↪A F R A I D↩

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Afraid

Esquecer Hoseok? Seria uma boa ideia?

Ficar livre da lembrança dolorosa e esmagadora do sorriso do maior, de todo e cada mísero dia, hora e segundo da amizade deles, de todas as brincadeiras e briguinhas e de todos os sentimentos que passaram pelo coração fraco do Min ao longo dos seis demorados e amados anos. Esquecer todos os momentos, todas as risadas, todos os sorrisos e lágrimas, todas as desavenças e conquistas que alcançaram juntos e todos os sentimentos presos dentro do corpo pálido de Min. Descartar todas as lembranças, sensações e experiências, aprendizagens e lições, tudo, na sua totalidade.

Esquecer que gosta de Hoseok.

Apagar todas as pétalas que saíram do seu corpo, todos os sentimentos e memórias parece um caminho tão mais convidativo. Era só esquecer uma pessoa que marcou a sua vida como nenhuma outra fez, em todos os sentidos. O sentimento não mais existiria e o Min não mais teria que viver na penumbra a esconder um sentimento forte e não correspondido enquanto é arrumado e deixado numa prateleira amigável quando o que queria era estar na suíte de luxo que era o amor do coração de Hoseok. Esqueceria o sofrimento por que tem passado por ele, esqueceria o amor que está sentindo, esqueceria as lágrimas derramadas em silêncio e os sorrisos falsos que acolheu nos últimos tempos.

Não morreria de amor.

Ó sim, mas existe sempre o maléfico porém que acompanha tudo.

A ideia de esquecer e apagar a existência de momentos tão felizes e importantes da sua vida é tão difícil de aceitar se a moeda de troca por uma liberdade vazia e sem valor. Como ousar esquecer da primeira vez que se viram? Ousar esquecer o facto deles terem se aproximado tão rapidamente como se já fossem amigos de longa data? Ou esquecer de como foram comparados a almas gêmeas que foram ligadas por obra do destino? Como esqueceria dos tempos difíceis em que se mantiveram juntos e unidos, sendo a força um do outro mútua e igualmente? Como esqueceria de tantos e mais tantos outros momentos importantes e preciosos guardados ternamente no seu coração?

Ó sim, seria uma decisão difícil.

Abdicar de uma felicidade passada e obter um alívio posterior ou manter essa felicidade mas viver sem esse alívio?

Lastimável.

Namjoon notou o silêncio do menor. Respirou fundo e suspirou, pousou a mão sobre o ombro magro do outro e apertou carinhosamente, tentando dar força ao outro, que precisava dela mais do que nunca naquele momento. O pálido levantou a cabeça e olhou pra o maior pela primeira vez depois de longos minutos de silêncio, olhos marejados e sofridos como os de um gatinho abandonado direcionados ao Kim, que nada mais soube fazer além de voltar a apertar o ombro do outro e assentir.

Yoongi odiou ter lembrado de que Hoseok encontrou um gatinho abandonado que lhe lembrou de si.

E novamente, o ciclo sem fim que é gostar de Hoseok volta a atuar sem falha.

-- Você tem tempo para pensar, Hyung. Pouco, mas tem. -- Kim tentou confortar o outro, então, esboçando um sorriso fraco e pesado para o menor que apenas assentiu.

Sentiu novamente a garganta coçar. Mas havia algo de diferente.

Yoongi sentiu medo.

E junto ao medo sentiu o estômago revirar e encolher-se, o corpo estremecer por inteiro enquanto o coração acelerava e o ritmo da respiração acompanhava as batidas desenfreadas do coração pequeno e assustado, em pânico. Mil e um alarmes de socorro ecoavam na cabeça do Min à medida que ele debruçava-se sobre si mesmo e apertava o pano da bermuda entre os dedos. Tinha a boca aberta, o tronco caído entre ambas as pernas afastadas e as mãos a apertar a própria carne junto ao tecido da bermuda à medida que sentia o abdômen magro contrair fortemente vez após vez como se tentasse expulsar um invasor indesejado.

Num ato de desespero o Min forçou mais as contrações na sua barriga e depositou todo o esforço que lhe era permitido para acabar logo com aquilo. Sentiu a saliva pingar de seu lábio inferior e escorrer pelo queixo, encolheu os dedos dos pés pequenos fazendo força em meio ao grosso bolo que sentia percorrer o seu interior rumo ao exterior. Hiperventilava um pouco à medida que sentia algo rastejar e percorrer o interior do seu corpo, sentiu algo macio e irritante atravessar-lhe a garganta e não demorou para tossir e logo sentir um bolo de pétalas com um pequeno caule sair da sua boca e parar ao chão.

Manteve os olhos fechados enquanto tossia compulsivamente e buscava desesperadamente por ar, sentia as pétalas roçarem a garganta dolorida e sensível ao escapulirem em meio a um solavanco e outro assim como a mão do outro ainda acariciando as suas costas.

Namjoon travou a respiração e suspirou o ar que sequer lembrou ter preso ao ver a cena horripilante e lastimável que acabou de acontecer diante de seus olhos. Engoliu em seco, os mirantes fitavam continuamente o bolo de pétalas amarelas presente no chão junto das variadas pétalas que o acompanhavam. A sua mão continuava a acariciar e esfregar as costas de Min inconscientemente mesmo que estivesse completamente chocado e sem palavras.

Aquilo tinha mesmo acontecido?

Namjoon sabia bem o que aquilo significava e estava horrorizado, preocupado com o outro.

Quando finalmente abriu os olhos estes estavam marejados. Sentia as finas lágrimas molharem as suas bochechas rosadas, a crise deixou o corpo pequeno esgotado e a respiração estava longe de voltar à normalidade, assim como as batidas cardíacas. Limpou a saliva que escorria do seu lábio e os olhos molhados com as costas da mão para então fitar o chão com a visão mais clara. Arregalou os olhos no mesmo momento que os pousou na confusão amarela aos seus pés e prendeu o ar dentro dos pulmões.

Era uma rosa, inteira, ali mesmo, entre os seus pés descalços que agora tinham pétalas amareladas sobre os mesmos.

Uma rosa amarela impecável e brilhante.

Lastimável, Min Yoongi.

-- Namjoon... -- chamou o amigo com a voz quebradiça, frágil como uma criança aterrorizada que chama pela mãe. Soluçou e sentiu duas pétalas abandonarem a sua garganta, cuspindo as mesmas em seguida para o chão.

Sentiu também quando as lágrimas nasceram e cobriram os globos oculares, agora grossas e pesadas, quentes, repletas de profunda tristeza e desamparo, puro medo. Apressou-se a levar as mãos à boca e cobrir a mesma enquanto mantinha os olhos na flor ali, no chão, a encará-lo impiedosa e a ditar o seu futuro dali a diante.

Ele nunca sentira as pétalas amarelas quando elas saíam. Agora sente-as muito bem e agora elas veem acompanhadas de rosas vistosas e gordas de cor amarelada.

Era o segundo estágio.

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Your Flowers ; YoonSeokOnde histórias criam vida. Descubra agora