentação e as pedrinhas soltas a feriam cada vez mais. Há muito tempo Annabelle estava ignorando a dor, mas a provação cada vez maior a fazia temer a hora que seu corpo não suportaria continuar.

Não era apenas a dor física, seu lado emocional estava abalado o suficiente para fazê-la duvidar de que chegaria a algum lugar do qual pudesse sair, ou pior, que alguém poderia entrar no porão e fechar a passagem a deixando presa. A extensão do túnel estava dando a ela a impressão de que estava apenas trocando uma cela por outra de condições piores da qual jamais se livraria. Para conter a vontade de chorar, Annabelle se concentrou em percorrer o trajeto o mais rápido que conseguia para se livrar de vez da incerteza.

Quando a luz fraca apareceu à sua frente, o coração da mulher acelerou mais uma vez e qualquer dor passou as ser completamente ignorada. O caminho estava cada vez mais irregular e agora das paredes saíam raízes pretas emaranhadas como dedos na terra avermelhada. Assim que teve mais espaço, Annabelle levantou o dorso, mas voltou a se abaixar ao perceber que não estava sozinha. A jovem que a assustou horas mais cedo parada ao lado do carro estava na câmara escavada no solo na companhia de outra mulher.

Annabelle aproveitou as raízes que saíam das paredes para se camuflar e tentar descobrir o que estava acontecendo. Se deslocando abaixada, tomando cuidado para não ser vista, ela conseguiu ver uma mesa de madeira cheia de ingredientes em volta de uma tigela de barro na frente da desconhecida.

— Quando você vai terminar com isso, Antônia? — perguntou a jovem com marcas de maus tratos.

— Não tenha pressa, Joana — respondeu a que cuidava dos ingredientes dentro da tigela de barro. — O feitiço precisa ser bem executado para funcionar.

— A luz está quase apagando...

Antônia olhou para a origem da fraca iluminação que preenchia o cômodo e imediatamente Annabelle reconheceu o último objeto que viu antes de ser nocauteada. Não tinha motivos para duvidar que aquela era a mesma mulher que estava segurando o lampião no meio da multidão.

— Já conferiu a temperatura do homem para ver se é ele mesmo quem precisamos no ritual?

— Várias vezes — informou Joana. — A mulher não foi idiota o suficiente para beber a água de um lugar que ela não conhece.

— Não se aborreça, um é mais do que suficiente para manter a luz acesa pelos próximos 10 anos — garantiu Antônia.

Annabelle ficou chocada com a revelação de que Felipe realmente havia sido envenenado com a água da torneira.

Mas onde ele estava? — pensou a mulher. Se algum tipo de ritual estava sendo preparado, o amigo deveria estar por perto.

Ignorando as duas mulheres, mas tomando muito cuidado para não ser vista, ela caminhou se camuflando entre as raízes. Graças ao espaço pequeno, sua busca não demorou a apresentar resultados positivos e ela viu o amigo desacordado e amarrado a uma pequena distância de onde ela estava.

— Felipe... — sussurrou ela se aproximando e batendo de leve no rosto do homem sentado junto à parede de terra com os braços presos em um dos ramos grossos da raiz acima de sua cabeça.

Enquanto tocava no rosto dele para despertá-lo, Annabelle temeu as consequências que uma temperatura tão alta pudesse causar. Um gemido quase inaudível trouxe a ela a esperança de que seus esforços estavam surtindo efeito.

— Não se esforce para falar. — A mulher se apressou em dizer ao ouvido dele. — Precisamos sair daqui agora, mas não tem como voltar por onde eu vim, porque tem um porão trancado no final do caminho.

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