Antônia se abaixou para tirar a mulher do caminho, recuperar a arma e usá-la contra seu alvo inicial, mas suas mãos passaram direto pelo cabo da adaga. A primeira reação dela foi tentar de novo e quando falhou mais uma vez, o desespero começou dominá-la. Antônia ainda tentou várias vezes recuperar o objeto cada vez com mais raiva, até que o som de altos estalos a interrompeu.
— Não..., — lamentou ela ao ver que a árvore onde a irmã havia sido morta e servira de portal para a volta dela não iria resistir ao fogo em suas raízes.
O tronco estava ficando avermelhado e as rachaduras se espalharam rapidamente através dele. Os moradores de Riacho Encantado começaram a sumir e a maldição finalmente foi quebrada com a queda da árvore que, apesar da chuva, ardeu em chamas.
Antônia foi a última a desaparecer com uma expressão de medo e raiva no rosto por alguém ter conseguido estragar seu esforço de tantos anos. No entanto, um último sorriso apareceu no rosto dela ao tomar consciência de que a mulher atingida pela adaga não havia se movido desde o ataque. Assim que ela desapareceu por completo, uma sensação de paz tomou conta do local.
— Belle, — chamou Felipe como se despertasse de um transe ao notar o corpo da amiga sobre o dele. — Por Deus, Annabelle! — Desesperado ele elevou o tronco acolhendo a amiga.
— Devagar, tá doendo — gemeu ela.
— Graças a Deus! — exclamou ele ignorando o pedido dela e abraçando a amiga que reclamou de novo. — Desculpa — pediu o homem afrouxando os braços e beijando a testa dela com carinho. — É que eu achei que você estava, eu achei... — Felipe não conseguia concluir a frase.
Annabelle levantou a cabeça e sorriu para o amigo sentindo os pingos da chuva que caía sobre os dois se acumularem em sua sobrancelha antes de escorrerem pelo rosto.
— Eu estou bem, — garantiu ela. — Quer dizer, quase.
— Consegue andar? — perguntou o homem.
— Sim, e você?
— Estava tudo muito confuso até a hora que eu acordei e vi você deitada em cima de mim.
Os dois olharam para a grande árvore não muito longe deles que se desfazia aos poucos antes de levantar e se virar na direção do quarto onde estavam hospedados. Ambos sem conseguir esperar nem mais um segundo para sair dali e Annabelle incomodada com uma dor nas costas um pouco abaixo do ombro direito. Levou um tempo até ela lembrar o que era aquilo.
— Tira isso das minhas costas! — gritou Annabelle assim que chegaram à varanda em frente à porta do quarto.
— Melhor deixar um médico fazer isso — recomendou Felipe percebendo ao que a amiga se referia.
— Se você não fizer isso eu mesma faço! — A mulher lutava contra a dor enquanto tentava alcançar a adaga. — Não quero essa coisa enfeitiçada enfiada em mim!
— Calma, me deixa ver como tá — pediu Felipe virando a amiga de costas para ele e fazendo uma careta. — Tem certeza?
— Anda logo com isso! — Annabelle começou a ficar com medo que o amigo fosse hesitar, mas ao senti-lo segurando seu ombro com firmeza e depois a pressão da mão dele sobre o ferimento acompanhado do som da adaga caindo no chão, ela ficou aliviada por ter se livrado daquele objeto.
Os dois olharam para a adaga esperando que algo acontecesse com ela, mas a lâmina continuou ali no chão, brilhando e coberta de sangue.
— O material dela deve ser resistente, e deve estar sendo mantida com cuidado desde que o ritual começou, — afirmou Annabelle certa de que nada iria acontecer. — Não tem por que ela se deteriorar como aquele povo.
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Escuridão
Mystery / ThrillerVocê acredita em lendas? E se uma maldição colocasse sua vida em risco? Annabelle e Felipe, fãs de filmes de terror, jamais imaginaram vivenciar aquilo que assistiam apenas nas telas. O que começou como uma viagem de final de semana nas proximidades...