Capítulo 6

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Antônia se abaixou para tirar a mulher do caminho, recuperar a arma e usá-la contra seu alvo inicial, mas suas mãos passaram direto pelo cabo da adaga. A primeira reação dela foi tentar de novo e quando falhou mais uma vez, o desespero começou dominá-la. Antônia ainda tentou várias vezes recuperar o objeto cada vez com mais raiva, até que o som de altos estalos a interrompeu.

— Não..., — lamentou ela ao ver que a árvore onde a irmã havia sido morta e servira de portal para a volta dela não iria resistir ao fogo em suas raízes.

O tronco estava ficando avermelhado e as rachaduras se espalharam rapidamente através dele. Os moradores de Riacho Encantado começaram a sumir e a maldição finalmente foi quebrada com a queda da árvore que, apesar da chuva, ardeu em chamas.

Antônia foi a última a desaparecer com uma expressão de medo e raiva no rosto por alguém ter conseguido estragar seu esforço de tantos anos. No entanto, um último sorriso apareceu no rosto dela ao tomar consciência de que a mulher atingida pela adaga não havia se movido desde o ataque. Assim que ela desapareceu por completo, uma sensação de paz tomou conta do local.

— Belle, — chamou Felipe como se despertasse de um transe ao notar o corpo da amiga sobre o dele. — Por Deus, Annabelle! — Desesperado ele elevou o tronco acolhendo a amiga.

— Devagar, tá doendo — gemeu ela.

— Graças a Deus! — exclamou ele ignorando o pedido dela e abraçando a amiga que reclamou de novo. — Desculpa — pediu o homem afrouxando os braços e beijando a testa dela com carinho. — É que eu achei que você estava, eu achei... — Felipe não conseguia concluir a frase.

Annabelle levantou a cabeça e sorriu para o amigo sentindo os pingos da chuva que caía sobre os dois se acumularem em sua sobrancelha antes de escorrerem pelo rosto.

— Eu estou bem, — garantiu ela. — Quer dizer, quase.

— Consegue andar? — perguntou o homem.

— Sim, e você?

— Estava tudo muito confuso até a hora que eu acordei e vi você deitada em cima de mim.

Os dois olharam para a grande árvore não muito longe deles que se desfazia aos poucos antes de levantar e se virar na direção do quarto onde estavam hospedados. Ambos sem conseguir esperar nem mais um segundo para sair dali e Annabelle incomodada com uma dor nas costas um pouco abaixo do ombro direito. Levou um tempo até ela lembrar o que era aquilo.

— Tira isso das minhas costas! — gritou Annabelle assim que chegaram à varanda em frente à porta do quarto.

— Melhor deixar um médico fazer isso — recomendou Felipe percebendo ao que a amiga se referia.

— Se você não fizer isso eu mesma faço! — A mulher lutava contra a dor enquanto tentava alcançar a adaga. — Não quero essa coisa enfeitiçada enfiada em mim!

— Calma, me deixa ver como — pediu Felipe virando a amiga de costas para ele e fazendo uma careta. — Tem certeza?

— Anda logo com isso! — Annabelle começou a ficar com medo que o amigo fosse hesitar, mas ao senti-lo segurando seu ombro com firmeza e depois a pressão da mão dele sobre o ferimento acompanhado do som da adaga caindo no chão, ela ficou aliviada por ter se livrado daquele objeto.

Os dois olharam para a adaga esperando que algo acontecesse com ela, mas a lâmina continuou ali no chão, brilhando e coberta de sangue.

— O material dela deve ser resistente, e deve estar sendo mantida com cuidado desde que o ritual começou, — afirmou Annabelle certa de que nada iria acontecer. — Não tem por que ela se deteriorar como aquele povo.

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