Aquarela

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Se eu pudesse ver
As coisas como são
Nenhum detalhe passaria
Nenhum esforço seria vão.
Pois eu me renovaria
Na beleza do ser

Agora estou preso num quarto.
Suas paredes são brancas
Não há portas ou janelas.
A dor de não poder
Além delas ver
Me consome a alma.
Mas meu desejo e esperança
Me permitem viver
Ao mesmo tempo que me matam
Me cortam dentro do meu peito
Com as mais afiadas lâminas

Eu admiro coisas grandes
Eu admiro coisas pequenas
Eu amo o que é belo
Eu amo o que é trágico

Eu vivo a minha dor
Pois é melhor que morrer
Por uma paz que não posso ter
Ou por um prazer que me aprisiona
Mais do que já estou preso

Eu vivo o meu amor
Pois é a mais bela dor
O mais trágico fervor
A minha maior angústia
A cada mínimo alento

Me delicio com o sofrimento
Que não é apenas meu
Que se manifesta em arte
Com cores em toda parte
Com brados e cantos
Que libertam o ser
E o abre com mistério

E isso faço a mim
Faço meu sacrifício
E deste sangue imundo
Pinto minha aquarela

Coletânia Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora